Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES

"Sou pré-candidato ao governo de minas gerais"



Foram quase 20 minutos de um discurso pausado, em que teve emoção, críticas ao governo do estado e palavras de compromisso direcionadas ao povo belo-horizontino. No pronunciamento que marcou sua despedida da Prefeitura de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) afirmou que vai percorrer toda Minas Gerais para se tornar mais conhecido e mostrar suas ideias na disputa pelo Palácio Tiradentes. Ele deixa o mandato depois de cinco anos e 84 dias e será substituído a partir de terça-feira pelo vice, Fuad Noman (PSD).





Horas depois de se despedir da PBH, Kalil divulgou vídeo no qual se pronunciou oficialmente como pré-candidato ao governo de Minas. Na publicação, ele atacou o governador Romeu Zema (Novo) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), dizendo que “presidente nenhum o obriga a tirar a máscara”.

“Vou pular aquela montanha, mais aquela montanha, mais outra montanha. Vou contar para Minas Gerais inteiro nossa história de amor, como se governa com Deus e com o coração. Vou contar para todo mundo o que é transformar uma cidade numa cidade humana, cooperativa, com empatia. Vamos mostrar para todas as cidades o que nós fizemos. Minas Gerais, sem promessas e sem mentiras, esse é o quadro de hoje, é a realidade de nossa capital. É uma prova cabal de cidade diferente, de cidade eficiente”, disse o agora ex-prefeito da capital.

“A legislação brasileira me obriga a sair da Prefeitura de Belo Horizonte. Sou pré-candidato ao governo de Minas Gerais”, afirmou Kalil. “Digo sem medo que nós fizemos o que deveríamos fazer. Servimos, e servimos muito bem”, disse. “Quero dizer para o povo de Belo Horizonte o seguinte: muito obrigado, gente! Foi bacana pra 'burro', ser prefeito cinco anos e 84 dias desta cidade em que eu nasci. A gente não se despede. Mas eu volto, porque ninguém abandona o que ama”, completou.





Ele afirmou que a capital foi literalmente abandonada pelas esferas estadual e federal: “Apesar dos quatro anos de abandono, pertencemos a Minas Gerais. Somos a capital, a nave-mãe, e não podemos ser abandonados. O governo de Minas voltará a saber que BH é importante para ser abandonada pelos governos estadual e federal, como fomos nesses últimos anos”.

ANIVERSÁRIO
A despedida da prefeitura ocorreu justamente no dia em que Kalil completou 63 anos. Quando chegou ao Salão Nobre da PBH, secretários e apoiadores cantaram o “Parabéns”. Em seu discurso, ele lembrou os momentos tensos que viveu no cargo, como as pesadas chuvas que assolaram a cidade nos últimos anos e a pandemia da COVID-19. Nos dois problemas, o ex-prefeito afirmou que não teve qualquer ajuda do governo do estado e do Palácio do Planalto, tendo que direcionar recursos para não evitar maiores complicações.

“Separamos a verba e cuidamos da pandemia, com coragem e responsabilidade. O resultado todos sabem. O Brasil e o mundo tomaram conhecimento que atrás das montanhas havia um povo bravo, resiliente, disciplinado”, afirmou Kalil. “A pandemia se combate sem papelotes coloridos, ondas lilás, verdes e azuis. Assunto de pandemia não se resolve em folha A4. Ela se trata com organização, investimento, robustez, ciência e coragem política, humildade e coração”, afirmou o pré-candidato ao governo de Minas.





Ao lado de Kalil, deixarão a PBH o secretário de Saúde, Jackson Machado, a secretária de Políticas Urbanas, Maria Caldas, e o procurador-geral do município, Castelar Guimarães Filho, a quem o ex-prefeito fez homenagens no pronunciamento. Kalil também desejou boa sorte a Fuad Noman e garantiu que BH não ficará parada até o fim do mandato da chapa. “Quanto ao futuro, fiquemos tranquilos. O Fuad foi eleito junto comigo e no mesmo programa, na mesma filosofia. Não pense que ele entrou agora. Fuad esteve ao meu lado nos cinco anos e 84 dias tentando desesperadamente melhorar a vida dos belo-horizontinos”.

O pré-candidato do PSD ao governo quase foi às lágrimas quando se lembrou dos netos Catarina, Helena, Eduardo e Bianca. “Esse é o velho retardado. Descobriu que o melhor programa do mundo é buscar os netos na escola. Até logo, gente. Estou aí, mas vou buscar novos desafios.”

No discurso, Kalil agradeceu aos secretários municipais Jackson Machado, da Saúde, e Maria Caldas, de Políticas Urbanas, que também estão de saída da prefeitura. “Não sei o que seria dessa cidade sem seu conhecimento científico, sua honestidade e seu coração humano. Parabéns!”, declarou Kalil ao responsável pela pasta da Saúde. “Graças a um Plano Diretor técnico, ousado e principalmente moderno e humano, Maria Caldas, você, que nos deixa hoje, muito obrigado, sua coragem nos inspira. Ela é a mãe de todas as virtudes. Você ensinou o que é um estado eficiente e um governo diferente”, declarou.





Estratégias da candidatura

Os compromissos de campanha de Kalil começarão por viagens ao Vale do Aço, ao Jequitinhonha e ao Rio Doce. Posteriormente, a ideia do estafe do ex-prefeito de BH é visitar as regiões de Montes Claros e de Teófilo Otoni. Um fonte revelou ao Estado de Minas que a estrutura de campanha está toda montada. O local escolhido foi um prédio na Avenida Raja Gabaglia, na divisa das regionais Centro-Sul e Oeste, em frente ao Hospital Madre Tereza.

Além de Zema, Kalil tem como possível adversário o senador Carlos Viana, que se filiou ao MDB justamente para concorrer ao governo. O ex-prefeito de BH teve conversas com Lula (PT), pré-candidato à Presidência da República em 2022, mas disse que nada foi definido quanto a um possível apoio em Minas Gerais.

Da Saúde para a campanha

A campanha de Alexandre Kalil (PSD) para o posto de governador de Minas Gerais, nas eleições gerais de 2022, terá um velho conhecido como “fonte”: Jackson Machado, secretário de Saúde de Belo Horizonte no período em que Kalil foi prefeito, de janeiro de 2017 até ontem. Na manhã de ontem, o então chefe do Executivo anunciou a renúncia para se lançar oficialmente como pré-candidato ao governo de Minas, e Machado sai junto com Kalil. Jackson Machado será um dos nomes de confiança de Kalil na corrida governamental, com desfecho em outubro. Antes, contudo, o médico, doutor em medicina e especialista e mestre em dermatologia, vai tirar um tempo de descanso e voltar com a atuação particular.





“Vou ajudá-lo a escrever o plano dele para o governo de Minas, mas vou voltar um pouco para minha prática médica, particular, vou recuperar um pouco o que deixei de ganhar nesses anos à frente da saúde na prefeitura. Mas vou descansar, principalmente porque foram anos, cinco anos e alguns dias, muito desgastantes, principalmente para mim. Preciso recuperar um pouco da minha tranquilidade para poder tocar minha vida”, disse ontem, em entrevista coletiva.

O iminente ex-secretário, contudo, afirma que ainda desconhece quem irá sucedê-lo na Secretaria Municipal de Saúde. O futuro prefeito de BH, Fuad Noman (PSD), deve oficializar o nome na próxima terça-feira, após tomar posse como chefe do Executivo. A Secretaria de Políticas Urbanas, que era conduzida por Maria Caldas, também terá uma nova chefe.

“O prefeito Fuad vai anunciar em breve. Eu não sei ainda, ele não me falou, mas tenho certeza de que ele não escolheria uma pessoa que não fosse capaz de tocar a Secretaria de Saúde, que é uma secretaria gigante, tem desafios enormes, mas queria dizer também que até que nomeie essa pessoa, eu continuarei à frente da Saúde, semana que vem, para não deixar a Saúde parar. A Saúde não pode parar”, afirmou.





COVID-19

Muito visado por conta da pandemia de COVID-19, desde março de 2020, Jackson Machado considera que o coronavírus foi um dos grandes desafios de sua vida. Ele agradeceu às equipes de prefeitura e da secretaria e afirmou que a capital mineira se preparou para lidar com o vírus, também elogiando o comportamento da população.

“Não resta a menor dúvida de que foi uma coisa absolutamente inesperada, mas que me senti absolutamente preparado para enfrentar, e contei com a colaboração de muitas pessoas de muita competência, e isso fez toda a diferença. E, também, como já disse, contei com a colaboração da população, que ouviu o que a gente pedia e entendeu que era necessário naqueles momentos fazer o que era um sacrifício enorme. Nós sabíamos os efeitos colaterais, todas as medidas que aconselhamos o prefeito a tomar, mas a vida é mais importante que qualquer coisa”, diz.

Por fim, Jackson, emocionado com a despedida da prefeitura, também agradeceu: “Queria agradecer à equipe da prefeitura, queria agradecer à equipe da Saúde, e queria agradecer muito à população de Belo Horizonte, que contribuiu, entendeu o recado de que era o necessário a ser feito, e foi isso que tornou Belo Horizonte o modelo que foi para o país e para o mundo”. (IP e MM)