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Rivalidade sem ódio

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Os clássicos entre Atlético e Cruzeiro costumam colocar os nervos à flor da pele, ainda mais quando são decisivos como o de hoje, no Independência. Mas mais importante que perder ou ganhar é saber que tanto dentro quanto fora de campo deve prevalecer o respeito aos adversários, que são rivais, mas não inimigos.

Se entre os atletas há laços fortes de amizade, construídos antes da chegada aos clubes mineiros, em alguns casos, ou já em BH, em outros, no meio dos torcedores isso é ainda mais comum. Amigos, parentes, companheiros de trabalho e conhecidos estarão em lados opostos hoje, mas juntos novamente amanhã, seguindo a vida, muitas vezes convivendo perfeitamente no mesmo ambiente.

É o caso dos irmãos Carlos Alberto e Cláudio Gonçalves Pedrosa, de 53 e 51 anos, respectivamente. Sócios de bar e restaurante na Avenida Brasil, em Santa Efigênia, na capital mineira, eles passam boa parte do tempo trabalhando juntos, ainda que quando o assunto seja futebol estejam em campos opostos: Carlinhos, como é conhecido, é atleticano, enquanto o irmão é cruzeirense.

Com a experiência de mais de cinco décadas de convivência e rivalidade, eles sabem que o resultado de um jogo como o de hoje deve ser encarado com naturalidade. “Quem perde sabe que vai ter de aguentar a pressão”, explica Cláudio, que é responsável pela cozinha, enquanto Carlinhos atende o balcão e supervisiona o salão do estabelecimento. “No meu caso é ainda pior, pois tenho de aguentar os clientes”, diz o atleticano.

Enquanto Carlinhos brinca que o Atlético está em seu DNA, até por o pai ter sido alvinegro, Cláudio é cruzeirense por influência do irmão mais velho, Jorge. E hoje voltam a estar em lados opostos enquanto trabalham, como ocorreu não só na quinta-feira, passada, quando a Raposa venceu por 3 a 0, como também na final da Copa do Brasil de 2014, vencida pelo Galo.

“A gente chegou a ficar tenso naquela final, pois não estávamos acostumados a clássicos no bar, pois não abríamos aos domingos. Mas correu tudo bem.
De qualquer forma, ficamos de atentos. Se alguém se exalta, a gente pede calma, não deixa crescer”, pondera Carlinhos. Até pelas funções diferentes, eles têm formas diferentes de acompanhar o clássico. Enquanto o atleticano fica “com um olho nos clientes e outro na TV”, o cruzeirense acompanha a partida pelo rádio, pois está na cozinha. “Quando ele vem correndo lá de dentro é porque algo importante ocorreu”, diz Carlinhos, lembrando o atraso que há nas transmissões pela TV.

Diferentemente dos irmãos Gonçalves Pedrosa, os gêmeos Guilherme e Gustavo Henrique Marinho Marques, de 43 anos, acompanharão o clássico de hoje separados. Guilherme mora há mais de duas décadas em Boca Raton, nos EUA, mas não deixa de assistir aos jogos da Raposa. Já Gustavo reside em Belo Horizonte e acompanha sempre o Galo no Horto.

Eles cresceram em meio à rivalidade do clássico, às zoações, mas nunca brigaram por causa disso.
Depois que Guilherme se mudou para o exterior, as brincadeiras se acentuaram nas redes sociais e em aplicativos de mensagens. “Desde que nascemos, um provoca o outro. Somos envolvidos com esporte desde crianças, incentivados por nossos pais. Eu pegava ônibus para ver os jogos do Cruzeiro quando morava no Brasil. Assisti à final da Copa do Brasil de 1993 e também fui a São Paulo ver o jogo contra o Palmeiras. Na minha família, 90% são atleticanos. Eu me tornei a ‘ovelha negra’”, afirma Guilherme, gerente de restaurante em Fort Lauderdale.

PONDERAÇÕES Para ele, a Raposa tem tudo para calar o Independência nesta noite se jogar com inteligência: “O Cruzeiro tem um time e um técnico experiente. Sabemos que tem mais 90 minutos e, se o Atlético fizer dois gols rapidamente, a coisa se complica.
O Cruzeiro tem que entrar com paciência, tocar bem a bola e administrar a vantagem com tranquilidade”

Por outro lado, Gustavo projeta uma classificação épica do Galo, como no título da Copa do Brasil, em 2014. Ele estará presente no estádio hoje: “Todo atleticano acredita. A gente torce mesmo. Agora, vai depender da forma que o time entrar em campo. Na quarta-feira passada, não jogou nada. Fui no Mineirão de tribuna com um amigo cruzeirense. Não poderia perder esse jogo. O clássico é um jogo que vou de qualquer forma, até mesmo infiltrado. Mas tudo pode ser superado. Viramos contra Corinthians, contra Flamengo na Copa do Brasil.
Se fizermos um golzinho no início, tudo pode acontecer”.

No caso dos Gonçalves Pedrosa, o prognóstico é parecido. “A vantagem é boa, mas é preciso respeito. Tem de saber jogar um jogo assim. Se não sofrer gol nos primeiros 15 minutos, as coisas podem ser mais fáceis”, diz Cláudio. “Atleticano sempre é confiante. Tem de ir para cima, buscar os gols, mas sem descuidar atrás”, declara Carlinhos.

Amizades Entre os jogadores, há tanto ou mais respeito com os adversários. Em alguns casos, mais que amigos, eles são companheiros em compromissos profissionais, como os goleiros Victor e Fábio, que costumam ser parceiros em campanhas publicitárias. Já os armadores Cazares e Thiago Neves viram juntos a jogos da Copa América em Belo Horizonte. E há os que já foram companheiros de clube, casos dos zagueiros Leonardo Silva e Leo, que jogaram no Cruzeiro, e os que atuaram juntos em outros clubes, como os laterais Fábio Santos e Edílson, ex-Corinthians, e o zagueiro Igor Rabello e o atacante Sassá, formados no Botafogo.


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