Uma luta complexa, em uma fase que deveria ser sinônimo de leveza e brincadeira. No Brasil, o câncer é uma realidade presente na vida de inúmeras crianças. Drama que já é a primeira maior causa de mortes por doenças no país entre crianças e adolescentes de um a 19 anos, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).





 

Segundo a instituição, 80% dessas crianças e adolescentes seriam curados com o tratamento necessário e o diagnóstico precoce da doença. Porém, são nesses pontos que mora o grande "x" do problema. Neviçolino Pereira de Carvalho, oncologista pediátrico, ressalta que há avanços, mas alguns dilemas, como remédios de alto custo e falta de assistência especializada para auxiliar essas crianças, são grandes entraves.

 

"Sabemos que alguns tumores existentes são curados somente com quimioterapia convencional. Mas outros, não. E novas imunoterapias, anticorpos biclonais, monoclonais e terapia-alvo chegam com um preço muito alto no mercado", explica o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope).

 

Muitos desses medicamentos têm comprovação científica de que seu impacto aumenta a chance de cura desse grupo. Entretanto, ainda não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). No Brasil, há toda uma regulamentação para a inclusão dessas novas terapias. Etapas e prazos que precisam ser cumpridos corretamente, desde a fase inicial, que envolve o reconhecimento e a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).





 

Depois desse primeiro passo, é preciso, ainda, que a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) faça a avaliação do medicamento para reconhecer seu impacto e eficácia no paciente. Em seguida, um dos principais pontos é analisado e posto à prova: como distribuir o insumo pelo SUS. "Esse processo pode durar até um ano", afirma Neviçolino.

 

De concreto no cenário em relação à possibilidade de terapias, há várias formas de extrema importância. Em especial da leucemia linfoide aguda (LLA) — tipo de câncer presente no sangue e na medula, capaz de afetar os glóbulos brancos, e o mais comum na infância. "Esse é muito necessário, principalmente nos casos em que os pacientes não respondem ao primeiro tratamento ou naqueles em que houve o controle da doença, mas o indivíduo acabou recidivando", detalha

 

O medicamento mencionado por Neviçolino é o Blinatumomab, imunoterápico considerado por muitos profissionais como um dos grandes avanços da medicina nos últimos anos. "Essa nova terapia revolucionou o cenário porque é uma medicação que, quando utilizada, consegue controlar novamente a doença. E conseguindo isso, temos como consolidar a remissão com o transplante de medula", descreve.

 

CURA Uma das crianças espalhadas pelo país com diagnóstico de LLA é Raíssa Batista, de 12 anos, que descobriu a doença em julho de 2020. A princípio, como relata a mãe, Rosania Batista, de 35, os sintomas eram dores de barriga, que aumentavam gradualmente ao longo dos dias.





 

As duas, que vivem em São Paulo, logo correram para o médico com a pequena, pensando que se tratava de algo bem simples. Depois de várias semanas à espera do resultado, ele, enfim, veio. "Era leucemia. Quando o diagnóstico dela chegou, foi devastador. Você não imagina passar por isso, muito menos o seu filho. É uma doença muito difícil", conta Rosania.

 

Um período complicado, ainda mais por ter outra filha pequena, de 2 anos. Mesmo assim, ela diz que recebeu um suporte maravilhoso da família durante todo o processo de tratamento. Com a iminente dificuldade de auxílio, dada a dimensão da doença, encontrou, em uma associação para crianças e adolescentes com câncer, chamada Tucca, um lugar com equipe de enfermagem, médicos e uma ótima estrutura para acompanhar Raíssa.

 

Lá, mãe e filha tinham tudo o que precisavam para ir em busca da cura da garota. Tratamentos diários, quimioterapias e muitas consultas. "Os efeitos da doença foram devastadores. Minha filha até parou de estudar. Ela foi uma guerreira", relembra.

 

Apesar dos contratempos durante a quimioterapia, a primeira semana de Raíssa foi muito positiva, como recorda Rosania. Ela era forte e corajosa, segundo a mãe. Depois de quase três anos, hoje, a pequena está curada. E vive como uma criança deve viver: feliz. "Graças a Deus, a Raíssa se recuperou e está de alta. Desde então, não há mais nenhum remédio que ela tome."

compartilhe