Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Câncer de rim e bexiga: diagnóstico precoce é aliado da cura


Alguns tipos de câncer podem afetar o trato urinário, como é o caso do câncer de bexiga e de rim. Porém, o que poucas pessoas sabem é que os sintomas, nesses dois casos, podem ser semelhantes.



Além disso, com a dificuldade de criar um protocolo de rastreamento, haja vista não haver idade ou caráter usual para dar início aos conhecidos exames preventivos, é mais importante do que nunca estar atento e procurar o médico sempre que houver sinais aparentes ou realizar check-ups anuais, a fim de diagnosticar a doença precocemente. 

É o que afirma o oncologista Sandro Cavallero. “Para detecção dos dois tipos de câncer, são realizados exames de imagem, como ultrassonografia e tomografia computadorizada de abdômen. Para análises mais precisas e detalhadas, podem ser indicadas, ainda, a cistoscopia – avaliação endoscópica da bexiga – no câncer de bexiga, e a ressonância magnética para os dois casos. É sempre importante que o paciente observe sintomas, há quanto tempo eles apareceram e explique de forma mais detalhada possível ao médico o que está acontecendo.” 

“Precisamos estar atentos aos sinais que o nosso corpo dá. Além de, claro, não deixarmos de fazer nossos exames de saúde, o famoso 'check-up', periodicamente. A grande importância de diferenciar as patologias é que o tratamento realizado é completamente diferente entre uma e outra”, completa o especialista. 

Esse check-up anual é ainda mais importante no que tange o câncer de rim, conforme Paulo Lages, oncologista do Grupo Oncoclinicas. “Diferente dos tumores uroteliais – o de bexiga, por exemplo –, os renais dificilmente sangram ou têm manifestação, isso ocorre normalmente em casos mais avançados. Assim, ele quase sempre é diagnosticado ao acaso. Ou seja, o paciente vai fazer ultrassonografia por qualquer motivo e encontra um nódulo suspeito. São nódulos que crescem lentamente, mas não temos protocolo, por exemplo, a partir de qual idade deve se fazer exames preventivos.” 
 
(foto: Grupo Oncoclínicas/Divulgação)
 

E isso nem mesmo para o de bexiga, que, então, exige uma atenção maior com os sinais dados pelo corpo. Porém, pode ser que em alguns casos a neoplasia renal também dê indícios. Entre eles, o paciente pode sentir dor ao urinar, cansaço excessivo, perda de apetite, perda de peso sem causa aparente, dor lombar e presença de sangue na urina.



“É importante estar sempre atento aos sinais que o corpo dá e procurar um médico caso note algo incomum, já que a agilidade no diagnóstico aumenta as chances de cura”, pondera Sandro Cavallero. 

TRATAMENTO 


Segundo Bruno Favato Neto, oncologista do Grupo Oncoclínicas, há várias modalidades de tratamento, sendo a melhor escolha feita a partir do estágio em que a doença se encontra. Entre eles, o cirúrgico é o mais recomendado em casos iniciais, com altas taxas de cura, conforme Sandro Cavallero.

“Porém, evoluímos no tratamento em todos os cenários. No último ano, foram lançados no Brasil medicamentos pertencentes à classe da imunoterapia e combinações de imunoterapia com terapia-alvo, que trazem um benefício importante para os pacientes.” 

“Para se ter ideia, estudos que serviram de base na aprovação da Anvisa para a combinação de um imunoterápico com terapia-alvo, por exemplo, comprovou reduzir significativamente em 31% o risco de progressão ou morte do câncer de rim avançado. E, mais recentemente, os pacientes brasileiros com carcinoma urotelial, tipo mais comum de câncer de bexiga, puderam ter acesso à primeira imunoterapia para prolongar significativamente a sobrevida global dos casos avançados ou metastáticos.” 
 
(foto: ICCOM/Divulgação)
 

A chegada dessas novas opções terapêuticas, segundo o oncologista, dá mais flexibilidade para avaliar cada tipo específico do câncer de trato urinário e sugerir com mais assertividade e, em decisão de comum acordo com o paciente, o tratamento mais adequado. “As chances de cura existem, nos dois casos, a depender do estágio da doença e da localização do tumor”, pontua Cavallero. 

Para além da cura, o diagnóstico precoce é muito importante para que, dando início ao tratamento, evite danos consideráveis à saúde do paciente. “Os danos causados vão ser totalmente dependentes do local onde o problema está. Então, se há doença na bexiga avançada, ela pode causar invasão dos órgãos que estão ali perto, principalmente o reto, e isso gera obstrução intestinal e, às vezes, o paciente até precisa de cirurgia para voltar a evacuar. Além disso, as metástases podem levar a célula para qualquer lugar do corpo, então pode causar qualquer sintoma”, lembra Paulo Lages. 





PREVINA-SE! 


Conforme os especialistas, não existe prevenção específica para o câncer de bexiga e de rim. “Ao contrário do que podemos fazer para tumores de colo de útero e de mama, por exemplo, com realização de exames de rotina para prevenir esse tipo de doenças, no câncer de bexiga e rim não podemos fazer isso”, afirma Bruno Favato Neto. 

Mas, segundo ele, tem-se o tabagismo e a obesidade como fatores de risco para ambas as neoplasias. “A cessação do tabagismo, a dieta adequada e o exercício físico reduzem a chance de redesenvolvimento deste tipo de tumor. Então, esses hábitos têm que ser estimulados tanto pelo especialista quanto pelo clínico geral”, recomenda o oncologista do Grupo Oncoclínicas. 

INCIDÊNCIA 


De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que, em 2018, foram identificados mais de seis mil casos de câncer de rim no Brasil. Já em relação ao câncer de bexiga, de acordo com estimativas, a cada ano do triênio 2020-2022, serão diagnosticados mais de 10 mil novos casos no país, podendo acometer homens e mulheres. 

Ainda, segundo pesquisa conduzida pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em parceria com instituições de saúde paulistas responsáveis pelo atendimento de pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS), durante a pandemia da COVID-19 em 2020, os diagnósticos de câncer de rim e bexiga caíram, em média, 26%, em comparação a igual período de 2019. Isso porque a maioria das pessoas deixou seus exames de rotina por fazer com receio de contraírem o vírus. 

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram