Jornal Estado de Minas

Para poucos

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis


Os baixos públicos registrados nos jogos da Copa América no Brasil podem ser compreendidos por uma conjunção de fatores, como o preço elevado dos ingressos, o desinteresse dos torcedores e a crise por que passam os dois principais países sul-americanos. A média da primeira rodada foi de 24.738 pagantes; e a da segunda, 30.849 (sem contar o jogo Chile x Equador). 

Os bilhetes mais baratos do torneio custam R$ 120. Em outras moedas sul-americanas é preciso muito dinheiro para entrar em uma partida. Na Venezuela, a população local necessita de 200 mil bolívares soberanos. Os argentinos gastam cerca de 1.354 pesos. No Paraguai, são necessários 192 mil guaranis.

Por causa dos preços elevados, a estreia da Seleção Brasileira teve renda de R$ 22.476.630,00. Dos jogos disputados até aqui, nenhum deles foi com o estádio lotado. O melhor público até agora foi registrado em Brasil 3 x 0 Bolívia (46.342), no Morumbi.
A estreia da Copa América em Belo Horizonte levou apenas 13.611 pagantes ao Mineirão. Os outros dois maiores públicos foram em jogos da Argentina.

Até os próprios jogadores que disputam a competição entendem que os ingressos estão caros. “As pessoas tinham de ter um pouco de sensibilidade com os preços. Acho que estão exagerados”, disse o zagueiro Thiago Silva. Outro que concorda com esse ponto é o armador De Arrascaeta, da Seleção Uruguaia. “O ingresso está muito caro para o povo poder ir para o jogo. Acho que poderia ser um pouquinho mais acessível para todo mundo poder desfrutar dos jogadores e desta copa, que é tão prestigiosa”, frisou.

Quem foi ao Gigante da Pampulha para ver Uruguai x Equador reclamou dos preços.
O estudante de engenharia aeroespacial Humberto Dutra, de 22 anos, se queixou dos valores praticados. “Realmente é um pouco abusivo, foge do que a gente está acostumado no Mineirão”. O estádio ficou longe de ter um clima de Copa do Mundo, como ocorreu em 2014. Pesa um desinteresse pelo torneio de grande parte dos belo-horizontinos. A cidade não está colorida com as cores do Brasil nem é possível ver a empolgação dos torcedores pelas ruas.


PREÇOS EM JOGOS DE CLUBES

Os valores para os jogos dos clubes na Copa Libertadores são mais baratos que os praticados na Copa América. Até a final continental é mais em conta para os torcedores. O Cruzeiro cobrou pela estreia em casa na Libertadores, no Mineirão, em jogo contra o Deportivo Lara, da Venezuela, de R$ 40 a R$ 120 para os torcedores não associados. Já o Atlético, no duelo contra o Cerro Porteño, o primeiro na fase de grupos, colocou os bilhetes a R$ 50 para sócios e R$ 100 para os torcedores na bilheteria.

Outros clubes do continente também praticam preços mais econômicos.
Na Colômbia, no jogo entre Palmeiras e Júnior Barranquilla, no Estádio Metropolitano Roberto Meléndez, os ingressos variaram de 30 mil pesos colombianos (pouco mais de R$ 36) a 120 mil pesos colombianos (R$ 146). O torcedor do Verdão pagou 70 mil pesos colombianos na entrada (aproximadamente R$ 86 reais) e viu seu time vencer por 2 a 0.

No Equador, o torcedor celeste desembolsou um preço bem em conta no jogo contra o Emelec, no Estádio George Capwell, em Guayaquil. Os visitantes pagaram apenas 6 dólares (cerca de R$ 24). O Cruzeiro venceu por 1 a 0, gol de Rodriguinho.

Já no Uruguai, a vitória do Nacional sobre o Atlético por 1 a 0, no estádio Parque Central, em 12 de março, teve ingressos de 200 (R$ 22) a 1500 (R$ 166) pesos uruguaios. O atleticano teve que arcar com 1.100 pesos uruguaios (cerca de R$ 120) na entrada.

Por sua vez, no Chile, o torcedor do Internacional pagou um preço razoável na vitória sobre o Palestino por 1 a 0, em 6 de março, pela primeira fase da Copa Libertadores. O valor da entrada foi comercializada a 10.000 pesos chilenos (cerca de R$ 57,50).

Os ingressos no Paraguai também costumam sair mais baratos. Para o jogo entre Cerro Porteño e Deportivo Santani, em 11 de maio, pela 21ª rodada do Apertura, o bilhete mais barato saia a 10 mil guaranis (R$ 6), com os mais caros a 70 mil (R$ 44). Para um jogo decisivo, o preço cresce por causa da importância do confronto e pela procura. No duelo das oitavas de final da Copa Libertadores, o Cerro negocia o ingresso mais barato a 20.000 guaranis (R$ 12,60), com o mais caro a 130 mil guaranis (R$ 82).

Na final da Recopa Sul-Americana, por exemplo, um sócio do River Plate pagou 800 pesos (R$ 71) para ver o time de Nuñez levantar o caneco contra o Athletico, no jogo em Buenos Aires. Para não associados, o preço era de 1.500 pesos (R$ 133) o mais barato.

Na temporada passada, o torcedor cruzeirense que quis ir à Bombonera pagou R$ 200 no ingresso de visitante, em jogo das quartas de final da Copa Libertadores.
O mesmo preço foi praticado na partida de estreia da Raposa nesta edição do torneio da Conmebol, contra o Huracán, no estádio El Palacio, em Buenos Aires.


CRISE ECONÔMICA

Argentina e Brasil, os dois principais países do continente, vivem crises econômicas que comprometem a adesão dos torcedores. A situação da Argentina é mais delicada. A crise no país vizinho começou em 2013, com estagnação econômica, aumento do desemprego e elevação dos gastos públicos. Desde 2015, o presidente eleito Mauricio Macri assumiu na tentativa de fazer um ajuste fiscal, reduzindo a dívida pública e ganhando a confiança do mercado. Não deu certo.

A situação argentina se agravou com a disparada da inflação por causa da fuga de capitais. Atualmente, a inflação no país está em 57%. O câmbio se desvalorizou rapidamente. Segundo a Bloomberg, o peso argentino foi a pior moeda emergente em comparação com o dólar em 2018: desvalorização de 52,4%. Para comprar um ingresso da Copa América, o argentino tem que desembolsar, no mínimo, 1.354 pesos.

As consequências dessa crise são perversas. Em abril deste ano, o Indec, similar ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Brasil, divulgou dados preocupantes: 32% da população argentina está abaixo da linha da pobreza, com 6,7% sendo considerados indigentes.

O Brasil também vive situação preocupante.
A economia patina, com crescimento do PIB de modestos 0,98% em 2017 e 1,1% em 2018. Entre 2011 e 2020, a economia brasileira deve avançar em média 0,9% ao ano, segundo projeção da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para reduzir o gasto público e ganhar a confiança do mercado, o governo quer aprovar reformas, em especial a da previdência. Outro dado alarmante é o desemprego, com taxa de 12,4%, segundo o IBGE.


TERRA DE MADURO

País rico em petróleo, a Venezuela vive momento dramático. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que a inflação deva atingir 10.000.000% neste ano. De acordo com a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) das Nações Unidas, o país teve uma queda no PIB de 15% no ano passado, com projeção de baixa de 8% neste ano. A população sofre com fome, violência e falta de atendimento na saúde. A opção para muitos é cruzar as fronteiras: cerca de 3,4 milhões de pessoas deixaram a Venezuela desde que a crise se intensificou. Em janeiro, o presidente Nicolás Maduro aumentou o salário-mínimo de US$ 5,22 para US$ 20,9. Para comprar um ingresso da Copa América, um venezuelano teria que desembolsar cerca de 200 mil bolívares soberanos.

De forma geral, a América Latina não passa por um momento positivo. A projeção de crescimento neste ano é de apenas 1,7%, segundo relatório da Cepal. “Para o ano de 2019 se vislumbra um período em que longe de diminuir, as incertezas econômicas mundiais serão maiores e provenientes de distintas frentes. Isso repercutirá no crescimento das economias da América Latina e do Caribe, que, em média, se expandirão 1,7%”, diz o documento da Cepal.

Com dificuldade de crescimento, a situação de grande parte da população da América Latina praticamente inviabiliza gastos elevados com viagem ao Brasil, hospedagem, transporte e alimentação, além dos ingressos. Pesa contra esse investimento também a edição da Copa América em 2020 na Colômbia e na Argentina. Assim, o torneio perde o interesse de muitos.


.