Ao longo de seus 110 anos de fundação, as cores alvinegras acompanharam o Atlético em muitos jogos, excursões e títulos pelo Brasil e pelo mundo. Mas, numa ocasião mais do que especial, o Galo deixou de ser preto e branco e vestiu o simbólico verde-amarelo da Seleção Brasileira. Há exatos 50 anos, em 19 de dezembro de 1968, o time mineiro, comandado pelo histórico técnico Yustrich, usou as cores do escrete canarinho na vitória de virada sobre a antiga Iugoslávia por 3 a 2, no Mineirão, numa das partidas mais emblemáticas do clube.
Quando desembarcou no território brasileiro para jogar alguns amistosos, a seleção europeia vivia grande momento após o vice-campeonato da Eurocopa, em junho. A base daquela equipe que perdera para a anfitriã Itália em Roma, entretanto, havia sido bastante modificada pelo técnico Rajko Mitic para a viagem às terras tupiniquins. Dois dias antes de enfrentar o Atlético, os europeus haviam empatado com o time titular do Brasil – com Pelé em campo – por 3 a 3, no Maracanã.
O Atlético teve autorização da então Confederação Brasileira de Desportos (CBD) para usar sua equipe com o uniforme do Brasil. O Galo contava com jogadores emblemáticos, como o goleiro Mussula, o zagueiro Grapete, os meia-atacantes Amauri Horta e Lola e os atacantes Tião e Ronaldo. O alvinegro passava por um período de ascensão no futebol brasileiro, que culminou na conquista do Campeonato Brasileiro de 1971.
“Eu me senti honrado com aquele jogo. Um time inteiro, um grupo, um departamento de futebol se preparando para o jogo.
Hoje vivendo em Pouso Alegre, Grapete destaca a qualidade do time alvinegro que o levou a vencer a Iugoslávia: “O Lola era o melhor do nosso time, jogando como armador. O Tião era nosso centroavante. E o Normandes, meu companheiro de zaga, fazia na época grandes jogos, mostrando comprometimento enorme. Outra peça importante foi o Vanderlei, que eu já conhecia antes. Foi eu que o indiquei para o Atlético.
VIRADA E EXPULSÃO No Gigante da Pampulha, o tradicional time dos Bálcãs até saiu na frente no amistoso e depois ampliou, com gols de Musemic e Nenad Bjekovic, com poucos minutos de jogo.
“Todo atleta tinha o sonho de vestir a camisa da Seleção Brasileira, a maior seleção do mundo. Todos nós estávamos muito orgulhosos. Foi praticamente meu único jogo pela Seleção. Nesse dia, a expectativa era muito boa. A torcida, que normalmente gritava Brasil, passou a gritar Galo”, recorda Ronaldo, que seria campeão nacional em 1971.
Ainda que não tenha imagens no Brasil do confronto, o ex-ponta-direita não se esquece do lance de seu único gol com a camisa da Seleção e que garantiu o resultado positivo: “O Vaguinho tabelou com o Lola e passou para o Amauri, que vinha por trás. O Amauri me passou a bola, eu entrei pela direita e bati forte. Foi um bonito gol”.
Foi nessa partida que Yustrich, técnico conhecido por ser linha-dura, roubou a cena ao ser expulso.
Amauri lembra como foi o episódio e se recorda de uma brincadeira entre os jogadores na época. “O Yustrich foi me dar um abraço. Como ele era um ‘monstro’, muito grande, me cobriu com os braços. E acabou expulso por entrar no gramado sem permissão. O Tião, brincando, disse em algumas rádios: ‘Em alguns, ele dá porrada. Em outros, dá beijo’”.
FICHA TÉCNICA
BRASIL (ATLÉTICO) 3 x 2 IUGOSLÁVIA
Brasil (Atlético): Mussula; Vander, Grapete, Normandes (Djalma Dias) e Décio Teixeira; Vanderlei Paiva e Amauri Horta; Ronaldo, Vaguinho, Lola e Tião (Caldeira)
Técnico: Yustrich
Iugoslávia: Ivan Curkovic; Pavlovic (Holzer), Paunovic, Dojcinovski e Aliksik; Nujkic (Aciomovic) e Musemic (Belin); Tesan, Bjekovic (Katic), Bukal e Spasovski.
Técnico: Rajko Mitic
Estádio: Mineirão
Gols: Musemic 6, Bjekovic 9, Vaguinho 32 e Amauri 46 do 1º; Ronaldo 9 do 2º
Árbitro: Ramón Barreto (URU)
Assistentes: Armando Marques (BRA) e Miguel Angel Comesaña (ARG)
Pagantes: 37.592
Renda: NCr$ 116.870
MEMÓRIA
Privilégio de poucos
Ao longo de sua história centenária, a Seleção Brasileira foi representada por outras três equipes. Em 7 de setembro de 1965, na inauguração do Mineirão, o Palmeiras, que tinha um dos maiores times da época, venceu o Uruguai por 3 a 0 atuando com a camisa verde-amarela. O jogo se tornou emblemático porque foi a única vez em que o técnico da Seleção foi um estrangeiro, o argentino Filpo Nuñez, comandante alviverde. No mesmo ano, em 16 de novembro, foi a vez de o Corinthians jogar com a camisa da Seleção, contra o Arsenal, em Londres – treinados por Oswaldo Brandão e José Teixeira, os brasileiros perderam por 2 a 0, no Estádio Highbury.