Jornal Estado de Minas

Na posição certa

Postura errada ao usar eletrônicos pode gerar dores no pescoço e ombros


As pessoas estão cada vez mais conectadas. Levantamento feito pela App Annie, agência focada em análise de mercado, divulgou, recentemente, um estudo na revista Forbes com base nos resultados do segundo trimestre de 2021, falando que o Brasil é, atualmente, o país que mais gasta tempo em aplicativos no ano. O advento da pandemia também fez com que muita gente usasse e abusasse dos celulares, tablets e notebooks como meio de trabalho e lazer. Porém, esse uso excessivo das telas pode estar relacionado a problemas de saúde, inclusive, da coluna.



Para o médico ortopedista especializado em coluna vertebral, Daniel Oliveira, a postura errada e o abuso no uso de aparelhos eletrônicos podem fazer com que pessoas sejam acometidas por dores no pescoço e ombros.

"Isso tem se tornado muito comum ao longo dos últimos anos, tanto é que muita gente caminha nas ruas, anda de ônibus, dirige e até dorme olhando para seus aparelhos. Com a pandemia, isso acabou tomando uma proporção ainda maior, já que tivemos de nos recolher em casa e passamos a utilizar os dispositivos para trabalhar e estudar ou para assistir filmes e séries, jogar, fazer uso das redes sociais, aplicativos, dentre outros", ressalta.

Segundo o médico, a força necessária para se manter o equilíbrio cervical aumenta à medida que há a inclinação da cabeça sobre o pescoço. "Em uma posição neutra, ela pesa 5 quilos. Esse valor sobe para 18 quilos quando ela está com 30 graus de flexão e para quase 30 quilos, aos 45, ou seja, de três a cinco vezes mais do que se estivesse na posição neutra."

Daniel explica que o uso de eletrônicos pode causar, em um primeiro momento, dores no pescoço e na coluna, mas a inclinação tende a gerar, com o tempo, outras complicações, como a cervicalgia crônica, causada pela inclinação do pescoço por um longo período, forçando a musculatura local.



A postura errada, a longo prazo, pode gerar protusão discal, conhecida como hérnia de disco, e também o desalinhamento da coluna cervical, causando dores em toda a sua extensão.

É importante lembrar que o corpo humano é complexo e sempre existem outros fatores envolvidos, quando o assunto são os sinais de dor ou mal estar. O fisioterapeuta especialista em fisioterapia musculoesquelética, Rodrigo Moura, acredita que, mais do que apontar a relação entre a dor cervical e a postura da cabeça, outras questões precisam ser levadas em consideração, como os níveis de atividades físicas, de condicionamento, qualidade do sono, grau de estresse, ansiedade, depressão, dentre outros.

Segundo o fisioterapeuta, por outro lado, esse policiamento da postura não é o que de fato faz a diferença. "Às vezes, uma determinada posição na qual achamos que a pessoa pode prejudicar a coluna, é uma posição que acaba variando ao longo do dia, ou seja, ela não vai permanecer o tempo todo do mesmo jeito. Ficar em uma mesma posição o tempo todo é incômodo para qualquer pessoa e em qualquer posição. Então, variar o movimento é muito importante."

Daniel Oliveira explica que o uso de eletrônicos pode causar, de início, dores no pescoço e na coluna, mas a inclinação tende a gerar, com o tempo, outras complicações (foto: Ellen Casadonte/Divulgação)
Daniel Oliveira reitera que o mais interessante seria diminuir o tempo em frente às telas, pois, além de gerar incômodo e malefícios para a região do pescoço, isso pode gerar outros problemas, como alterações na visão, dor de cabeça, irritabilidade, diminuição da qualidade do sono e transtornos psicológicos.



Além disso, o uso excessivo dos aparelhos eletrônicos e a revolução digital transformaram os padrões de movimento das pessoas e o modo como aprendem, divertem-se e trabalham. Tudo isso tende a aumentar o sedentarismo e outros poréns relacionados à falta de movimento das pessoas.

Em caso de dor, é fundamental consultar um médico e um fisioterapeuta qualificados. "Assim como é necessário alongamentos durante o dia para o corpo, é necessário fazer o mesmo com a região do pescoço. Em casos de uma dor mais aguda, pode ser indicado o uso de medicamentos analgésicos via oral e, em casos mais graves, cirurgia", comenta Daniel.

Rodrigo Moura recomenda que o tratamento deve ser feito a partir do momento que a dor cervical for persistente (foto: Henrique Mello/Divulgação)
Rodrigo Moura recomenda que o tratamento deve ser feito a partir do momento que a dor cervical for persistente, identificando quais são os possíveis fatores externos relacionados à qualidade de vida. "Depois dessa triagem, trabalha-se condutas e técnicas manuais de mobilização articular e muscular, para aliviar a tensão na região, que tem muito a ver com os hábitos diários e os cuidados com a saúde em geral. A maioria das pessoas que chega com essa tensão muscular consegue melhorá-la com a fisioterapia manual, exercícios de condicionamento e fortalecimento da região, para aumentar a capacidade de a pessoa tolerar as variações posturais."



O ortopedista salienta que, nos casos mais graves, pode ser indicada a cirurgia endoscópica, como em alguns casos da hérnia de disco cervical, que faz com que o paciente apresente dores nos braços, pescoço, ombros e na parte superior das costas, já que a compressão do nervo deixa a região mais sensível aos estímulos dolorosos. "Mas cada pessoa deve ser analisada individualmente para que o tratamento seja realmente assertivo", diz.

A melhor forma de evitar esse tipo de dor é sempre a prevenção. Além da atenção aos hábitos de vida saudáveis, vale manter os aparelhos na altura dos olhos, sem inclinar a cabeça para baixo, como de costume, parando de tempos em tempos para alongar a região do pescoço, braços e ombros, e reforçar uma rotina de exercícios físicos de fortalecimento.