Já fui atleta da base do Vasco da Gama. Morava em São Cristóvão, era flamenguista, mas sócio do Clube de Regatas Vasco da Gama. Um dia sonhei ser jogador de futebol, e modéstia à parte jogava bem. Porém, meu pai, militar, severo, me mandou parar de jogar para estudar, pois o horário dos treinos coincidia com os meus estudos. Questionar pais naquela época, 1970, era impensável. Imediatamente, abandonei o futebol e meu sonho, me contentando com as peladas de rua. Porém, fiz jornalismo na Universidade Gama Filho e, de forma direta ou indireta, trabalho com o futebol.
Meu sonho de ser jogador era o mesmo dos 10 jovens rubro-negros que perderam a vida no trágico incêndio no Ninho do Urubu, sexta-feira. Garotos que sonhavam em dar uma vida melhor aos familiares, com a fama e o estrelato.
Um sonho ceifado pelo fogo, que, segundo o Corpo de Bombeiros, começou num ar-condicionado. Por sorte, a maioria dos jovens não estava nos alojamentos, pois recebeu folga por causa da tragédia causada pelas chuvas de quinta-feira, no Rio de Janeiro. Um fato novo chamou a atenção, e o que parecia ser fatalidade se tornou crime. O Corpo de Bombeiros não deu permissão, nem alvará, para que aquele espaço funcionasse como hotel, concentração ou hospedagem para os garotos. O Flamengo foi multado 30 vezes, nos últimos tempos, mas a diretoria anterior e a atual se omitiram. Isso é crime, grave, e os responsáveis têm que ser apontados e punidos.
Chega de vermos tantas tragédias no país, vidas perdidas e ninguém vai para a cadeia. Fosse nos Estados Unidos, os culpados pegariam prisão perpétua ou pena de morte, pois a morte de 10 crianças é gravíssimo.
Outra coisa que me incomoda é ver nas redes sociais as pessoas se referindo ao Flamengo como vítima. Vergonha. As vítimas são as crianças e suas famílias. São os familiares que precisam de apoio moral, espiritual e psicológico. Quem é pai sabe o que representa um filho em nossas vidas. Esse negócio de que “somos todos Flamengo”, “somos todos Marielle”, no caso da vereadora assassinada no Rio, para mim não cola. Sou pelo direito e pelo correto, e o que me importa agora é que as famílias sejam confortadas de alguma forma, pois o mais importante, que é a vida dos meninos, não tem como voltar. E que, num segundo momento, o clube consiga uma forma de ressarcir financeiramente cada família.
Ao cometer o crime de construir um alojamento numa área não permitida, o Flamengo assumiu a culpa e responsabilidade pela tragédia. Que o clube e seus dirigentes (atuais e a última diretoria) assumam a responsabilidade e sejam punidos, de acordo com a lei. Sabemos que no Brasil as leis existem, mas as penas são brandas. Gente, morreram 10 garotos, jovens, sonhadores, com um futuro pela frente. Isso é gravíssimo! Garotos de 14, 15, 16 anos... Que estavam longe das famílias em busca do sonho da casa própria, de conforto maior para pais, mães e irmãos. Uma tristeza sem fim. Depois de a porta arrombada, fala-se em fazer uma revisão em todos os cts dos clubes de futebol, para evitar tragédias como essa. Por que essa revisão não foi feita antes? Por que o Flamengo não interditou a área e protegeu os meninos?
Que Deus conforte as famílias e que os três jovens, internados num hospital da Barra da Tijuca, possam se recuperar. Mais uma tragédia para um povo tão sofrido, tão maltratado.
Libertadores
O Independência estará lotado amanhã, para uma grande decisão entre Atlético e Danubio. O Galo tem a vantagem de empatar por 0 a 0 ou 1 a 1 que, ainda assim, estará na próxima fase da Copa Libertadores. Como muito bem disse o prefeito de BH, Alexandre Kalil, maior e mais vencedor presidente da história do clube e que faz uma das mais sérias e competentes gestões de uma capital, “para a cidade, ter Atlético e Cruzeiro na Libertadores gera recursos, movimenta a economia, e projeta Belo Horizonte”.
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