Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Tanto o cigarro comum como o eletrônico são nocivos à saúde

Os cigarros eletrônicos surgiram na China, em 2003, e o uso no Ocidente cresceu acentuadamente nos últimos 10 anos. Nos próximos anos, a cada dia serão mais frequentes as publicações ligando o consumo de cigarros eletrônicos a determinado câncer. “Entretanto, são necessários novos estudos, com redução dos fatores de confusão, como o cigarro tradicional. As pesquisas devem envolver grande número de pacientes, com avaliações de longo prazo, para compreendermos com mais clareza a relação de causa e efeito entre o uso dos cigarros eletrônicos e o câncer.”




 
A constatação é de Luiz Fernando Ferreira Pereira, pneumologista do Oncobio, do Grupo Oncoclínicas Belo Horizonte, coordenador do Ambulatório de Asma Grave e de Cessação do Tabagismo do Hospital das Clínicas – UFMG e chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital Biocor, da Rede D’OR.
 
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“Os cigarros eletrônicos não liberam fumaça, e ,sim, um vapor. E embora liberem menos substâncias do que os cigarros tradicionais, seu vapor contém muitas substâncias com risco para a saúde, incluindo nicotina, propilenoglicol, glicerina vegetal, saborizantes, aldeídos, metais pesados e nitrosaminas. As novas gerações de cigarros eletrônicos liberam maiores quantidades de nicotina, metais pesados e partículas finas do que a quantidade liberada na fumaça dos cigarros comuns”, afirma o pneumologista. 

 
Os estudos em ratos e em células humanas comprovam que os compostos do vapor reduzem a imunidade pulmonar, inflamam as mucosas, reduzem a depuração mucociliar (limpeza das vias aéreas), lesam o DNA das células, alteram a parede dos vasos sanguíneos e aumentam o risco de câncer”, alerta o pneumologista. 




Cigarro eletrônico é associado a diversos tipos de câncer

Luiz Fernando explica ainda que estudos populacionais demonstram a associação do uso de cigarro eletrônico com diversos tipos de câncer, especialmente o de bexiga e o de pulmão. “Entretanto, são necessárias mais pesquisas para ratificar esses resultados iniciais.”

O que é largamente comprovado é que, enfatiza o médico, a fumaça do cigarro tradicional tem mais de 60 cancerígenos e causa dezenas de cânceres, especialmente da orofaringe, vias aéreas e pulmões. “Mais de 85% dos cânceres de pulmão são causados pelo tabagismo. A predisposição genética, o número de cigarros fumados e a duração do tabagismo são fatores primordiais para o surgimento do câncer de pulmão.” 

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No entanto, o especialista lembra que os cânceres com poucos sintomas, ou sintomas iniciais inespecíficos, como o de pulmão, são geralmente diagnosticados tardiamente, e nas fases avançadas da doença a resposta ao tratamento é muito baixa. “Por esses motivos, os pacientes com risco de câncer, especialmente os fumantes, podem se beneficiar do rastreamento da doença por meio de exames e antes do surgimento dos sintomas. O diagnóstico precoce aumenta acentuadamente a chance de cura, especialmente do câncer de pulmão.”
 
O pneumologista Luiz Fernando Ferreira Pereira diz que trocar o cigarro tradicional pelo eletrônico não é uma boa alternativa, uma vez que o fundamental é cessar o tabagismo (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
 

Risco dobrado

Conforme Luiz Fernando, o uso dual de cigarros, ou seja, o tradicional e o eletrônico ao mesmo tempo, aumenta os riscos de doenças, incluindo o câncer. “De um modo geral, os riscos de câncer aumentam de acordo com a predisposição genética, a idade, a poluição ambiental, as exposições intradomiciliares e no trabalho, e os hábitos de vida não saudáveis, como o exagero de bebidas alcoólicas e o tabagismo. Trocar o cigarro tradicional pelo eletrônico não é uma boa alternativa, uma vez que o fundamental é cessar o tabagismo. O SUS disponibiliza tratamento gratuito do tabagismo com boas taxas de cessação. Os órgãos do nosso corpo, especialmente os pulmões, são sensíveis às dezenas de compostos do vapor dos cigarros eletrônicos, aumentando os riscos para a saúde e ainda podem causar novas doenças após o uso prolongado”. 




Potência da nicotina

Luiz Fernando avisa que a nicotina é um potente causador de dependência, em geral maior que a do álcool e similar à de muitas drogas ilícitas. “O prazer e o bem-estar causados pelos neurotransmissores liberados após a inalação da nicotina são grandes e, quando combinados com os hábitos e condicionamentos, ajudam a manter o uso do tabaco mesmo com o fumante sabendo que corre o risco de dezenas de doenças e de redução da sua expectativa de vida em até 12 anos. Para muitos fumantes, fumar se torna imprescindível na vida, tanto nos momentos bons quanto nos ruins”.
 
Na luta contra o tabagismo, o pneumologista destaca que o Brasil é exemplo mundial por reduzir  suas taxas de tabagismo. De 34%, na década de 1980, para menos de 10%, em 2021. “O uso dos cigarros eletrônicos já se tornou uma verdadeira “epidemia” em muitos países. Em nosso meio, aproximadamente 20% dos escolares vaporizaram cigarro eletrônico nos últimos 30 dias (estudo PeNSE), mesmo com a sua propaganda e venda sendo proibidas pela Anvisa. Isso se deve em parte ao apelo tecnológico, ao fato de ser uma novidade, à grande quantidade de nicotina liberada pelos cigarros eletrônicos de 4ª geração e pelo fato de muitos jovens acreditarem, erroneamente, que estão inalando apenas um inocente vapor.” 
 
O especialista destaca que os jovens precisam entender que estão inalando dezenas de substâncias com risco para a saúde, incluindo asma, bronquite, tosse, câncer, enfisema e até insuficiência respiratória aguda e febril, a Evali. “Essa doença causou milhares de internações e muitas mortes na América do Norte em 2019 e 2020, após o consumo de vapor dos cigarros eletrônicos contendo vitamina E e derivados de maconha.”
 
Para o pneumologista, a proibição dos cigarros eletrônicos pela Anvisa é importante, mas não resolve o grave problema, uma vez que os cigarros eletrônicos continuam sendo comercializados facilmente na internet, na porta de bares e restaurantes, e nos grandes eventos sociais frequentados pelos jovens. “A fiscalização e a punição aos vendedores ainda são mínimas e precisam ser aumentadas. Por esse motivo, é fundamental educar e orientar os jovens sobre os prejuízos causados pelos cigarros eletrônicos.”




 
Fumantes de cigarro eletrônico têm de saber:

  • O vapor contém muitas substâncias prejudiciais à saúde
  • Os cigarros eletrônicos liberam mais nicotina no seu vapor do que os cigarros tradicionais
  • Ao consumir eletrônicos, os usuários têm alto risco de se tornar dependentes da nicotina
  • A nicotina aumenta o risco de dependência de outras drogas
  • O cigarro eletrônico triplica os riscos de iniciarem o uso dos cigarros tradicionais
  • Muitos compostos liberados no vapor, especialmente o material particulado fino, persistem nos ambientes e podem prejudicar outras pessoas
  • Os cigarros eletrônicos podem causar insuficiência respiratória grave e até a morte
  • s cigarros eletrônicos não devem ser consumidos

Fonte: Luiz Fernando Ferreira Pereira, pneumologista do Oncobio, do Grupo Oncoclínicas Belo Horizonte