Jornal Estado de Minas

BAIXA AUTOESTIMA

Beleza imaginária e inatingível



As duas faces das redes sociais são uma armadilha para crianças e adolescentes quando o interesse é a imagem. Nova pesquisa do projeto “Dove pela Autoestima” confirma que duas em cada três meninas permanecem mais de uma hora por dia no ambiente virtual, o que é mais do que gastam pessoalmente com amigos. Elas estão mergulhadas em feeds inundados por dicas de beleza, que nem sempre são positivas. 




 
No levantamento, uma em cada duas meninas apontam conteúdo de padrões de beleza disseminado nas mídias sociais como um catalisador para baixa autoestima. E sete entre 10 delas revelaram ter se sentido melhor após deixar de seguir nas redes perfis que promovem dicas e comentários sobre padrões de beleza inalcançáveis. 

Paula Paiva, gerente de digital da Unilever, diz que as mulheres sofrem imensa pressão para se encaixar dentro de determinados padrões de beleza (foto: Arquivo Pessoal)

 
Para quem tem a autonomia capturada pela rede, viver passa a ser um sofrimento, com impactos na saúde física e mental, que seguramente afetarão o adulto no futuro. Padrões de beleza definidos, ainda que cada vez mais questionados e combatidos, ainda causam enorme estrago na vida de crianças e adolescentes, desprotegidos, sem orientação e sem ferramentas críticas para lidar com imagens nem sempre verdadeiras postadas no universo virtual.
 
Rafaela Nascimento dos Reis, de 18 anos, estudante de arquitetura, de Petrópolis, no Rio de Janeiro, acredita que “beleza, a meu ver, é algo diferente para cada pessoa. Para mim, a beleza vem de alguém que cuida de si, se veste bem”. 




 
Segura com sua aparência e identidade, Rafaela diz que se acha bonita, “mas tem vezes que não. E sigo algumas mulheres que fazem maquiagem, mas por uma questão artística mesmo, como a Renata Santti (mais de 1 milhão de seguidores no Instagram)”, comenta. 

CONSCIÊNCIA DE SUA BELEZA

Ao mesmo tempo em que é segura quanto à própria estética, Rafaela confessa que adoraria dizer que não se sente pressionada pela mídia social. “Mas hoje em dia é bem difícil. Vemos mulheres ‘padrão’ o tempo todo na internet, com corpos de academia, peles perfeitas e cabelos sempre bem-feitos, mesmo sabendo que essa não é a realidade, pelo menos não completa.”
 
No entanto, Rafaela sabe separar o real do irreal: “Buscamos ser iguais ou parecidas, mas todos temos uma beleza única que não tem que ser comparada. Eu sempre tento me lembrar de que minha beleza é única e não preciso ser como elas. Não funciona sempre. mas é preciso tentar.”




 
Para Paula Paiva, gerente de digital da Unilever, formada em marketing pela ESPM-Rio, historicamente, desde cedo, as mulheres sofrem imensa pressão para se encaixar dentro de determinados padrões de beleza. Muitas vezes, essa expectativa é causada pela própria família e amigos próximos, e as meninas são influenciadas para mudar seu corpo ou estilo de vida para atenderem a esse ideal. 
 
“Essa pressão, somada ao consumo de dicas tóxicas de beleza nas redes sociais, causa efeitos que perduram até a vida adulta, como ansiedade e falta de confiança corporal. Por décadas, a Dove tem trabalhado para ajudar a próxima geração a desenvolver uma relação positiva com sua aparência, melhorar a confiança corporal e, assim, atingir o potencial máximo.” 
 
Segundo Paula, desde que foi criado, o Projeto Dove pela Autoestima busca libertar as pessoas desses estereótipos limitantes, contribuindo para a formação da autoestima e para a manutenção ao longo da vida. “Para isso, investe constantemente em materiais e ferramentas gratuitas para pais e filhos, além de campanhas como #DetoxYourFeed, a mais atual.”
 
E os meninos, considerando que também passam muito tempo nas redes sociais, são, sim, afetados pela busca da beleza irreal, mas em proporções diferentes. “A aparência e a pressão para se encaixar em um padrão de beleza sempre teve muito mais peso para as mulheres. Mesmo assim, queremos que eles se sintam incentivados, da mesma forma, a procurar orientação dos pais e das ferramentas disponíveis, caso sintam que isso está afetando a autoestima e percepção de beleza”, destaca a profissional.




USO DE FILTROS 

Paula Paiva destaca que, na pesquisa divulgada pelo projeto, cerca de 84% das jovens brasileiras com 13 anos já aplicaram um filtro ou usaram um aplicativo para mudar sua imagem nas fotos. “A constatação comprova a pressão a que meninas se sentem submetidas para se encaixar em padrões de beleza. Principalmente em jovens, observamos que a busca pela perfeição começa a ser nociva para autoestima a partir do momento em que idealizam o que é um corpo perfeito, ou o que é a beleza ideal, e passam a fazer comparações com outras pessoas, e a tentar fazer mudanças ou procedimentos em seu corpo para se adequar a este padrão.”
 
Além da distorção de imagem, esse comportamento pode desencadear diversos efeitos a curto e longo prazo, como depressão e distúrbios alimentares. “Apesar desse cenário, o estudo destaca que 75% das meninas gostariam que o mundo se concentrasse mais em quem elas são, em vez de em sua aparência. Os dados reforçam a importância do investimento em iniciativas e ferramentas que ajudem adolescentes e jovens a construir uma relação mais positiva com seu corpo, ampliando a autoestima.”
 
Paula Paiva explica que é um fato que as novas gerações estão hiperconectadas às redes sociais, e desde muito cedo, já se observa que as crianças querem reproduzir comportamentos de pessoas que elas acompanham na internet. “Daí a importância de pais ou responsáveis acompanharem o conteúdo que os pequenos estão consumindo, a fim de blindá-los de dicas tóxicas que possam levá-los a entender a beleza de uma forma irreal. Incentivamos os adultos a explicar, desde a infância, que não é preciso mudar nada em sua aparência para que se sintam bonitos, e que, a partir disso, criem essa percepção que os acompanhe ao longo de seu crescimento.”




 
Ela enfatiza que muitos jovens não se sentem confortáveis em comentar com os adultos como as dicas de beleza tóxica afetam sua autoestima. “Por se tratar de um assunto delicado, os adolescentes não se sentem seguros para expor sua opinião e sentimentos. Além disso, temem a reação dos pais.”
 
É preciso e possível ajudar, mas tem que agir. Paula Paiva lembra que a geração Z é a geração dos nativos digitais, então é difícil conseguir controlar o que os adolescentes seguem. Eles estão cercados pelas redes sociais e, com a criação de novas plataformas, novos influenciadores sempre vão surgir. “O caminho não é controlar o conteúdo que os jovens consomem, mas sim, incentivá-los a buscar  aquilo que os faça sentir bem consigo mesmos. A Dove acredita no poder transformador de conversas sinceras entre pais e filhos sobre o impacto da beleza tóxica na autoestima, a fim de encorajar crianças e adolescentes a definirem seus próprios padrões de beleza.”