Não foram poucas as vezes que os atuais administradores do Cruzeiro afirmaram que encontraram “terra arrasada”, que o clube foi “destruído” por administrações passadas e que será muito difícil “vencer a batalha” contra as dívidas. Os termos militares se aplicam mesmo para explicar a situação caótica em que o clube se encontra, com os diretores sendo surpreendidos diariamente por surpresas nada agradáveis, como novas contas a pagar, obrigações contratuais não conhecidas e até a chegada de jogador que eles não sabiam que havia sido contratado. Tentando sobreviver à bagunça político-administrativa-financeira, o técnico Adilson Batista iniciou a pré-temporada na segunda-feira. O problema é que nem ele sabe com quais jogadores poderá contar para a estreia contra a URT, dia 22, pela primeira rodada do Campeonato Mineiro. A torcida busca manter a esperança, apesar das dificuldades, enquanto as pessoas que estão no comando do clube tentam desarmar as bombas que estão prestes a explodir.
Cobranças na Fifa
O clube precisa de recursos para evitar ser punido com rebaixamento pela entidade máxima do futebol mundial. A dívida chega a R$ 52 milhões, sendo que pouco menos da metade desse valor deve vencer até março. As pendências são referentes às contratações dos jogadores Riascos (Morelia-MEX), Rafael Sobis (Tigres-MEX), De Arrascaeta (Defensor-URU) e Denílson (Al Wahda-EAU). Em maio passado, o clube pagouR$ 18,5 milhões ao Atenas-URU pela contratação de Latorre, que nunca atuou no time principal
Dívidas com fornecedores
A cada dia, os dirigentes são surpreendidos com cobranças inesperadas, sendo que algumas não constavam no balanço mensal do clube. Há desde prestadores de serviço até fornecedores para as cinco unidades do clube: sede administrativa, Parque Esportivo do Barro Preto, Sede Campestre, Toca da Raposa I e Toca da Raposa II. A diretoria vem procurando honrar os compromissos, mas as limitações financeiras tornam isso cada vez mais difícil, colocando em risco até mesmo eventos tradicionais, como o Churrascão
Montagem do time
As mudanças constantes no comando do clube têm influído diretamente na formação do grupo que disputará o Campeonato Mineiro e começará a busca pelo hepta na Copa do Brasil. A intenção era ter uma equipe muito jovem para este início de temporada, mas até isso está sob risco, uma vez que o clube está com salários atrasados e até os jogadores da base podem se desligar
Redução salarial
Desde que foi formado, o NDT defende que jogador que não se enquadrar na nova realidade financeira do Cruzeiro deve procurar outro clube. Porém, não é tão simples, pois eles têm contrato em vigor e os vencimentos só poderão ser reduzidos com a anuência dos mesmos. Até por isso, o clube não tem se oposto à saída dos que ganham mais, como ocorreu com o lateral-esquerdo Egídio e com o volante Henrique, que foram para o Fluminense. Fábio, Edílson, Dedé e Fred podem seguir o exemplo
Debandada na cúpula
Grande esperança de recuperação do Cruzeiro, tanto pelo poderio financeiro quanto pela capacidade administrativa, os empresários Vittorio Medioli e Pedro Lourenço anunciaram na semana passada a saída do Núcleo Dirigente Transitório (NDT). Para completar, Alexandre Mattos, que vinha prestando consultoria voluntária, seguiu Lourenço e também saiu, colocando em risco negociações, como a ida de Fabrício Bruno para o Bragantino
98
funcionários (entre CLT e PJ) demitidos
50%
da frota de veículos à venda
R$ 800 mi
é o valor estimado da dívida celeste
Salários atrasados
Como o clube atrasou três meses de vencimentos, qualquer atleta pode entrar na Justiça e pedir a liberação para acertar com outro clube. Mesmo que o clube coloque tudo em dia, o que não parece plausível no momento, eles continuam com o mesmo direito, como assegura a Lei Pelé. Assim, a diretoria conta com a boa vontade dos jogadores e o bom senso dos empresários para ter equipe para disputar as competições em 2020
Risco de perda de mando de campo
O mau comportamento da torcida no clássico contra o Atlético, em 10 de novembro, e no jogo contra o Palmeiras, em 8 de dezembro, ambos no Mineirão, poderão fazer a situação do Cruzeiro ficar ainda mais difícil. O clube corre risco de ser punido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) com perda de mando de campo em compromissos pelo Brasileiro e pela Copa do Brasil
Problemas políticos até a eleição
A renúncia da diretoria comandada por Wagner Pires de Sá não trouxe a paz política desejada ao Cruzeiro. Muitos partidários da administração passada sonham em voltar ao poder nas eleições que devem ser convocadas para maio, mesmo com todas as acusações – e provas – de descalabro administrativo. Soma-se a isso o fato de a situação não ter definido ainda o candidato – Pedro Lourenço não está certo – e tem-se um cenário desolador para os cruzeirenses
Ações na Justiça
Afastado no fim do Campeonato Brasileiro pelo então gestor de futebol Zezé Perrella, o armador Thiago Neves chegou a cogitar reduzir o salário para permanecer no Cruzeiro. Mas logo depois entrou com ação judicial pedindo não só a liberação, mas também R$ 16 milhões do Cruzeiro, incluindo indenizações. O zagueiro Fabrício Bruno, o volante Éderson e o atacante David foram pelo mesmo caminho e também acionaram a Justiça, o que está, inclusive, dificultando possíveis transferências