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Estado de Minas CORONAVíRUS

Apreensão no mundo esportivo


postado em 03/03/2020 04:00

Japoneses usando máscara na estação de trem de Shinagawa: país tem 239 casos confirmados de infecção pelo coronavírus e 12 mortes até agora(foto: CHARLY TRIBALLEAU/AFp)
Japoneses usando máscara na estação de trem de Shinagawa: país tem 239 casos confirmados de infecção pelo coronavírus e 12 mortes até agora (foto: CHARLY TRIBALLEAU/AFp)


O coronavírus (COVID-19), que vem se espalhando e amedrontando o mundo, também ameaça os jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio. O Comitê Olímpico Internacional (COI) se reunirá hoje e amanhã na Suíça para discutir mais uma vez o assunto. Até agora, as datas de 24 de julho a 9 de agosto estão mantidas, mas pode haver restrições. A competição, em caso de continuação da epidemia, poderá ser realizada sem a presença de torcedores. Mas existem outras possibilidades. A primeira, o adiamento do evento, em princípio, para setembro. A segunda, transferir a competição para outro país – um político inglês disse que Londres pode receber os Jogos Olímpicos e tem todas as instalações prontas. E uma terceira opção, conversada entre membros do COI, mas ainda não proposta, seria a de que o evento se realizasse, mas com modalidades divididas em várias sedes, ou seja, cada competição aconteceria num lugar, como, por exemplo, o vôlei no Brasil, basquete nos EUA, natação no Canadá... Mas a questão financeira é um outro grande imbróglio. Seria a Olimpíada viável sem a venda de ingressos para as disputas esportivas? E os patrocinadores? E o investimento feito pelo Japão? Enquanto não há uma definição, o mundo esportivo segue apreensivo. Por aqui, a indefinição aflige e divide opiniões de atletas e técnicos nacionais e estrangeiros que defendem os clubes mineiros e têm grandes chances de participar dos Jogos. 

"Eu espero que, se não encontrarem uma forma de combater a epidemia, que adiem o evento" Lucarelli, jogador de vôlei do Taubaté e da Seleção Brasileira (foto: Euller Júnior/EM - 25/8/16)


Entre os atletas brasileiros, a apreensão é grande. Campeão olímpico de vôlei no Rio'2016, o ponteiro mineiro Lucarelli, do Taubaté-SP, entende que a Olimpíada sem a presença da torcida “não existe”. Para ele, a razão do esporte é a competição e, para que seja plena, tem de haver torcida. “Eu espero que, se não encontrarem uma forma de combater a epidemia, que adiem o evento. É melhor pra todo mundo. E essa ideia de dividir um esporte, um para cada país, é loucura. Será um fracasso. A Olimpíada viraria um punhado de campeonatos mundiais”.

Medalhistas como ele, a oposto Sheilla, e a meio de rede Thaísa, ambas do Minas, bicampeãs olímpicas – ouro em Pequim'2008 e Londres'2012, têm opiniões diferentes. A primeira, por exemplo, entende que a competição tem de acontecer. “Acho que vão jogar a Olimpíada de qualquer jeito. Tem de acontecer. Com ou sem torcida. Eu me lembro do começo da minha carreira, no Mackenzie. A gente jogava sem ter ninguém na arquibancada. Tem transmissão por televisão. Nunca será sem sentido. O importante é que a Olimpíada aconteça.”

"Acho que vão jogar a Olimpíada de qualquer jeito. Tem de acontecer. Com ou sem torcida" Sheilla, jogadora de vôlei do Minas, bicampeã olímpica (foto: Kirill KUDRYAVTSEV/AFP - 16/8/16)


Já Thaísa pensa diferente. “Tem de cancelar tudo. Entendo que será um grande prejuízo realizar o evento sem torcida, sem vender ingresso. Por exemplo, para abrir um ginásio, tem de haver funcionários, não um apenas, mas vários. Tem de pagar, gastar. Além disso, jogar sem torcida seria terrível. Eu não me arriscaria a fazer um evento tão grande como a Olimpíada com ginásios, piscinas, estádios vazios. E dividir as competições por países não seria Olimpíada.”

Também ouro nos Jogos de Londres, a meio de rede Adenízia, do Sesi-SP, entende que realizar a Olimpíada com arquibancadas vazias é um risco muito grande. “Ninguém queria ou esperava correr esse risco que estamos vivendo agora. Tem de precaver, sim. Não acredito que vão cancelar, mas mudar de sede me parece, neste momento, o mais sensato.”

"Sem torcida não é Olimpíada. Mas em primeiro lugar está a saúde e evitar que a epidemia se torne uma calamidade" Marcelo Mendez, técnico de vôlei do Cruzeiro e da Seleção Argentina (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 28/2/20)


Sonhando com a primeira Olimpíada da carreira, o meio de rede Isac, do Cruzeiro, presente em todas as convocações desde que o técnico Renan dal Zotto assumiu o cargo, também não vê sentido em realizar os Jogos Olímpicos sem torcida. “Quando você fala em vôlei, fala em torcida, em calor que vem da arquibancada. Não imagino jogar sem ser num ginásio cheio. Espero que a epidemia seja controlada e que possa, assim, realizar um sonho. Mas, antes, torço para ser convocado.”

O meio de rede Cachopa, também do Cruzeiro, também presente nas convocações de Renan, torce para que consigam encontrar uma vacina. “Essa porcaria que apareceu aí, pra avacalhar com o esporte, com o mundo. Rezo pela vacina. É a única solução.”

"Realizar a Olimpíada e a Paralimpíada com portões fechados será um prejuízo muito grande, em todos os sentidos" Daniel Rodrigues, tenista paralímpico (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press - 14/8/19)


O nadador Miguel Valente, do Minas, especialista nos 800m e 1.500m livres, sonha disputar sua segunda Olimpíada. Esteve presente no Rio'2016. Tem índice para a segunda distância, mas precisa confirmar no Troféu Maria Lenk, que será disputado este mês, no Rio, para poder carimbar a vaga na delegação brasileira.

Para ele, em seu caso específico, é indiferente haver público ou não nas provas. “Quando chego ao bloco não vejo mais nada, não escuto nada. Só vejo a água. Se há barulho, não escuto. Estou concentrado na piscina e fazer meu melhor tempo. Pra mim, independe ter ou não público. Quero conseguir a classificação e quero que a Olimpíada aconteça.”

Estrangeiros Existe a apreensão também entre os estrangeiros que atuam em clubes mineiros. O técnico Marcelo Mendez, do Cruzeiro e da Seleção Argentina de vôlei masculino, teme pela realização da Olimpíada. “Logo agora, quando estou indo para minha primeira Olimpíada, que é a realização de um sonho, acontece essa tragédia, essa epidemia do coronavírus. Acho mesmo que vão cancelar, adiar. A Liga das Nações, no vôlei, que estava prevista para começar em maio, não deve mais acontecer.”

O treinador vai além. Para ele, não há sentido em realizar um evento com portões fechados. “Sem torcida não é Olimpíada. Mas em primeiro lugar está a saúde e evitar que a epidemia se torne uma calamidade. Se a decisão for jogar com ginásios vazios, vamos jogar, mas não é o desejo nem meu e nem dos atletas. E dividir o evento perde-se o espírito olímpico.”

A Liga das Nações teria seis etapas disputadas na China, três no masculino e três no feminino. O que a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) estuda é não só o cancelamento da etapa, mas também se não seria o caso de cancelar as participações de países em que existe maior número de casos de infecção do vírus. Estes seriam China, Japão, França, Itália, e Irã. Por isso, estuda-se o cancelamento da competição.

Um dos nomes certos na Seleção Argentina é o ponteiro Lazo, do Minas, que está apreensivo. “Esse vírus é um problema grande. Tem que ter muito cuidado para que não prolifere. É um vírus invisível. A segurança é fundamental. Mas realizar a Olimpíada sem público nos ginásios e estádios não tem sentido. Acho melhor adiarem.”

Seu companheiro de seleção, o ponteiro Facundo, do Cruzeiro, pensa diferente. “É normal que achem uma solução, um antídoto, um soro. Se não houver público, não será a mesma coisa. Não será tão bom. Todos ficarão frustrados. Mas penso também que é importante jogar uma Olimpíada, indiferentemente da maneira que seja.”

O meio de rede canadense Perrin, também da equipe celeste, é a favor do adiamento. “A Olimpíada é maior que o vírus. Tem que ter pessoas, torcida. Pessoas de todos os países vão à sede dos Jogos para torcer por seus representantes em cada modalidade. Sem torcida não há jogo, não há vôlei e nem qualquer outra modalidade. Os Jogos Olímpicos são o congraçamento dos povos.”

Paralimpíada Um dos destaques brasileiros e esperança de medalha na Paralimpíada Tóquio'2020 é o mineiro Daniel Rodrigues, 12º do mundo no tênis em cadeira de rodas. Ele se mostra apreensivo e lamenta se a decisão for jogar a competição sem público. “Seria melhor adiar.”

Daniel conta que até mesmo a sua preparação foi prejudicada. “Eu estou inscrito em quatro torneios que, pra mim, são preparatórios para Tóquio. Viajo na próxima semana para a disputa de dois torneios nos EUA – na Geórgia e em Saint Louis, na Luisiana. Depois desses, viajaria para o Oriente para jogar na Coreia do Sul e no Japão. No entanto, o torneio coreano já foi cancelado e pode ser que aconteça o mesmo com o japonês. Estou na expectativa.”
Ele diz que o coronavírus atrapalha não só a Paralimpíada, mas também a preparação. E sente na pele a possibilidade de o evento acontecer sem a presença de torcedores. “Minha mulher, Natália, já está com a passagem comprada, hotel reservado, pois quer me ver jogar. Além dela, um casal de amigos também já comprou passagem. Espero, sinceramente, que tudo se resolva, que encontrem a vacina. Agora, realizar a Olimpíada e a Paralimpíada com portões fechados será um prejuízo muito grande, em todos os sentidos.”

Problemas, só políticos
Em relação à saúde, apenas susto com o SARS, em 2003, e o Zika, em 2016

Berlim'1936
Hitler comandava a Alemanha e usou a Olimpíada em seu benefício. O mundo via a ameaça do nazismo e os EUA cogitaram em não participar do evento por conta da perseguição aos judeus. Não houve competição em 1916, por causa da 1ª Guerra Mundial, e em 1940 e 1944, por causa da 2ª Guerra Mundial.

Munique'72
Conhecido como Massacre de Munique, a delegação de Israel foi vítima de um atentado promovido pelo grupo palestino Setembro Negro. Nove integrantes da equipe israelense se tornaram reféns e dois atletas foram mortos em confronto com os terroristas (abaixo, o funeral).

Moscou'80
No auge da Guerra Fria, entre Estados Unidos e a extinta União Soviética, 69 países liderados pelos norte-americanos chamam a Olimpíada de comunista e decidem boicotar os Jogos.

Los Angeles'84
Os países do bloco comunista decidem dar o troco e boicotam o evento nos EUA, não enviando suas delegações.

Sydney'2000 e Atenas'2004
O terrorista Osama bin Laden e seu grupo Al Qaeda ameaçaram realizar atentados nas duas edições dos Jogos Olímpicos seguidas. Isso fez com que a segurança fosse reforçada e os EUA enviassem uma força especial de segurança para os dois países. Felizmente, nada aconteceu.

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