Para os torcedores de Atlético e América, o Campeonato Brasileiro chega à derradeira rodada com aquela sensação de capítulo final de novela. O suspense é bem ao estilo do saudoso “quem matou Odete Roitman?”. Conseguirão Galo e Coelho se despedir da temporada com seus objetivos alcançados? Depois de tantos altos e baixos ao longo da temporada, haverá um happy end escrito em letras garrafais após o último ato? Aos jogadores, treinadores e dirigentes, caberá o papel de mocinhos ou a alegoria de bandidos? Ao apito final do jogo de amanhã, contra o Botafogo, sairá a torcida alvinegra feliz do Horto, com a vaga na Copa Libertadores assegurada? No domingo, poderão os americanos comemorar a permanência na elite, depois da partida contra o Fluminense, no Rio?
Ao analisar a trajetória de Atlético e América no Nacional, a primeira conclusão à qual se chega é a de que o roteiro não precisava ser tão sofrido. Um sanguezinho a mais naquela derrota que você julgava inofensiva, uma batida mais caprichada na bola naquele gol que você achou que não faria falta e a parada estaria definida há mais tempo. Não era necessário deixar para o último minuto do último jogo. Mas aí ganha sentido aquela velha máxima: “Se pode complicar, para quê simplificar?”.
Vamos aos números para comprovar essa tese. Apenas em três das 37 rodadas do campeonato (na segunda, quando foi o 11º colocado; na oitava, quando ficou em oitavo; e na nona, quando estava em 10º) o Galo ficou fora do G-6 – que garante a vaga, pelo menos, na fase preliminar da Libertadores. No G-4, que assegura lugar diretamente na etapa de grupos do torneio continental, foram 12 rodadas, sendo duas como vice-líder e uma como primeiro colocado.
Nos últimos meses, contudo, ficou a leve impressão de que a Libertadores era uma espécie de amor não correspondido pelo Atlético.
Agora, o time atleticano chega à última rodada dependendo apenas de si para comprovar que o amor é pra valer.
A situação do América é bem semelhante. Das 37 rodadas, apenas em sete o Coelho esteve na temida zona de rebaixamento. O problema é que nada menos do que seis foram, justa e consecutivamente, na reta final – para mostrar o tamanho do estrago de forma mais precisa, basta pontuar que isso ocorreu nas últimas seis rodadas.
Até a 28ª rodada, a trajetória do Coelho poderia não fazer os olhos do americano brilhar, mas o desempenho irregular em campo ainda não tinha produzido efeito negativo na classificação. Até aquela altura do campeonato, a equipe oscilava entre os nono e o 13º lugar, e o Z-4, por mais assustador que fosse, ainda não se configurava num monstro tão ameaçador.
Na 32ª rodada, o América completou nove jogos sem vencer com a derrota para o Cruzeiro (2 a 1) e retornou ao grupo da degola – que havia visitado, brevemente, na 14ª rodada. De lá não saiu mais. A queda ganhou contornos dramáticos quando o time perdeu para o já rebaixado Paraná, no Horto, e caiu para a vice-lanterna.
Mas para não dizer que só falei das flores... Derrota no Maracanã jogará o Fluminense na fogueira, e pode o tricolor acabar rebaixado, caso Vasco (que visita o Ceará) e Chapecoense (que recebe o São Paulo) ganhem seus jogos. Portanto, a missão do América não é nada fácil. Mas, nos melhores scripts, é assim que se forjam os heróis.
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