Jornal Estado de Minas

REPORTAGEM DE CAPA

A diversidade vale a pena



Falar soa fácil, é simples e até natural. Agora, viver o que se diz, aceitar a realidade, conviver com quem cada um é, realmente é uma tarefa árdua, conquistada a cada passo da vida, na construção da identidade. E a pressão de ser quem é ou quem a sociedade propaga como escolha certa desde criança e adolescente é um duro golpe no desenvolvimento, ainda mais potencializado em tempos de mídias sociais. 




 
Adultização das crianças e adolescentes presos em padrões de beleza cruéis são obstáculos perigosos para a saúde mental e física. Ricardo Dias, doutor em psicologia social, membro do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão e Conexões de Saberes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor das áreas de psicologia e serviço social na Estácio BH, lembra que padrões de existência e comportamento sempre existiram e vão se modificando ao longo do tempo. “Enquanto não compreendermos que a diversidade vale a pena, sempre vai haver uma tentativa de homogeneizar, uniformizar e universalizar as possibilidades de existência. E daí surgem os padrões de beleza.”
 
Ricardo Dias explica que, conforme o passar do tempo, os conceitos de beleza também mudam. “Criamos, por meio da arte e da cultura e da própria ciência, a ideia de que alguns corpos são melhores, mais aptos, mais desenvolvidos e, consequentemente, mais belos.  E atualmente, esses padrões de beleza estão cada vez mais aniquilando a diversidade e influenciando a forma como muitas pessoas enxergam a si mesmas e, assim, trazem inúmeras consequências para a sociedade.”

ADEQUAR-SE AO PADRÃO

Para o psicólogo, na atualidade, os padrões de beleza têm variedades locais, mas de uma forma geral se baseiam em pessoas brancas, altas, magras, cabelo liso, nariz fino etc. “Muitos consideram a aparência divulgada nas redes sociais, em revistas e na TV como o modelo ideal de beleza a ser seguido ou entendem que precisam se adequar ao padrão para serem reconhecidos, felizes e amados. No entanto, essas imagens não refletem a completa realidade, porque muitas vezes têm edições, filtros e efeitos.”




 
Assim, completa Ricardo Dias, muitas pessoas começam a se inspirar em algo que é apenas uma ilusão ou uma realidade criada com os recursos de mídia, como os filtros, ou então buscam uma mudança física por meio de procedimentos estéticos e até uma cirurgia plástica. “Não podemos deixar de destacar que o Brasil é o país que mais faz cirurgias plásticas de estética no mundo.”
E o pior, enfatiza, é que esse padrão não se limitou aos adultos. Ele está cada vez mais próximo de adolescentes e crianças. “Esse esforço em ser aquilo que não se é de verdade é doloroso, cruel, pois pode trazer consequências emocionais e físicas para as pessoas, como distúrbios relacionados à autoimagem e desenvolvimento de transtornos alimentares.”
 
 

CULTO ÀS DIFERENÇAS

Sem falar, avisa o doutor em psicologia social, das consequências sociais e políticas, “como ampliação da desigualdade, porque estamos hierarquizando as diferenças – algumas delas são perfeitas e outras imperfeitas; a criação de uma sociedade individualista e egocêntrica, porque o foco agora não é a vida comunitária, o bem público, e sim, a forma como se intervém sobre seu corpo; e consumista, porque padrões de estética produzem produtos para você caber nesses padrões.”




 
A atriz e ex-modelo Gabrielle Union, e sua enteada, Zaya Wade, são parceiras na campanha da Dove (foto: Instagram/Reprodução)
 
 
O especialista afirma que “uma reflexão sobre tudo isso é que não temos que nos assustar com as pessoas querendo se sentir belas, “mas com a ideia de que a beleza é um padrão só, que ser belo está vinculado a uma série de prescrições. Sempre vai existir uma distância do que é ideal do real e uma expectativa”, diz. 
 
“O que não podemos esquecer é que quando padronizamos uma série de comportamentos, estéticas, práticas e pensamentos, estamos impedindo que as pessoas realizem sua potência de vida a partir das diferenças. E quanto mais se valoriza essas diferenças, garantimos uma sociedade mais plural, diversa, livre e democrática.”
 
Mais de 24 milhões de crianças e adolescentes usam internet no Brasil

Cerca de 24,3 milhões de crianças e adolescentes, com idade entre 9 e 17 anos, são usuários de internet no Brasil, o que corresponde a cerca de 86% do total de pessoas dessa faixa etária no país. Dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2018 integram um levantamento feito pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) e do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Conforme a pesquisa, cerca de 82% das crianças e adolescentes usuárias de internet relatam usar e ter perfil nas redes sociais. Pela primeira vez na pesquisa, o número de crianças e adolescentes com contas no WhatsApp superou o número de perfis no Facebook. Também cresceu o número de usuários dessa faixa etária no Instagram, terceira plataforma em número de uso entre esse público. 




 
10 redes sociais mais usadas no Brasil em 2022*

1. WhatsApp (165 milhões)

2. YouTube (138 milhões)

3. Instagram (122 milhões)

4. Facebook (116 milhões)

5. TikTok (73,5 milhões)

6. Messenger (65,5 milhões)

7. LinkedIn (56 milhões)

8. Pinterest (30 milhões)

9. Twitter (19 milhões)

10. Snapchat (7,6 milhões)

* Fonte: resultadosdigitais.com.br e www.slideshare.net 
 
Larissa Manoela e Maisa lideram ranking dos perfis mais seguidos pelos jovens (foto: Divulgação)

Padrão dentro de uma caixa 

Há anos, a Dove luta por definições mais amplas de beleza e tomou medidas para tornar as redes sociais um local positivo, com campanhas como “Nos Mostre”, #SemDistorçãoDigital e Selfie Reversa. 

Agora, ocorre o lançamento da campanha #DetoxYourFeed (em português, detoxifique o seu feed) para incentivar adolescentes a definirem seus próprios padrões de beleza e escolher suas influências, convidando-os a parar de seguir qualquer coisa que não os faça sentir bem consigo mesmos. 



Por meio de uma série de vídeos, conteúdo educacional e parcerias com vozes inspiradoras, a campanha encoraja conversas necessárias entre pais, cuidadores e adolescentes que envolvam o impacto dos conselhos tóxicos sobre beleza na autoestima de meninas.
 
“Identificamos um problema que está, claramente, corroendo a autoestima das meninas e que precisa de atenção e ação imediata. Criamos a campanha #DetoxYourFeed não apenas para aumentar a conscientização sobre a natureza traiçoeira dos conselhos de beleza tóxica, mas também para ajudar os pais a atravessar conversas sensíveis e incentivar os adolescentes a deixar de seguir conteúdo que os faz se sentir mal consigo mesmos”, diz Leandro Barreto, vice-presidente global de Dove. 

SOCORRO DOS PAIS

De acordo com o novo estudo, 80% das meninas gostariam que seus pais falassem com elas sobre como lidar com postagens sobre padrões de beleza inatingíveis. Por essa razão, o Projeto Dove pela Autoestima desenvolveu recursos e ferramentas validados academicamente para ajudar mães e responsáveis a navegar por conversas importantes, capacitando os adolescentes a #DetoxYourFeed - O Guia dos Pais”, um filme educativo de três minutos sobre como facilitar conversas com jovens sobre os danos causados pelas mídias sociais. 




 
Vale registrar que a pesquisa foi feita pela Edelman DXI, consultoria global e multidisciplinar de pesquisa, análise e dados, nos EUA entre fevereiro e abril de 2022, respectivamente, com 524 e 1.027 meninas de 10 a 17 anos, além de 1.501 e 1.027 mães e pais. E a Dove convida quem quiser compartilhar sua experiência e ajudar a mudar a beleza, usar postagens com a hashtag #DetoxYourFeed, no Facebook, Instagram e TikTok marcando @Dove e #ProjetoDovePelaAutoestima. 
 
Para espalhar a campanha, a atriz e ex-modelo, Gabrielle Union, e sua enteada, Zaya Wade, são parceiras neste movimento pela mudança. Zaya é transgênero e filha do ex-jogador de basquete da NBA, Dwyane Wade.
 
“Como mãe, e alguém que sentiu as pressões das mídias sociais para parecer perfeito, é importante para mim que as pessoas percebam o que está nos feeds dos adolescentes e os ajudem a navegar com confiança nas conversas sobre isso”, diz Gabrielle. “Quero que as pessoas saibam que podem se priorizar e estabelecer limites nas redes, que pode ser positivo se você deixar de seguir conteúdo que não te faz se sentir bem”, acrescenta Zaya.
 

Alguns dos perfis mais seguidos por adolescentes


1 - Larissa Manoela: mais de 45 milhões de seguidores

2 - Maisa: mais de 43 milhões de seguidores

3 - Jade Picon: mais de 20 milhões de seguidores

4 - Mel Maia: mais de 12 milhões

5 - Maria Nicolly: mais de 6 milhões de seguidores

6 - Beleza Teen Oficial: mais de 1,7 milhão de seguidores