Jornal Estado de Minas

Pela luz dos olhos meus



A medalha de prata no tae kwon do dos Jogos Pan-Americanos, em Lima, conquistada na noite de segunda-feira, mostrou que, mesmo sendo quase cego de um olho, Icaro Miguel consegue enfrentar seus rivais em condições de igualdade. O atleta tem cerca de 20% de visão no lado direito e por isso precisou se adaptar. Ele teve um problema quando sua mãe, por engano, pingou amônia em seu olho direito pensando ser água boricada. No início, acabou melhorando, mas depois de um tempo foi perdendo gradualmente a visão até não enxergar praticamente quase nada. Por isso, teve de reaprender a luta.

Mesmo assim, Icaro Miguel vem exibindo muito talento nos combates. Além da prata no Pan, na categoria até 80kg, foi vice-campeão mundial recentemente. “Sempre falo para minha mãe que talvez isso tenha acontecido para eu poder ser espelho para alguém no futuro”, disse. “Foi um problema de infância, mas já passei por uma adaptação e está tranquilo.”

Seus pais praticavam o tae kwon do por hobby na juventude e foi por influência deles que Icaro aderiu à modalidade.
“Quando eu era criança, meu pai me levou e gostei”, contou. Ele não guarda mágoa da situação que o deixou quase cego: “Nunca julguei. Se ela (a mãe) tem essa culpa, tento diminuir o máximo possível com meus resultados levando orgulho para dentro de casa”.

Vindo de boas campanhas, ele apenas lamentou não ter conseguido o ouro. “Trabalhei para ser campeão. Vim de uma prata no Mundial, cheguei com aquele gostinho de querer fazer algo mais no Pan, queria realmente vencer, mas estou levando um grande resultado.”

Icaro não atribui o segundo lugar (derrota para o colombiano Miguel Angel por 19 a 17) ao problema de visão: “Não foi por isso não. Infelizmente, tenho o problema sim, mas isso não interfere no meu desempenho. Minhas pratas não são por esse motivo”.

Agora, a missão dele é tão somente conquistar a vaga para os Jogos de Tóquio’2020.
Ele sabe que a concorrência é enorme, mas tem consciência de suas chances: “É meu foco total e preciso buscar esta vaga. O tempo todo vivo e só falo da Olimpíada”.


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