Houve um tempo em que a Seleção Brasileira era constantemente elogiada no futebol mundial por seus talentos individuais no ataque, com o surgimento de atletas versáteis e com características diferenciadas. Mas esse aspecto vem mudando aos poucos. O setor da equipe verde-amarela mais elogiável nesta Copa América será aquele com maior necessidade de renovação para o Mundial do Catar em 2022. Com vários titulares que já passaram dos 30 anos, o sistema defensivo do Brasil vive a expectativa de ser campeão sul-americano contra o Peru, domingo, às 17h, no Maracanã, sem levar nem um gol sequer – o último gol sofrido foi em março, na vitória sobre a República Tcheca por 3 a 1. Ao mesmo tempo em que os números são positivos, isso gera uma preocupação: o técnico Tite já terá o trabalho de selecionar novos jogadores para as futuras formações.
Na história da Copa América, o Brasil pode igualar os feitos do Uruguai em 1971 (3 vitórias) e 1987 (2 vitórias), da Argentina em 1921 (3 vitórias) e da Colômbia em 2001, únicas equipes campeãs sem tomar gol. A façanha dos colombianos foi a mais difícil, já que o formato da competição é o mesmo dos tempos atuais, com primeira fase, quartas de final, semifinais e final.
Um dos responsáveis pela atual fase da defesa, o goleiro Alisson afirma que o trabalho de marcação é feito por todo o grupo, sobretudo os jogadores de frente: “A gente se cobra muito. Costumo a falar com os companheiros que é importante não levarmos gol, pois isso garante tranquilidade aos jogadores de meio-campo e ataque para nos ajudar na marcação. E isso também nos deixa próximo da vitória sempre que nossa defesa não continue sendo vazada”. Os números positivos na Seleção não são por acaso: jogando pelo Liverpool, o goleiro levou apenas 22 gols em 38 jogos no Campeonato Inglês e 12 em 13 partidas na conquista do título da Liga dos Campeões. Na Seleção, já são 28 jogos, em 41, sem sofrer gols.
Pressionado desde o fracasso no Mundial da Rússia, em 2018, Tite optou por levar um time mais experiente e já entrosado para tentar vencer a Copa América em solo nacional. Os mais rodados na equipe são o lateral-direito Daniel Alves (36 anos), os zagueiros Thiago Silva (34) e Miranda (34) e o lateral-esquerdo Filipe Luís (33). A necessária renovação não atinge Alisson e nem os zagueiros Marquinhos, de 25, e Éder Militão, de 21, que parecem formar a base defensiva que tentará o hexacampeonato no Catar. Para a lateral-esquerda, Alex Sandro, de 28, parece se firmar como opção número 1 para 2022.
Tite já vem observando atletas jovens que atuam pela Seleção Sub-23, comandada por André Jardine, que recentemente conquistou o Torneio de Toulon. A equipe tem como destaques o lateral-direito Emerson (ex-Atlético e atualmente no Bétis), os zagueiros Marlon (Sassuolo), Luiz Felipe (Lazio) e Lyanco (Bologna). Além deles, jogadores como os laterais Guilherme Arana (Sevilla) e Renan Lodi (Athletico) e os zagueiros Juan Jesus (Roma) e Rodrigo Caio (Flamengo) estão sendo avaliados. O ex-atleticano Jemerson, hoje no Monaco, e o lateral Jorge, do Santos, são nomes que surgem como opções. Substituto de Daniel Alves na Rússia, o lateral mineiro Danilo também tem condições de jogar no Catar.
O ex-zagueiro Luizinho, que fez parte da histórica Seleção Brasileira de 1982, entende que a renovação deve ser feita com cuidado e que os atletas mais experientes não devem ser descartados imediatamente do grupo: “A renovação tem que ser vista aos poucos. O Tite naturalmente vai começar a descobrir os novos valores da defesa. No Brasil, infelizmente, um jogador com 36 anos é considerado velho. Lá fora, você vê jogador atuando em alto nível com 36 ou 38 anos. Jogando em alto nível, tem que disputar a Copa do Mundo. A única preocupação é a lateral esquerda. Não sou fã de nenhum dos dois que estão atualmente no grupo. Seria necessário um jogador do nível do Marcelo”.
Campeão mundial em 1970, o ex-volante e zagueiro Piazza defende a renovação, mas elogia a sintonia do atual grupo comandado por Tite: “A Copa América deveria servir para delinear uma equipe que possa passar pelas Eliminatórias e chegar bem à Copa do Mundo. Os últimos jogos mostram que nossa zaga se mantém estável. O futebol brasileiro sempre foi visto com mais elogios do meio para a frente, mas esse tempo mudou. Com a própria evolução do futebol, os zagueiros passaram a ter vez. A preparação dos nossos jogadores mudou, o que ajudou a melhorar o desempenho. Além disso, nossa zaga se conhece muito bem e conseguiu ter entrosamento para ajudar o time”.
COMPETIÇÕES Dentro do processo de formação da equipe, Tite terá sobretudo as Eliminatórias e a Copa América do ano que vem (na Argentina e na Colômbia) para testar novos jogadores e chegar ao próximo Mundial com um time mais equilibrado. Caso o Brasil volte a ser campeão sul-americano neste fim de semana, disputará a Copa das Confederações em 2021, no Catar – a competição está sob análise da Fifa.
Piazza acredita que Tite precisa testar jogadores que ainda não têm experiência de Seleção: “Não se discute o potencial e a contribuiução de atletas como o Daniel Alves, por exemplo, que gosta de servir à Seleção e é dedicado. Ele suportaria o ritmo? Acho que não. O Tite precisa dar oportunidade a novos atletas”.
Convocados para a Copa América
Nome Posição Idade Clube
Daniel Alves lateral-direito 36 PSG
Fágner lateral-direito 30 Corinthians
Filipe Luís lateral-esquerdo 33 Atlético de Madrid
Alex Sandro lateral-esquerdo 28 Juventus
Thiago Silva zagueiro 34 PSG
Miranda zagueiro 34 Internazionale
Marquinhos zagueiro 25 PSG
Eder Militão zagueiro 21 Real Madrid
Perspectiva para o futuro
Nome Posição Idade Clube
Danilo lateral-direito 27 Manchester City
Emerson lateral-direito 20 Bétis
William lateral-direito 24 Wolfsburg
Jorge lateral-esquerdo 23 Santos
Renan Lodi lateral-esquerdo 21 Athletico
Guilherme Arana lateral-esquerdo 22 Sevilla
Juan Jesus zagueiro 28 Roma
Jemerson zagueiro 26 Monaco
Rodrigo Caio zagueiro 25 Flamengo
Luiz Felipe zagueiro 22 Lazio
Marlon zagueiro 23 Sassuolo
Murilo zagueiro 22 Lokomotiv Moscou