Jornal Estado de Minas

CRUZEIRO

Queda e troca de acusações



A crise político-administrativa-financeira que levou o Cruzeiro à Série B do Campeonato Brasileiro não tem fim. Ontem, na tentativa de diminuir a pressão pela renúncia, a diretoria comandada pelo presidente Wagner Pires de Sá anunciou a troca no comando do futebol, saindo Zezé Perrella, que havia sido nomeado gestor, e assumindo Márcio Rodrigues como vice-presidente executivo de futebol.



O atual mandatário espera que, com a entrada de um novo membro na administração haja paz para reestruturar o clube. Especialmente sendo ele uma pessoa muito querida no Conselho Deliberativo e que esteve à frente das categorias de base, tendo feito bom trabalho durante a gestão de Gilvan de Pinho Tavares (2012/2017).

“O Márcio tem experiência, foi superintendente (na verdade, vice-presidente de futebol de base) por seis anos. Ele revelou muitos garotos, é um homem que tem experiência, já é iniciado dentro do futebol. Dentre aqueles grandes cruzeirenses, aqueles que desejam que o Cruzeiro cresça, ele é um nome que tem unanimidade entre os conselheiros. Então, a escolha não foi só minha. Eu diria que foi unanimidade”, afirmou o presidente celeste.

Ele acredita que o novo executivo terá condições de fazer o trabalho necessário e urgente para que o Cruzeiro reencontre o bom caminho. Porém, a situação não é tão simples, pois Zezé Perrella saiu atirando, expondo mais uma vez o racha político no clube desde que foram feitas denúncias de irregularidades contra a atual administração.


 
 
“Fiquei surpreso com a decisão (de trocar o comando do futebol) porque ele parece biruta de aeroporto. Cada hora fala uma coisa, vai para um lado. Mas ele tem direito, pois foi eleito. Eu sugeri que o presidente renunciasse, pois a presença não é boa para o Cruzeiro, e que fossem convocadas eleições gerais. Ele disse que ia continuar no cargo e me convenceu a ficar. Aí, hoje acordei, via a mensagem no celular, vi que não era mais o gestor de futebol do Cruzeiro. Não tiveram nem a consideração de conversar comigo. Liguei para o Wagner e sugeri a renúncia mais uma vez, sugeri dar oportunidade de outras pessoas ajudarem o Cruzeiro a sair dessa. Com a credibilidade que essa diretoria está hoje, porque quem continua a dar as cartas, tudo leva a crer, que é o senhor Sérgio Nonato (ex-diretor-geral) e o senhor Itair Machado (ex-vice-presidente de futebol), que devem ter orientado o Wagner a tomar essa decisão”, declarou Perrella, que assumiu há dois meses justamente depois da saída de Itair Machado.

Wagner Pires de Sá, porém, garante que não fala com o ex-vice-presidente de futebol “há dois meses”. Já sobre Sérgio Nonato, diz que, por ser sócio e conselheiro, é inevitável encontrá-lo nas dependências do clube, como o Parque Esportivo do Barro Preto. Ele descarta de forma veemente a volta dos dois auxiliares, que foram grandes avalistas de sua candidatura à presidência em 2017.

OUTRA VERSÃO

Ele também deu outra versão para a saída de Perrella. Segundo o mandatário, o presidente licenciado do Conselho Deliberativo já havia manifestado o desejo de se afastar das funções de gestor de futebol, pois estaria sendo muito pressionado, tendo se abatido ainda mais com a queda da equipe para a Série B. Assim, apenas teria concretizado o desejo do dirigente.



Agora, a diretoria, seja ela atual ou uma que venha a ser eleita em caso da convocação de eleições, tem um grande desafio. O rebaixamento para a Segunda Divisão fará as receitas despencarem, agravando ainda mais a já delicada situação financeira da Raposa – o clube deve dois meses de salários no departamento de futebol, além de não ter pago a primeira parcela do 13º. Há, além disso, atraso no pagamento de fornecedores.

“Minha maior preocupação agora é arrumar dinheiro para pagar as contas. Durmo e acordo pensando nisso. Temos algumas boas perspectivas, mas não acertamos nada ainda”, afirmou Wagner Pires de Sá, para quem a situação do Cruzeiro é como a de outros clubes brasileiros. “Nossa arrecadação é menor que o gasto. Temos de mudar isso. Jogadores recebem salários de padrão europeu, mas nossos torcedores não conseguem nem ir a todos os jogos por falta de dinheiro”.
 
 

Torcida promete protestar na sede


A mudança na diretoria não diminuiu a insatisfação da torcida com a atual diretoria. Assim, está mantida a manifestação convocada para hoje, às 14h, na porta da sede administrativa do clube, na Rua Timbiras, no Barro Preto.



Uma das exigências era a saída de Zezé Perrella, que ocorreu. Mas os torcedores ainda querem “antecipação das eleições do fim de 2020 para janeiro; renúncia imediata do presidente do clube, Wagner Pires de Sá, e dos vices, Hermínio Lemos e Ronaldo Granata; alterações no estatuto do clube, visando profissionalismo, modernidade e transparência; e direito a voto nas decisões do clube aos sócios-torcedores adimplentes há três anos”.

Ontem, torcedores divulgaram carta aberta nas redes sociais pedindo a ajuda do empresário Pedro Lourenço para “levantar” o clube. O texto coloca o sócio-diretor dos Supermercados BH como a pessoa mais indicada para liderar a frente que promete adesão a planos de sócio-torcedor e forte apoio ao time, caso uma nova diretoria assuma ainda no início de 2020, ano que a Raposa disputará a Série B do Campeonato Brasileiro pela primeira vez na história.