Jornal Estado de Minas

REPORTAGEM Da CAPA

Diálogo é sempre a melhor solução para educar os filhos



A psicóloga Talitha Nobre, do Grupo Prontobaby, referência em pediatria no Rio de Janeiro, reforça que o castigo e a maneira como acontece podem criar uma relação de trauma para a criança, que pode não conseguir mais manifestar os seus sentimentos. Ela pontua ser importante, sempre, conversar e mostrar para a criança o que é certo ou errado. 




 
"Você pode usar o lúdico para mostrar o que está errado, e o cantinho do pensamento às vezes é a opção. Mas é necessário  ter discernimento e entender se essa forma de sinalizar o que é errado vai criar algum tipo de constrangimento para a criança, alguma exposição, até quadros de ansiedade, e isso não é bom", pondera.
 
 
 
Para a psicóloga, não adianta colocar de castigo e não explicar o porquê, e a conversa deve ser a partir de uma linguagem que a criança entenda. "Acredito que o diálogo é mais eficaz do que qualquer castigo. Além disso, qualquer sofrimento que se tem na infância pode gerar situações que a criança vai levar para o resto da vida", pontua Talitha.
 
Luciana Sahb prefere o diálogo na hora de lidar com a pequena Maria Luísa, de 6 anos (foto: arquivo pessoal)
 

FRUSTRAÇÕES E, muito mais grave, uma punição sem esclarecimento pode levar a criança a ser um adulto cheio de frustrações e problemas, alerta a psicóloga. "Isso acontece quando os responsáveis não respeitam as fases de desenvolvimento da criança, que é um ser humano em formação. O castigo sem entendimento pode despertar uma série de problemas psicoemocionais. Não adianta você querer que a criança ande ou engatinhe se ela não tem músculos para isso. É a mesma coisa com o aspecto psíquico. Não adianta querer que a criança entenda uma situação se não está preparada para tal", recomenda Talitha.




 
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A enfermeira Luciana Cerqueira Alves Malveira Sahb, de 37 anos, lembra quando os pais a colocavam de castigo, no canto da disciplina, na época de criança. A sensação, ela relata, era de raiva, não entendia o que estava acontecendo, o porquê da punição. Não havia violência física, mas, para ela, o castigo não ensinava nada. Hoje, com a filha Maria Luísa, de 6 anos, ela faz diferente. Nunca colocou a pequena de castigo – escolhe o diálogo.
 
Luciana se lembra dos desafios que vivenciou com a menina, na fase dos 2 anos, quando acontecem geralmente as atitudes de enfrentamento, de bater, por exemplo. Nesses momentos, ela diz que sempre procurou ensiná-la sobre empatia, evitando que pudesse levar para a vida adulta uma noção de que bater é algo aceitável.
 
"Não gosto dessa ideia do castigo. Prefiro conversar e mostrar o caminho, indicar como pode mudar aquele comportamento. A correção com o castigo pode acabar gerando mais angústia para ela. Busco a direção da correção respeitosa, com amor. O amor não precisa ser violento. Escolho a compreensão, o ensinamento."




 
Para a psicóloga e especialista em inteligência parental Nanda Perim, quando a criança se comporta de uma maneira não desejada, se recusa a cumprir um combinado, é preciso entender o que está acontecendo. Na educação tradicional, a tendência é considerar que a criança está se negando a cooperar porque não quer mesmo, está deliberadamente  querendo teimar, enfrentar ou testar os pais.
 
"Mas em grande parte das vezes, essa criança não está bem. Não está em um dia bom, não dormiu bem, tem alguma necessidade não atendida, está se sentindo inadequada, triste, rejeitada ou muito cobrada. Castigos e punições acabam piorando isso. Apenas alimentam o que estava levando a criança a não cooperar", recomenda Nanda Perim. 

ACOLHER Por outro lado, quando de fato a intenção é entender essa criança, com atitudes de acolhimento, aceitação, transmitindo segurança para a relação entre pais e filhos, essa criança vai cada vez mais ter a liberdade de aprender e expressar o que está acontecendo, diz a especialista.




Nanda Perim lembra que, quando surgiu, a ideia do cantinho do pensamento foi uma revolução, e hoje seus defensores são pessoas que provavelmente utilizaram o método com seus filhos, já que esse era um direcionamento à época. Por experiência própria, a psicóloga diz que apanhou dos pais, teve castigos horrorosos, em suas palavras. "Agora estou descobrindo uma forma mais respeitosa de lidar com meu filho", conta.
 
Para Nanda Perim, a educação punitiva é algo que mina a autoconfiança da criança, a autocrítica, a opinião própria e, principalmente, o autovalor. Quem convive com adultos que castigam, isolam, machucam, provavelmente se torna uma pessoa que relaciona o amor com punição e dor. "Na outra ponta, quando se promove o aprendizado de habilidades, de comunicação, de conhecimento, essa criança vai buscar, por toda a sua vida, ter bons relacionamentos, ter uma vida emocionalmente mais saudável", conclui.
 

Na hora da birra...


Veja o que a psicóloga Talitha Nobre, do Grupo Pronto baby, ensina sobre os momentos das manhas


» A birra é a manifestação de uma insatisfação. Esse desconforto precisa de alguma forma ser expressado e, como a criança ainda não está inserida no campo da fala e não tem repertório psíquico de vida, ela vai fazer birra.





» Primeiro, os pais têm que deixar a criança se acalmar, abraçar a criança. Essa manifestação é uma angústia, a criança está experimentando uma crise de angústia.

» Na hora da birra, deixe a criança chorar e tente acalmá-la sempre, com contato físico, o  abraço. Se for em um lugar público, tente levá-la para um espaço mais reservado. É importante dizer que você está ali do lado e vai ficar tudo bem. Quanto mais você tentar inibir, mais agitada ela vai ficar e maior vai ser a birra.

» Não é ideal atender ao pedido da criança e também não é ideal bater. Com o tempo ela vai perceber que, mesmo fazendo birra, não vai ter o que quer.

» A birra é natural, principalmente, nos primeiros três anos de vida, porque é a única forma que a criança conhece de manifestar uma insatisfação. Até descobrir outras formas, falando, por exemplo, vai fazer birra.





» A criança não sabe lidar com as emoções. Não tem domínio das funções psíquicas, neurológicas e físicas, então a birra é uma forma de colocar isso para fora. A criança pode, inclusive, ter sintomas psicossomáticos por não externar suas emoções. É importante que ela possa manifestar isso de alguma forma, que seja na birra.

» Essas manifestações são comuns e fazem parte do desenvolvimento da criança. Quando isso não passa é importante buscar um profissional, porque ela pode estar desenvolvendo um quadro psíquico.

» Para acalmá-la em relação ao choro, não há um manual de instruções e cada filho demanda um acalanto único – podem ser palavras, abraços e até mesmo tentar desviar a atenção do pequeno para algo que lhe agrade.





» Depois do pico da crise, é importante que os pais continuem próximos dos filhos para respaldá-los. Após o processo estressante, que pode ser um episódio de ansiedade, é importante partir para o diálogo, explicando que os pais entendem os sentimentos da criança e, mais do que isso, que essas sensações são válidas.

» A repetição dos episódios também pede acompanhamento psicológico. Com ajuda profissional, os responsáveis tendem a aprender os melhores recursos para intervir de forma positiva durante a crise de ansiedade da criança, e ela passa a ter um ambiente seguro para aprender a lidar com o turbilhão de emoções que está sentindo.