Jornal Estado de Minas

COVID-19

Nova subvariante da ômicron consegue escapar mais de anticorpos; saiba como se proteger

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A chegada da subvariante ômicron BQ.1 ao Brasil gera preocupação em especialistas por sua capacidade de escapar de anticorpos e amplia a importância das doses de reforço.

A nova linhagem é responsável pelo recente aumento de casos nos Estados Unidos e na Europa e já foi identificada no Amazonas, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.





 

"Ela consegue fugir dos anticorpos, tanto produzidos por quem se vacinou quanto pela infecção natural, o que aumenta a capacidade dela de causar infecção", diz Alberto Chebabo, presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

O infectologista Francisco Ivanildo Oliveira Junior, gerente médico do Hospital Infantil Sabará, explica que a subvariante apresenta uma modificação no formato da proteína reconhecida pelos anticorpos, dificultando seu encaixe e, consequentemente, sua eficácia no combate ao invasor.

 

 

 

"Imagine cópias de chave. Se o chaveiro não faz uma chave exatamente igual, às vezes, a cópia até consegue abrir a fechadura, mas ela abre com um pouco mais de dificuldade e, dependendo da alteração, nem entra na fechadura. É isso que vai caracterizando as mutações, são pequenas mudanças nesse mecanismo de encaixe", comenta.





 

Após semanas sem registro de COVID-19, o Sabará atendeu recentemente 14 crianças com a doença, oito delas entre os dias 26 de outubro e 1º de novembro.

 

Leia também: BQ.1: o que se sabe sobre variante da ômicron descoberta no Brasil 

 

No caso da BQ.1, como os anticorpos têm maior trabalho para se ligar ao vírus, é preciso ter mais deles para um combate efetivo. "A vacina estimula a produção de anticorpos, mas depois de algum tempo essa produção começa a cair e, como esse anticorpo não tem uma afinidade tão boa com o vírus, preciso de uma quantidade maior para compensar a deficiência nas ligações", afirma Oliveira Junior.

 

E a melhor forma de conseguir manter em alta o número de anticorpos, apontam os médicos, é seguir a vacinação completa contra COVID-19, incluindo todas as doses de reforço recomendadas.

 

"O esquema com duas doses não é suficiente para proteger completamente contra essas novas subvariantes exatamente por esse escape imune, pelas mutações que elas têm", reforça Chebabo.

 

Em declaração publicada no fim de outubro, o grupo consultivo da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre evolução do vírus Sars-CoV-2 reuniu informações sobre duas novas subvariantes da ômicron: XBB e BQ.1. Para os especialistas, elas não divergem o suficiente para ganhar um novo rótulo ou modificar a forma como a COVID-19 vem sendo enfrentada, mas a situação será regularmente reavaliada.





 

De acordo com a OMS, a XBB e suas derivadas são uma recombinação das sublinhagens BA.2.10.1 e BA.2.75 da ômicron. No início de outubro, elas tinham prevalência global de 1,3% e já haviam sido detectadas em 35 países, entre eles Singapura e Índia.

A BQ.1 e sua sublinhagem BQ.1.1, por sua vez, são provenientes da BA.5 e, há um mês, tinham prevalência de 6% e registro em 65 países. No documento, a OMS chama atenção para as mutações dessas subvariantes e o escape imune, mas indica não haver dados que sugiram aumento na gravidade da doença.

 

Para Chebabo e Oliveira Junior, a maior preocupação neste no momento no Brasil é com as crianças. Cidades como o Rio de Janeiro suspenderam a vacinação com Coronavac em crianças de 3 e 4 anos por falta de doses e levantamento do jornal Folha de S.Paulo divulgado nesta segunda-feira (7) mostra que apenas 13,9% dos meninos e meninas nessa faixa etária iniciaram a trajetória vacinal.





 

Para aqueles que têm de seis meses a três anos, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou a vacinação com o imunizante da Pfizer e, apesar de o primeiro lote já ter chegado ao país, a vacinação não foi iniciada.

 

"É importante que o Ministério da Saúde disponibilize rapidamente essas vacinas para toda a população pediátrica, porque hoje, junto com os imunodeprimidos, é a de maior risco", defende Chebabo.

 

"Estamos incorrendo numa falha tremenda porque estamos deixando de proteger um contingente considerável, que tem a chance de se infectar e de evoluir com gravidade", ressalta Oliveira Junior, lembrando que a doença pode levar à SIM-P (Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica), à COVID longa e mesmo à morte das crianças.





 

PERGUNTAS E RESPOSTAS

 

Era esperada a chegada da subvariante BQ.1 ao Brasil?

Sim. Com o aumento de casos nos Estados Unidos e na Europa e a facilidade de locomoção, era iminente a chegada da BQ.1 ao Brasil.

 

Quais são os sintomas da subvariante?

Assim como outras subvariantes da ômicron, a BQ.1 pode causar febre, coriza, sintomas gastrointestinais, dor no corpo, dor de cabeça, dor de garganta e rouquidão.

 

Como se proteger?

Tomar todas as doses de vacina recomendadas para sua faixa etária, incluindo as doses de reforço, é a melhor forma de proteção. Além disso, é importante intensificar a higienização das mãos e, no caso de idosos e pessoas imunodeprimidas, usar máscara em locais fechados ou com aglomeração.





 

Como proteger as crianças que ainda não têm vacina disponível?

Evite levá-las para ambientes fechados ou com aglomeração, como supermercados, shoppings e restaurantes, e caso seja possível fuja também do transporte público.

 

Visitas de familiares e amigos com sintomas respiratórios devem ser adiadas e vale reforçar para todos a importância da higienização das mãos antes do contato com a criança. Caso ela vá para a creche, conheça o funcionamento da unidade, verifique se há pontos adequados para higienização das mãos e se os profissionais estão orientados.