O Conselho Deliberativo do Cruzeiro autorizou, na noite de ontem, que a diretoria prossiga na negociação para conseguir empréstimo no valor de R$ 300 milhões em instituição financeira internacional. O objetivo é centralizar a maior parte das dívidas do clube em um único local e, assim, não só obter taxas mais vantajosas como também evitar punições graves, inclusive no campo esportivo – apenas na Fifa são cerca de US$ 6 milhões (aproximadamente R$ 22 milhões) em cobranças que podem levar até ao rebaixamento de divisão no Campeonato Brasileiro.
“Estamos conseguindo financiamento em condições excepcionalmente benéficas para o clube. Vamos trocar dívidas internas com juros altíssimo, de cerca de quase 2% ao mês, por outra de 0,68% ao mês. Foi uma grande vitória, apenas dois votos contrários. Aliás, é até bom isso, pois toda unanimidade é burra”, afirmou o presidente cruzeirense, Wagner Pires de Sá.
Ao todo, 316 conselheiros registraram presença na reunião, sendo que nem todos ficaram até o fim. Somente dois foram contrários, mostrando que a diretoria trabalhou bem nos bastidores para aparar as arestas com quem inicialmente não estava favorável – um dos temores era que patrimônio do clube fosse dado em garantia, o que não será feito.
O ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares, em cuja administração foram efetuadas as contratações que geraram as dívidas, pediu a palavra para expor o ponto de vista dele. Não se opôs à contratação do empréstimo, que, na avaliação da atual diretoria, possibilitará repactuar cerca de 80% dos débitos celestes – além da Fifa, há dívidas com Receita Federal, instituições financeiras e empresários.
“Surpreendentemente, a reunião que se pronunciava bastante tumultuada transcorreu na maior tranquilidade”, disse o vice-presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, José Dalai Rocha. “Demos um passo para concretizar o negócio. Não está assinado ainda. Precisava desse respaldo do Conselho, para dar força para decisão da diretoria.”
MUDANÇA Pelo que está inicialmente acordado, o Cruzeiro pegará o dinheiro e terá um ano e meio de carência. Passado o prazo, o pagamento será feito em sete parcelas semestrais.
Na opinião do ex-presidente César Masci, que administrou o clube entre 1991 e 1995, o plano apresentado pela atual diretoria é bom. Porém, será preciso mudar a mentalidade para o clube se manter saudável financeiramente.
“O Cruzeiro tem plenas condições de pagar o empréstimo. Agora, precisa rever a política de contratações, parar de pagar salários que não são condizentes com a realidade brasileira. Os clubes perderam um pouco a noção de valores, está inviável trazer jogador de fora. A não ser que ele aceite se adequar à condição do clube. Quando eu e meus irmãos dirigimos o Cruzeiro, não gastávamos mais que arrecadávamos. Pegamos o clube endividado, menos que agora é verdade, mas endividado; e honramos os compromissos vendendo os valores que formamos nas categorias de base, como (o zagueiro) Geraldão, o (armador) Careca e o (volante) Douglas. Depois, pudemos buscar jogadores como (o atacante) Charles e o (goleiro) Dida”, argumentou o ex-dirigente, que sucedeu os irmãos Benito Masci (1985-1990) e Salvador Masci (1991) no comando do clube e deu lugar a Zezé Perrella.