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Meu quintal é maior do que o mundo

No Brasil atual, celebrar 111 anos de Atlético é um ato de resistência. Sim, porque nesse mais de século de história, o Galo foi desde sempre o time do preto e do branco, do rico e do pobre


postado em 23/03/2019 05:09



O torcedor gosta de não gostar dos estaduais. Fala mal, desdenha, só quer a Libertadores, a Copa do Brasil e o Brasileirão. É no Mineiro, no entanto, que se decide quem manda no próprio terreiro. É nóis lá em casa, e ao fim e ao cabo só isso importa – como bem disse o Manoel de Barros, “meu quintal é maior do que o mundo”. Ou Rosa, atleticano roxo: “O sertão é o mundo”.

Veja você um outro aspecto de suma importância: onde mais se encontra o futebol raiz, senão nesses Lisos do Sussuarão, onde pelejas e peladas se desenrolam sem nenhuma cerimônia? O Campeonato Mineiro – e de resto todos os demais, o Paulistão, o Carioca, o Gauchão – é o túmulo do futebol moderno. Viva o Campeonato Mineiro! É ali que sobrevive, resistente, o montinho artilheiro, o golden shower vindo das alturas da arquibancada, sobrevoando cabeças incautas, o alambrado, o zagueiro barrigudo, o atacante que fuma cigarro, o volante marceneiro, o meia trocador de ônibus.

VAR é para os fracos, Champions League é para adolescentes com espinhas a gastar as horas no video game. O Mineiro, não, o Mineiro é a celebração da raça, a glória do bico pro mato, que o jogo é de campeonato. Não fosse por ele, não haveria o Alçapão do Bonfim, o Jacaré de Sete Lagoas, a Pantera de Governador Valadares, os silvícolas Guarani, Tupi e, não se sabe saído de onde, o Tupynambás. Se não fosse o Mineiro, não teria havido Paulinho Kiss, Miranda, Mastiguinha, Vanderlei. Se não fosse o Mineiro, Danilinho não teria dado aquele chapéu, Fábio não seria Fábio de Costas.

Pois bem, feito esse preâmbulo, o fato inescapável: ou a gente ganha esse Mineiro, ou a gente ganha esse Mineiro. Diante do Tupynambás, no domingo, estará em jogo a qualidade do nosso sprint final. Ou arrancamos para a conquista do título, ou arrancamos para a conquista do título. Não pode dar sopa pro azar, o futebol é uma caixinha de cerveja, e é nas melhores peladas que as zebras se apresentam. E zebras, é sabido, já nasceram vestidas de Atlético.

Alerrandro é o grande nome do campeonato. No sentido literal, inclusive, já que nunca se viu um Alerrandro com dois erres, maravilha da estirpe de um Maicosuel, um Neymar, um Zé Welison. Como diz o outro, espera-se nove meses para se chegar a essa conclusão, é de fato espantoso. Em todo caso, Alerrandro soa um Brasilzão pré-varanda gourmet, e seus dois erres estão em perfeito alinhamento com o Campeonato Mineiro.

No domingo passado, informantes me deram conta de que o Mineirão reviveu seus velhos dias, lotado, repleto de crianças, e houve até o cortejo final com a Charanga – este escriba não perdia um. Amanhã será isso de novo, acrescido das celebrações pelo aniversário de 111 anos de Atlético, a serem completados na segunda-feira 25. Parabéns, meu Galo querido, minha profissão de fé, meu almoço e meu jantar, minha cachaça e meu Rivotril.

No Brasil atual, celebrar 111 anos de Atlético é um ato de resistência. Sim, porque nesse mais de século de história, o Galo foi desde sempre o time do preto e do branco, do rico e do pobre, do árabe e da mulher. O preto e o branco, em pé de igualdade, nas listras eretas da sua camisa. O Galo não fez concessão, bateu de frente, foi roubado pela CBF e perseguido pela ditadura. Mas resistiu no punho cerrado do Rei, o nosso pantera negra. Que outra instituição tem por rei um cara como Reinaldo?

Êh, Galo de ouro, a seleção do povo. Não é a gente que precisa de você. É o mundo que precisa de mais Atlético. Parabéns e muito obrigado.

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