Jornal Estado de Minas

SAÚDE E EDUCAÇÃO

Pobreza menstrual em escolas



A interrupção da pílula anticoncepcional revolucionou a vida da educadora física Silvana Guerreiro. A decisão a fez refletir não somente sobre sua relação com o ciclo menstrual, como também sobre outros aspectos de sua vida. Ela percebeu que não se encaixava na rotina que estava levando. Foi então que decidiu pedir demissão do emprego, onde ocupava um cargo de liderança, e começou uma jornada em busca de seu propósito. Foi como educadora menstrual que ela se encontrou. Hoje, Silvana dedica-se a quebrar tabus em torno da menstruação e a transformar a relação de outras mulheres com seus corpos. 




 
Em 2019, Silvana concluiu uma formação em terapia menstrual, começou a procurar mais informações e a questionar alguns comportamentos comuns entre as mulheres, como o sentimento de aversão ao ciclo menstrual e a falta de conhecimento sobre como lidar com as mudanças inerentes ao período, e sobre remédios para “interromper” a menstruação.  
 
 
 
“Como a menstruação foi colocada, de alguns séculos para cá, como algo sujo, impuro, errado e ruim, isso fez com que as mulheres fossem diminuídas em relação aos homens, como se elas representassem uma falha por menstruar. Isso se estende até hoje, infelizmente, com o reforço da indústria farmacêutica. Vemos as pessoas tratando a menstruação como uma escolha, e não como algo natural. Longe de romantizar a menstruação, mas é importante trazer para reflexão que há um interesse em manter as pessoas distantes do seu corpo e do seu ciclo porque aquelas que têm essa consciência têm autonomia, poder de escolha, posicionamento para questionar aquilo que acontece com elas”, afirma Silvana.   
 
 
Foi a partir do seu incômodo que ela teve a ideia de criar um projeto sobre educação e saúde menstrual. O EmanCicla tem o propósito de tornar natural o diálogo sobre o ciclo menstrual e a menstruação, contribuindo para a dignidade menstrual e a emancipação das pessoas que menstruam. 
 
A iniciativa realiza oficinas, palestras, rodas de conversa e capacitações sobre o tema, contribuindo para a quebra de tabus e para gerar conhecimento sobre o corpo e sobre o poder de escolha para questionar desigualdades, discriminações sociais e as informações sobre medicamentos e menstruação. A ideia não é indicar o que as pessoas devem fazer ou não, mas empoderá-las com conhecimento e pensamento crítico.

Falta de acesso à informação Para Silvana, é importante falar sobre menstruação para romper os tabus sobre o assunto e difundir conhecimento para incentivar o poder de escolha, a consciência e a autonomia sobre os corpos. Um dos temas indissociáveis dessa discussão é a pobreza menstrual: um fenômeno complexo, transdisciplinar e multidimensional, vivenciado não só devido à falta de acesso a recursos e infraestrutura, como ao conhecimento. A falta de acesso a informação de qualidade expõe as pessoas que menstruam ao sentimento de vergonha e alimentam mitos em torno do tema, além de trazer dificuldade para socialização com familiares e seus pares, o que impacta diretamente na autoestima. 




 
O relatório “Pobreza menstrual no Brasil: desigualdades e violações de direitos”, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) destacam que garantir os direitos menstruais é essencial para “contribuir para a promoção da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos, do direito à água e saneamento, da equidade de gênero e da autonomia corporal, condições para que todas as pessoas que menstruam desenvolvam seu pleno potencial”. 
Publicado em 2021, o documento apresenta a educação menstrual como caminho para que as pessoas que menstruam conheçam o próprio corpo, seu ciclo menstrual e, consequentemente, haja promoção de bem-estar e saúde. “Esse conhecimento deve levar a superar mitos de inferioridade feminina que apontam a menstruação como podridão, indignidade ou como falha em produzir uma gravidez. Deve ainda contribuir para derrubar mitos de que os produtos menstruais internos (absorvente interno, coletor) ‘tiram a virgindade’ ou ‘podem se perder dentro do corpo’, entre outros”, indica o relatório.

Negócio social Junto ao EmanCicla, Silvana criou o negócio Educadora Menstrual, que oferece as mesmas atividades para pessoas que podem pagar por elas. Com isso, o lucro sobre a venda dessas atividades é direcionado para a manutenção do projeto social, fazendo esse conhecimento chegar de forma gratuita para estudantes da rede pública de ensino e para comunidades em situação de risco. Em 10 de setembro, das 14h às 17h30, haverá uma oficina da educadora menstrual, “Meu ciclo, meu guia”, em Sorocaba, São Paulo. O encontro é voltado para mulheres a partir dos 18 anos.
 

Serviço


Oficina “Meu Ciclo, Meu Guia”
Whatsapp (15) 98161-6405 ou pelo e-mail 
contato@educadoramenstrual.com.br
Inscrições: @educadoramenstrual no Instagram
O lucro com a venda da oficina será investido na realização e manutenção do projeto EmanCicla.