Jornal Estado de Minas

27 DE SETEMBRO

Dia Nacional de Doação de Órgãos: tema ainda é desafio no Brasil


Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil conta com o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, sendo o Sistema Único de Saúde (SUS) responsável pelo financiamento de cerca de 95% dos transplantes realizados no país. Apesar disso, dados do mesmo órgão do governo federal indicam que nos últimos anos mais de 40% das famílias recusaram a doação de órgãos de seus familiares após a morte encefálica comprovada. Com a pandemia, o cenário foi ainda mais desafiador, com uma queda de cerca de 20% no número de transplantes, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). 




 
 

No transplante de córnea, os obstáculos não são diferentes, daí a relevância do Dia Nacional da Doação de Órgãos (27), que conscientiza a população sobre a importância de um gesto que pode salvar vidas. Um único doador de órgãos pode beneficiar alguns pacientes, com a doação do coração, pulmões, rins, olhos, ossos, pele. "Existe, entretanto, uma vantagem em relação à doação dos olhos, que pode ser feita mesmo com o coração parado, 12 horas após a morte declarada, ao contrário dos demais órgãos, que necessitam do estado de morte encefálica, mas o corpo ainda funcionante", afirma o oftalmologista Leonardo Gontijo Coelho, diretor clínico do Instituto de Olhos Minas Gerais e especialista em córnea.
 
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Segundo o especialista, um doador doa seus olhos que são avaliados para determinar a qualidade daquele tecido. "Após, isso é ofertado para os primeiros da fila e, dependendo da finalidade do transplante, o colega aceita ou recusa aquele tecido para aquele paciente. Isso é possível porque as cirurgias modernas de transplantes não necessariamente requerem toda a córnea. Normalmente, utilizamos apenas um segmento da córnea para correção do problema do paciente. Essas técnicas, chamadas de lamelares, são mais seguras, induzem menos rejeição e costumam trazer um melhor resultado visual", explica Leonardo Gontijo.
 
O oftalmologista Leonardo Gontijo Coelho destaca a importância do transplante de córnea (foto: Arquivo pessoal)

   
O médico informa que para o transplante de córnea existe uma fila de espera regionalizada, ou seja, com regiões dentro de cada estado por se tratar de um país de tamanho continental. "A logística não funcionaria se a fila fosse única no Brasil todo. Uma córnea liberada no Paraná, por exemplo, não chegaria com viabilidade em estados do extremo norte do país."




 
O tempo de espera pode levar meses ou anos, o que foi agravado pela pandemia. "A interrupção de um ano em Minas Gerais da captação de órgãos, que é um serviço essencial, enquanto que em outros estados foi de quatro a seis meses, sufocou a fila de espera: em Belo Horizonte a fila se estendeu para cerca de dois a dois anos e meio; já em outras, que têm o apoio da iniciativa privada, como é o caso do Ceará, o retorno foi mais rápido. Por lá a fila está zerada, em torno de cinco dias após sua inscrição a córnea é liberada. Essa é uma saída a àqueles que desejam antecipar a cirurgia. É possível viajarmos com o paciente e operá-lo noutro estado em que a fila seja mais curta. Importante esclarecer que, embora o paciente não possa ser inscrito em duas filas diferentes, é possível migrá-lo para outra fila, sem perder o tempo de inscrição", relata Leonardo Gontijo. 

O oftalmologista explica que o transplante é indicado em casos de córneas com cicatrizes e opacidade que impedem a passagem de luz; doenças que fazem com que o formato da córnea seja incompatível com uma boa visão; perfurações oculares causadas por traumas; ou ainda por motivos estéticos.  

"Os riscos do procedimento e a expectativa de melhora da visão irão depender de alguns fatores, entre eles, do tipo de transplante realizado - se será tradicional ou lamelar (de camadas) - e da situação do olho do paciente. Então, é importante frisar que é uma cirurgia individualizada", esclarece.