Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Antes de exames, médico e paciente devem conversar para avaliação clínica

(foto: Karen Ramos/Divulgação )


Há pacientes de todo tipo. Há aqueles que deixam o consultório reclamando que a consulta foi rápida, sem conversa, e os que questionam que nenhum exame foi pedido. A advogada Laura Puntel conta que nunca passou por uma condição clínica complicada a ponto de ter uma experiência negativa. “Ao ir ao médico, já esperamos mais ou menos quais exames ele vai pedir. Acredito que a experiência desses profissionais naquilo que eles se especializaram é muito válida e o exame clínico feito em consultório é fundamental.” 
 
Esse é, inclusive, o primeiro passo. Não adianta pedir vários exames de imagem se antes não houver uma avaliação física muito bem-feita e uma conversa longa sobre o que está causando o incômodo. Para isso, é necessário sabermos escolher qual será o médico que irá nos atender para depositarmos total confiança no diagnóstico que ele nos der. 




 
Laura Puntel destaca que jamais passou por nenhum problema grave na relação médico-paciente, como falta de exames ou exames desnecessários. “Já tive uma outra experiência, com uma médica que também é amiga. Fiz uma consulta e ela imaginou o que eu tinha. Em seguida, pediu o exame que comprovou o que ela imaginava. Ou seja, mais do que o exame, a experiência médica conta muito para que se estabeleça uma relação de confiança entre paciente e médico. É necessário que ocorra uma boa conversa, em que o profissional examinará o indivíduo e, se achar que algum problema precisa ser investigado, vai pedir exames para comprovar a suspeita e, então, dar um diagnóstico certeiro.”

FÁBRICA DE EXAMES

Para a advogada, “existem médicos e médicos. Há aqueles que você chega ao consultório, eles pedem exame, olham o resultado sem nem encostar em você. É como se fosse uma fábrica de exames e apenas exames. É muito importante sentar com o médico, conversar, explicar seu caso para que, a partir daí, ele possa examinar e realmente ter um diagnóstico preciso. Eu, graças a Deus, nunca tive problemas em relação a isso”.
 
Desde 2017, Laura conta que enfrenta uma hérnia de disco. “Quando tive uma crise, nesse período, não precisei fazer cirurgia. Fiz apenas um tratamento com medicamentos, pilates e exercícios físicos. Não precisei da fisioterapia, então não era tão sério como estava agora, recentemente. Faço acompanhamento desde então e, sempre que preciso, vou ao consultório. Nesses anos todos, tive que fazer duas ressonâncias magnéticas: uma quando tive a crise pela primeira vez, em 2017, e uma agora, em 2022”, comenta. 




 
“Foi bom, porque eu e o Dr. Daniel fizemos um comparativo e vimos que realmente havia dado uma deteriorada na hérnia. Antes de fazer a cirurgia, tentamos métodos mais tradicionais, mas minha dor estava muito forte e atrapalhando minha qualidade de vida. Cheguei ao ponto de não conseguir ficar sentada durante cinco minutos. Isso fazia com que houvesse um ardor em minha perna na região do nervo ciático. A cirurgia foi, sem dúvida, a melhor decisão que eu e Daniel tomamos juntos. Foi o que de melhor fiz por mim.” 

CONTROLE

Já Juliana Umbélino, escritora e empresária, conta que, apesar de ter apenas 32 anos, faz sempre acompanhamento com médico para controle. “E se há necessidade, após exames físicos e uma boa anamnese, o médico pede exames. Isso ocorre sempre que há algo pontual, como uma queda de vitamina D, por exemplo.”

 
Mesmo cuidadosa com o checape, Juliana Umbélino revela que já passou por dissabores diante de uma consulta que não a satisfez. “Passei por uma experiência dessas. O médico não tinha me examinado da forma correta e não me passou o diagnóstico real. Suspeitava que algo não estava normal e tive de procurar outros profissionais, que constataram que eu estava quase perdendo a visão. A partir daí, foi feito um exame de fundo de olho mais detalhado e foi sugerido que eu fizesse um procedimento para melhorar minha condição clínica”, explica.

PERDA DA VISÃO

A escritora e empresária lembra que descobriu que estava perdendo a visão em uma consulta de rotina. “O médico estava fazendo um exame para fazer a cirurgia refrativa, que é para não usar mais óculos. Ele me disse que não era retinólogo, mas que acreditava que eu deveria fazer um exame mais completo de ultrassom da retina, porque algo não estava normal e, a partir disso, saber o que fazer. Não posso fazer a cirurgia refrativa porque tenho doença regenerativa macular da retina. Em algum momento da minha vida vou ficar cega. Então, se não fosse essa consulta pontual, não saberia nunca.”




 
tão de destacar que “amo meus médicos e eles também me amam. Tenho o costume de perguntar muito sobre tudo, para ter certeza de que estou no caminho certo. Tenho consulta regular com psiquiatra, oftalmologista, especialista em coluna e considero que levo bem a sério minha saúde”.
 
Campanha choosing wisely
 
A American Board of Internal Medicine Foundation (ABIM Foundation) lançou em 2012 a campanha Choosing wisely, que em português significa “escolhendo sabiamente”. A ideia é avaliar o que é necessário ou não para proporcionar um cuidado mais seguro e eficaz. De acordo com a ABIM Foundation, mais de 70 sociedades médicas já publicaram 400 recomendações de exames e tratamentos que devem ser rediscutidos quanto à sua eficácia clínica. Diversos países já participam da campanha, como Alemanha, Canadá, Inglaterra e Japão. No Brasil desde 2015, o Choosing wisely já tem a adesão da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). A Academy of Medical Royal Colleges, que reúne 21 escolas de medicina do Reino Unido, já publicou relatório com 40 procedimentos médicos que trazem pouco ou nenhum benefício aos pacientes. Já na página da ABIM Foundation você tem acesso à lista de todas as especialidades e, também, recomendações para os pacientes.
 
Choosing Wisely no Brasil

A exemplo do que vem acontecendo pelo mundo, o movimento Choosing wisely do Brasil tem engajado as sociedades médicas na discussão. 

A ideia é que cada especialidade se sinta à vontade para aderir à campanha e contribuir com uma lista com cinco recomendações de procedimentos que podem ser evitados.



A SBC (http://educacao.cardiol.br/choosing/lista.html) e a SBMFC (https://www.sbmfc.org.br/choosingwisely/index.php/nossas-recomendacoes/) já formularam suas recomendações e publicaram em seus respectivos portais da internet


Perguntas-chave

As cinco perguntas que você precisa fazer ao médico antes de um procedimento, exame ou tratamento são:

1 – Eu realmente preciso deste procedimento ou exame?

2 – Quais são os riscos? 

3 – Há opções mais simples e seguras?

4 – O que acontece se eu não fizer nada?

5 – Quanto custa?


As recomendações para as crianças*

Entre as recomendações feitas em parceria entre o Choosing Wisely e a Academia Americana de Pediatria, estão:

- Antibióticos não devem ser usados em casos de doenças respiratórias aparentemente virais (sinusite, faringite, bronquite)

- Tomografias computadorizadas não são necessárias na avaliação de crianças com traumas leves na cabeça

- Ressonância magnética e tomografia computadorizada não são necessárias em casos de convulsões febris isoladas

- Tomografia computadorizada não é necessária em avaliação de rotina para dor abdominal

*Fonte: Hospital Infantil Sabará

Choosing wisely SBC Brasil 

Na lista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) estão as seguintes recomendações:

1 – Não realizar de rotina intervenção coronária percutânea em indivíduos assintomáticos e com boa função
ventricular esquerda

2 – Não fazer abertura tardia de artéria relacionada ao infarto em pacientes assintomáticos

3 – Não realizar pesquisa não invasiva de doença coronariana obstrutiva como exame pré-operatório de cirurgia não cardíaca em indivíduos assintomáticos e com capacidade funcional satisfatória

4 – Não realizar escore de cálcio seriado como acompanhamento da evolução de aterosclerose coronária subclínica

5 – Não realizar ecocardiograma seriado para monitorização de disfunção valvar discreta.