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Desfalques eternos

A tragédia que assolou Brumadinho com o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão deixará marcas profundas também no futebol amador da cidade, uma das alegrias da comunidade. Entre os mais de 300 mortos estão 14 atletas de sete times


postado em 01/03/2019 05:10

Garotos da base na sede do Brumadinho, clube que perdeu o jovem Robert Ruan, de 19 anos, que se preparava para jogar no time principal(foto: Leandro Couri/Em/D.A Press)
Garotos da base na sede do Brumadinho, clube que perdeu o jovem Robert Ruan, de 19 anos, que se preparava para jogar no time principal (foto: Leandro Couri/Em/D.A Press)


A série de pôsteres na parede exibe com orgulho os momentos de festa em 56 anos de história do Canto do Rio, uma das forças do futebol amador de Brumadinho. Nas fotografias, os semblantes felizes do goleiro Tom, dos volantes Eudes e Max, e dos atacantes Bili e Marlon mostram a tamanha ligação deles com a equipe nos últimos anos. Mas essa história foi interrompida por uma tragédia sem precedentes. O quinteto presente na saga de sucesso da Capivara (apelido do time) foi vítima do rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, em 25 de janeiro, que matou 186 pessoas (122 ainda estão desaparecidas), entre elas 14 atletas amadores de Brumadinho.

O Canto do Rio foi o que perdeu mais jogadores no rompimento da barragem. Time do Córrego do Feijão, o Novo Ideal viu três dos seus atletas – Gil, Zinho e Reinaldo – serem vítimas da tragédia. Já o Estrela Marinhense teve a morte dos jogadores Adriano Júnior Braga e Geraldo Medeiros, o Gaguinho, ambos funcionários terceirizados da Vale. Campeão da Segunda Divisão, o Aroucas ficou sem Walaci Júnior, o Banana. Robert Ruan (Brumadinho), Ramon Júnior (Itaguense) e Jonis Andrade (Juventos) foram as outras vítimas.

Funcionários da Vale, Eudes e Max tiveram lugar especial na sala de troféus do Canto do Rio: ambos foram campeões da Copa Itatiaia de 2003/2004, considerado o maior título da história do clube, e marcaram seus nomes em outras taças na própria cidade. Enquanto Eudes foi o capitão da equipe por vários anos, Max era tido como o cão de guarda e um dos líderes, responsável pela proteção da defesa. Os dois cresceram no bairro onde fica o estádio da equipe, foram revelados na base e ganharam o respeito dos torcedores.

O presidente do Canto do Rio, Fernando Vinícius do Carmo, afirma que a equipe seguirá firme com o propósito de honrar a memória dos atletas falecidos na catástrofe: “Perdemos vários amigos, jogadores, que desde a base jogaram com a gente, começaram no clube. Não será fácil tirar forças para superar tudo o que passamos. Mas eles não vão querer que a gente pare de jogar, e sim lutar por eles mesmos. Temos que continuar essa caminhada”.

Um dos diretores do clube, Marcone Rodrigues Gonçalves, não perdeu apenas os amigos da bola. Entre as vítimas está também o irmão mais novo, Marlon, de 35 anos, que também atuava nos fins de semana e ajudava na organização do futebol. Marcone lembra que o irmão teve de se superar para conseguir jogar pelo Canto do Rio: “Foi uma perda irreparável para mim. Ele tinha uma peculiaridade. Era deficiente, tinha uma perna maior que a outra, mas jogava suas peladas. A deficiência nunca foi empecilho para ele. É muito difícil para nós superar isso, mas sei que ele está olhando para a gente”.

A diretoria prepara uma série de homenagens aos jogadores falecidos. Há a intenção de o clube aposentar as camisas 5 e 8, de Eudes e Max, respectivamente. Outra ideia é pintar as caricaturas dos atletas nos muros do estádio do clube, que fica na margem do Rio Paraopeba. Além da perda dos jogadores, a Capivara vem sofrendo as consequências do desastre em virtude da contaminação da água do rio, que é usada na irrigação do gramado.

MORTE NO RIVAL O luto vivido pelo Canto do Rio também atinge o seu maior rival no futebol amador, o Brumadinho Futebol Clube. A morte do jovem Robert Ruan, de 19 anos (seu corpo ainda não foi encontrado), uma das revelações da popular equipe e funcionário de uma empresa terceirizada pela Vale, causou comoção no clube. Dono da camisa 11 nas partidas do fim de semana e tido como um dos principais talentos no grupo, Robert já estava se preparando para jogar no time principal.

Não bastasse a perda do jogador, sua família viveu recentemente um outro drama. O irmão gêmeo, Richard Oliveira, que também atuava no Brumadinho, foi assassinado a tiros no ano passado. E outro irmão do jogador, Michel Felipe, morreu de leucemia em 2005. Para superar a dor, uma das distrações de Robert era o futebol. Ele fez teste no Atlético há alguns anos, mas não passou.

“A tragédia veio com um baque para a gente. Não perdi familiares, mas a morte do Robert nos deixou sem palavras. Era um moleque brincalhão, que sempre chegava atrasado e tínhamos que ir buscá-lo em casa. Ele era diferente. O time começava por ele e pelo Richard. É muito difícil tocar a vida sem lembrar dele. Ele era especial”, afirma o técnico da base do Brumadinho, Victor Braga, ex-companheiro de Robert.

Ele afirma que passará a usar a camisa 11 do amigo nas partidas da equipe: “Ainda teremos oportunidade de jogar bola lá em cima, porque ele é uma pessoa importante. Ele está orando por nós. Treino pensando nele, jogo com a camisa dele. Tudo o que eu faço é para ele”.


Liga promete retomar as competições


Com a presença de 40 times com registros em dia, o futebol amador de Brumadinho é um dos mais emblemáticos da região. Além das disputas das séries A e B local, há também outras competições, como o campeonato de veteranos, a Copa de Bairros e a Copa do Interior, com a presença das equipes da zona rural do município.

Alguns atletas que surgiram no amador tentaram a sorte no profissional. O atacante Wellington Amorim, que teve passagem por Villa Nova e Atlético nos anos 1990 e 2000, começou sua saga no Marinhos, que hoje disputa a Segunda Divisão. O atacante Lucimar Rodrigues, o Meio-Quilo, campeão da Copa Itatiaia de 2003/2004 com o Canto do Rio, foi contratado pelo Galo em 2004, mas não vingou e voltou ao futebol amador. Atualmente, o atacante Riquelme, que começou no Brumadinho, atua pela categoria de base do Cruzeiro.

Com a tragédia do rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, o calendário de jogos ficou comprometido. Além do baque emocional provocado pela tragédia em todo o município, há dificuldades, como a remontagem das equipes que perderam jogadores e a interdição de várias estradas que ligam a cidade às comunidades rurais. A Liga de Desportos de Brumadinho pretende ajudar de alguma forma os times mais desfalcados.

“Vamos ter de remanejar o calendário. Tivemos de paralisar o campeonato de veteranos. E vários outras competições, como a Copa do Interior e a Copa de Bairros, tiveram pausa. Mas o ano é grande e vamos tentar fazer algo para ajudar as equipes e minimizar a dor que estamos sentindo”, afirma o presidente da Liga, Anderson Magalhães.

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