O goleiro Fábio é o Cabo Daciolo do futebol brasileiro. Glória a Deus! Sua devoção é tamanha, que acabou por cometer um pecado: apropriou-se do homem lá em cima. Acha-se “o escolhido”. Se faz uma grande defesa, não foi ele, mas Ele. Quando o Cruzeiro vence, é sempre por interferência externa, uma manobra extracampo operada do além pelo sósia de Karl Marx.
Evidentemente que isso despertou em mim, um adepto da Igreja Universal do Reino do Galo, uma certa antipatia de Deus. Todo fim de jogo, lá estava o Fábio a revelar o 12º jogador, aquele que nunca esteve inscrito no BID, completamente em desacordo com as regras do ludopédio: “Foi Deus! Essa vitória é de Deus! Glória a Deus!”. Cada vez mais, foi ficando claro que Deus tinha lado, e não era o meu.
A bem da verdade, meu afastamento de Deus começou na Libertadores de 1981. Depois de termos sido roubados pelo Flamengo na final do Brasileiro de 80, veio a chance da desforra no ano seguinte.
Em algum momento de sua carreira, Deus foi jogar no Corinthians, sempre ajudado, naquela fase que ficou conhecida como “Deus é Fiel”. Houve também uma passagem relâmpago pelo Fluminense, quando este se tornou milagrosamente incaível. Por fim, seu passe acabou negociado com o Cruzeiro.
“Foi quando me lesionei, na final do Campeonato Mineiro, que eu me choquei com a trave e rompi o joelho. E era decisão de campeonato. Mesmo assim continuei no jogo, não tinha mais substituição. Teve o terceiro gol, que foi o pênalti, fiquei irado, e era o momento que Deus tinha preparado. Não tinha sido pênalti, mas o juiz tinha dado. Quando recomeça o jogo, eu fui pegar a bola dentro do gol, que era a do pênalti. Foi quando eu vi a outra bola passando assim, não sei de onde apareceu. Tinha que acontecer.
Ao ouvir Fábio, e certamente imbuído de algum raro espírito natalino, pensei em quantas bolas entraram no meu gol em 2018. Foram tantas e tão variadas, que eu ia buscar uma lá dentro, e nem bem a tinha alcançado, via outra passando assim, não sei de onde aparecia. Em 2018, não houve um ser humano sobre a Terra que não tenha ganhado o sobrenome de Fábio de Costas: José de Costas, Maria de Costas, Alfredo de Costas, Frederico de Costas.
O Ano Novo é uma nova janela de transferência que se abre. Bombardeados na retaguarda, ganhamos o direito de falar com Deus. Precisamos cooptá-lo imediatamente.
O mais apto a falar com Ele sobre o nosso interesse é, sem dúvida, São Victor. Está autorizado. Fale sobre o melhor CT do mundo, o novo estádio, ofereça um “proxeto”. Mas diga, sobretudo, que a gente merece, que já sofremos o suficiente nesses últimos anos, e que as glórias de 13 e 14 não pagam nossas duplicatas. Explique que em 19 precisaremos do ópio do povo em estado de arte. Mas tome cuidado: há por aí um Deus falsificado pelos charlatões. Esse é igual o irmão do Anelka, não representa.
Com Deus no BID e no coração, desejo a todos os atleticanos um feliz Natal e um ano novo próspero em Conquistadores da América e Brasileirão.