Jornal Estado de Minas

SER MÃE

Maternidade: a construção do maternar

 Pensar no que seria uma maternidade plena é um conceito complexo. Afinal, o que cada mulher espera da sua maternidade? Para a enfermeira Marjorie Lobato, essa é uma questão intimamente ligada às vivências de cada mulher. Ela é mãe de Luiza, de 3 anos, e diz que a mãe que é hoje idealizou quando era criança e brincava de casinha.




 
"O meu maternar foi construído pelo maternar da minha mãe, como ela cuidou de mim e como fui absorvendo valores ao longo da vida. Para mim, sempre foi importante disponibilidade, queria ser uma mãe presente, atenta, carinhosa e compreensiva, então, corri e ainda corro atrás disso. Mas acho que muitas mulheres se sentem plenas fazendo coisas diferentes das que escolhi para mim", constata.
 
Bebês nascem sem estar prontos. Estão aptos a viver fora do útero, mas não significa que estejam completamente maduros, ressalta Marjorie. Um dos sistemas imaturos, ela esclarece, é o que coordena o ciclo circadiano – eles desconhecem o que é dia e o que é noite e cabe aos pais ajudá-los nessa transição. Organizar a rotina da casa, de maneira que fique claro para ele a diferença entre dia e noite, é fundamental. A partir do terceiro mês de vida, o neném consegue 
 
Bebês não gostam de surpresas e imprevistos. Saber o que vai acontecer depois de cada evento é reconfortante e transmite segurança, por isso é interessante repetir as mesmas coisas nos mesmos horários.

"Isso não significa que precisamos ficar engessados no horário. Mas é bom que a sequência de eventos seja repetida todos os dias. Um exemplo: todos os dias acordamos, dou o peito, troco fralda, levo para passear, voltamos, brincamos no tapetinho, faço massagem, banho e soneca. Independentemente de começar essas atividades uma hora ou outra, você repete todos esses eventos. O bebê sabe o que virá a seguir e isso o deixa calmo”, ensina.




 
Para Julia Brandt, de 38 anos, Sr. Manager na J&J, a maternidade é a coisa mais difícil que já vivenciou até hoje. Natural de Belo Horizonte, reside nos Estados Unidos e com o marido, Peter Brandt, é mãe do pequeno Thomas, de nove meses. "Sempre quis ser mãe. Não me arrependo e estou muito feliz", conta. Ela diz que o estudo e o trabalho sempre tirou de letra, e até que a maternidade tem sido assim também, mas exige um esforço muito maior. "Mexe com a gente em todos os aspectos – físico, mental, emocional, tudo. A parte física para mim foi bem desafiadora, porque a minha gravidez não foi fácil. Sofri muito, tive vários sintomas, e o parto também foi bem complicado", lembra.
 
Vivendo longe da família, para Julia um outro fator complicador é a falta de uma rede de apoio bem-estruturada. "Quando acontece uma mudança como essa da maternidade fica mais visível o quanto é importante contar com isso." 
 
Enquanto ainda estava de licença-maternidade, a dedicação ao filho era exclusiva. De volta ao trabalho, o dia a dia mudou completamente, e essa transição gerou ansiedade. Ela conta que, afinal, gostou de voltar ao trabalho, e fica mais tranquila porque o marido resolveu ficar em casa cuidando do pequeno. A ida para a creche vai ficar mais pra frente, quando Thomas estiver grandinho.

O aspecto da comunicação com o filho é algo interessante de se observar. "Mesmo sendo uma comunicação não verbal, sempre consegui ler o Thomas. Conheço os tipos de choro, sei se está com sono ou com fome”, diz Julia.





AMAMENTAÇÃO


Nessa experiência recente com a maternidade, para Julia o mais difícil é a amamentação. Ela lembra das incontáveis ocasiões em que amamentou chorando de dor, dos problemas com rachaduras nos seios, da mastite. Mas diz que sempre persistiu, ciente de todos os benefícios. "Todos falam que a amamentação é natural, é instintiva, mas não é. Acho que é instintivo o bebê saber sugar e procurar o peito. Mas a mãe tem que aprender como fazer, o bebê tem que aprender o jeito certo de mamar. Não é essa coisa romântica, natural e simples não", pondera.
 
Para Julia, o companheirismo do marido tem sido valioso. "Sempre fez questão de participar de tudo. Faz as coisas tanto quanto eu", conta, também pontuando as mamadas noturnas como um grande desafio com o filho, o que agora já está mais incorporado. "Mesmo que ele não desperte, eu sempre acordo nos horários de costume dele", conta.

RECÉM-NASCIDOS


Pediatra da Saúde no Lar, Claudia Daniela Drumond diz que a exaustão entre as mães tem sido uma constante (foto: Arquivo pessoal)
O puerpério, período após o nascimento do bebê, sempre foi cercado de cuidados, pois a mulher se encontra em uma fase física vulnerável e tem que lidar com os desafios do cuidado ao recém-nascido, prover o alimento, entender a linguagem do choro e, principalmente, vivenciar a insegurança da capacidade de cuidar de uma nova vida. É o que ensina a pediatra da Saúde no Lar Claudia Daniela Drumond.
 
Atualmente, diz Claudia, as mães buscam uma rede de apoio. "Mas, que rede é essa? Por que esse nome, tão na moda hoje em dia, não fez parte do vocabulário de nossas mães e avós? A resposta é que esse conjunto de pessoas ao redor da mãe era intrínseco ao puerpério. A avó largava tudo para estar ao lado da filha por um tempo, a vizinha levava uma sopa, outra já chegava se oferecendo para arrumar a casa. A mãe não estava só. Pelo contrário, era cercada de apoio e pessoas que lhe ofereciam segurança e ajuda", lembra a pediatra.




 
Agora, é cada vez mais comum, cita, mães e pais se revezando no cuidado com o bebê, com a casa e os outros filhos. Dessa maneira, a exaustão entre as mães também tem sido uma constante, constata a especialista. Particularmente com a pandemia, surgiu uma legião de mães solitárias, sem ajuda, com medo de sair com o bebê, receosas de receber uma visita, sem poder contar com quase ninguém, achando na internet a resposta para suas dúvidas. "O lado bom é que nunca vi tantos pais trocando fraldas no consultório. Os homens foram chamados a participar efetivamente no cuidado e esse ganho foi fantástico."
 
A pediatra cita o acesso irrestrito a informações. Mas, ela lembra, a qualidade e interpretação das respostas obtidas, muitas vezes conflitantes, mais atrapalha do que ajuda. Gera insegurança e, às vezes, procedimentos desnecessários, custo elevado com medicamentos que são comprados sem prescrição médica, só porque estão na moda. "Cada bebê é único, com seu tempo de mamada, com seu padrão de sono. As mães precisam olhar menos para o celular e mais para o seu bebê."

 
Segurança e alívio no cuidado com o rebento 

 
Quando a maternidade acontece, é importante contar com uma rede de apoio, seja ela familiar, de amigos e, principalmente, profissional. Essa rede deve reunir profissionais experientes, que trarão segurança e alívio no cuidado com o bebê, diz a pediatra da Saúde no Lar Claudia Daniela Drumond.



Uma boa consultora de amamentação, ela exemplifica, salva uma mama e, consequentemente, aumenta as chances de sucesso no aleitamento materno exclusivo. "A mãe consegue não ferir o peito em tentativas frustrantes e entende que, se não conseguir amamentar, não há problema nenhum nisso. Existem outras formas de alimentar o bebê. Já aquelas que ainda não pegaram o jeito, conseguirão, por conta do auxílio profissional, entender qual a forma correta para conseguir amamentar o filho de forma efetiva e sem dores", diz.
 
A visita de uma enfermeira ajuda nos cuidados básicos com o bebê e traz segurança à mãe, que passa a entender melhor todo o processo. Isso no que diz respeito ao banho da forma correta, à limpeza da fralda, ao momento correto do arroto, à maneira de dar o peito, de dormir e o que fazer nos momentos de cólica e de choro insistente.
 
"Além disso, contar com o acompanhamento pediátrico de perto, se possível dentro de casa, com avaliações mais frequentes no primeiro mês de vida, torna-se outro fator positivo. Nesse momento, a criança ainda está sem a proteção de todas das vacinas e quanto menos contato com vírus e bactérias melhor para os pais e, principalmente, para a saúde do bebê", acrescenta a pediatra.