Jornal Estado de Minas

ENTREVISTA/TIAGO MITRAUD

Deputado federal mineiro é o vice na chapa presidencial do partido Novo


A arrancada para a vitória do então candidato Romeu Zema na eleição de 2018 leva o partido Novo a acreditar que Felipe d’Avila, pré-candidato da sigla à Presidência da República este ano, pode romper a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).



Na sexta-feira, a legenda anunciou o deputado federal Tiago Mitraud, de Minas Gerais, como vice-candidato na chapa presidencial. Para Mitraud, a conjuntura nacional guarda similaridades com o contexto no estado há quatro anos. Ele se ampara ainda na saída de Luiz Henrique Mandetta (União Brasil) e dos tucanos Eduardo Leite e João Doria da briga pela “terceira via”. “Todos, por diferentes motivos, ficaram pelo caminho. Isso abre espaço para o único partido coeso em torno de sua candidatura, com boas propostas”, diz Mitraud, em entrevista ao Estado de Minas.

Na Câmara, Mitraud, eleito para o primeiro mandato há quatro anos, lidera a Frente Parlamentar da Reforma Administrativa e, na bancada do Novo, é responsável por encabeçar debates sobre educação, gestão pública e liberdades individuais. Na última campanha eleitoral, rodou Minas Gerais ao lado de Zema. Por isso, assim como d’Avila, ele crê no apoio do governador à chapa do partido mesmo ante os acenos públicos feitos por Jair Bolsonaro (PL). “Essa proximidade, inclusive, física, vai ajudá-lo (Zema) a se aproximar da nossa candidatura presidencial”, afirma. “Eu posso contribuir bem mais do que no Legislativo”, afirma também.

No ano passado, uma ala do Novo chegou a defender o nome do senhor como pré-candidato a presidente. Como foi o processo que o levou ao posto de vice na chapa do Novo?
Felipe foi escolhido no fim do ano passado. Pelo regramento do Novo, o pré-candidato a uma cabeça de chapa indica, à convenção, um nome para ser o vice. Há duas ou três semanas, Felipe me procurou perguntando se eu teria interesse. Acho que muito pelo histórico de minha atuação no Congresso e por ser de Minas — algo importante pelo tamanho do colégio eleitoral e por ser onde temos a maior vitrine do partido, que é Zema. Ele enviou o pedido à convenção nacional, que ratificou, dando apoio a meu nome.





Mas ser vice na chapa presidencial era algo que o senhor pensava a esta altura?
Sempre deixei claro para o partido que estava à disposição para continuar contribuindo com o projeto do Novo da forma que pudesse ajudar. Não tinha exatamente esse plano em mente, mas deixei claro que queria seguir contribuindo. Casou bem, porque já estava buscando ter outro papel que não continuar na Câmara. No Executivo, certamente, posso contribuir bem mais do que no Legislativo.

Por que o senhor estava inclinado a deixar o Legislativo? Houve decepção com a Câmara?
Não houve decepção. Não decidi ser candidato, lá atrás, com o intuito de ficar décadas na Câmara, como estamos acostumados a ver outros parlamentares. Entrei para dar uma contribuição ao país e, chegando lá, consegui fazer um papel que respeitou os votos que tive, tendo participações importantes nestes três anos e meio. Mas não tinha tanta perspectiva de seguir fazendo a mesma atividade por mais quatro anos. Estava disposto a assumir outro papel — e o perfil do Executivo tem mais proximidade ao que sei fazer de melhor.

Já há alguma ideia levada pelo senhor a d’Avila para incorporar ao programa de governo?
Temos conversado pontualmente. O plano tem sido elaborado e comandado por Felipe e um grupo de especialistas. Estou entrando agora na chapa, então, não foi algo a que me dediquei profundamente para trazer contribuições. Vamos fazer isso ao longo das próximas semanas para lançar o plano até o fim deste mês.





Mas em quais áreas o senhor pode dar sugestões e contribuir?
As áreas de educação, em que atuei na Câmara, e da reforma administrativa. São temas em que me aprofundei por ter sido o responsável, na bancada do Novo, por cobri-las.

Felipe d’Avila disse ao EM, em maio, que Zema é a maior “vitrine” do Novo. A mesma expressão foi usada pelo senhor. A presença de um mineiro na chapa fortalece a estratégia de se amparar na gestão feita em Minas?
Com certeza. Zema, sem dúvidas, é essa vitrine. Isso é reconhecido pela população — vemos nas pesquisas, na popularidade que ele tem no estado e nos resultados. Acompanhei de perto o trabalho de Zema neste mandato. É uma junção entre o que pude acompanhar de Zema e o que vi no Congresso, pois outra fortaleza do Novo é a bancada federal.

Zema tem sido publicamente cortejado por Bolsonaro, mas reafirma lealdade a d’Avila. Como é a relação entre o senhor e o governador? Sua presença na chapa presidencial pode ser um fator para fazê-lo se engajar ainda mais na candidatura do Novo?
Imagino que ele já estaria engajado de toda forma. Vemos, de vez em quando, a turma tentando empurrá-lo para um lado ou para o outro, e ele sempre tem sido bem firme no apoio a Felipe. Certamente, agora, tendo alguém que já caminhou com ele em 2018 — rodei bastante o estado ao lado dele na campanha — sendo de Minas, com essa proximidade, inclusive, física, vai ajudá-lo a se aproximar da nossa candidatura presidencial.





A menos de 100 dias da eleição, ainda há polarização entre Lula e Bolsonaro. Se, em um ano, ninguém conseguiu furar essa barreira, o que fazer para conseguir isso em tão pouco tempo?
Tenho visto esse cenário com bastante proximidade ao que vimos em Minas em 2018. No início de julho daquele ano, achavam que seria Anastasia ou Pimentel. Tínhamos então um governador disputando com um ex-governador. Neste ano, temos o atual presidente contra o ex-presidente. Os dois altamente conhecidos, com candidaturas bastante rejeitadas — os níveis de rejeição deles são os mais altos, como eram PT e PSDB em Minas em 2018. Da mesma forma, em Minas, outros nomes tidos como potenciais terceiras vias, como (Rodrigo) Pacheco e Marcio Lacerda, foram ficando pelo caminho por diferentes motivos. Temos visto exatamente a mesma coisa no cenário nacional. Mandetta era opção de terceira via, depois, vieram Eduardo Leite, Moro e Doria. Todos, por diferentes motivos, ficaram pelo caminho. Isso abre espaço para o único partido coeso em torno de sua candidatura, com boas propostas e, a meu ver, o melhor nome em qualidade na disputa. A única coisa que falta é a gente ser conhecido. Em 2018, conseguimos fazer isso na última semana de campanha, quando Zema, finalmente, participou de um debate. O que me leva a crer que, neste ano, teremos a possibilidade de fazer isso em escala maior é que Felipe vai estar nos debates desde o primeiro momento. Neste ano, ao contrário de 2018, o Novo já tem bancada federal — e vamos sair com ele podendo se apresentar a toda a população. Tenho certeza que, assim como os mineiros fizeram com Zema em 2018, conhecendo as propostas do Felipe e do Novo e vendo que não precisam votar em Lula ou Bolsonaro por causa da rejeição ao outro — e que existe outra opção — esses votos tendem a migrar para a gente.