Em 1940, mulher jogando futebol em Belo Horizonte era caso de polícia. “Mulheres jogavam futebol à noite, no fim da linha de Lourdes”, chamava a atenção o Diário da Tarde de 20/4/1940. “O guarda prendeu as jogadoras e o seu treinador. Uma conseguiu escapar e trancar-se em casa.” O caso parece pitoresco, não fosse trágico, e revela um pouco sobre o preconceito dos primeiros registros de mulheres jogando futebol na capital mineira encontrados nos arquivos dos Diários Associados.
A história: na noite de 19 de abril de 1940, por volta das 21h40, um guarda estava a serviço na esquina da Rua Tomaz Gonzaga com Curitiba, quando foi avisado de que algumas mulheres estavam jogando futebol na Rua Santa Catarina, ao fim do bonde de Lourdes. O guarda, segundo a reportagem, considerou o fato um escândalo, “ainda mais no meio da rua”, e partiu rumo ao local da peleja. Ao chegar, o jogo foi interrompido e o guarda conseguiu prender duas jogadoras, Arletina e Enedina, além de um homem que também participava.
Uma das jogadoras, Noemia, que era empregada doméstica, conseguiu fugir e trancar-se no quarto. “O guarda teve ordens dos patrões para entrar na residência. Mas Noemia não quis abrir a porta e o guarda resolveu ir-se embora”, descrevia o DT, que tachou o guarda como “severo e antidesportivo”.
O ano de 1940 pode ser considerado um marco para o futebol feminino em Belo Horizonte – ou, pelo menos, com os registros mais antigos conhecidos.
O time seria treinado pelo técnico de várzea Manoel Vianna. Cleonice, uma das garotas, falou que a inspiração veio de notícias publicadas no Estado de Minas sobre o futebol no Rio de Janeiro. “Sentimos inveja das cariocas e procuramos imitá-las”, disse a jovem, em frente à sede do recém-criado clube. Entretanto, nas edições seguintes não há registros de que a iniciativa do Mineiras F.C. tenha saído do papel.
O PRIMEIRO JOGO
Dois meses depois, em 15 de junho, o campo do América registrou o que o EM trata como o primeiro jogo feminino em Minas Gerais, entre duas agremiações do Rio.
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