Jornal Estado de Minas

REPERCUSSÃO

Bolsonarismo perde Olavo de Carvalho: figura central na ideologia

Quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi eleito, em 2018, o primeiro pronunciamento do chefe do Executivo exibia um dos livros mais famosos de Olavo de Carvalho: O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. O momento marcava a influência do autodeclarado filósofo no governo Bolsonaro que renderia o apelido de "guru". 






Morto, nesta segunda-feira (24/1), aos 74 anos, Olavo de Carvalho já tinha se distanciado do governo e até fazia críticas a Bolsonaro. De acordo com especialistas, o papel dele não teria mais tanta relevância nas próximas eleições. "Ele não era uma figura política ativa. Era mais uma figura intelectual. A importância maior dele foi no início do governo", destaca Sérgio Praça, professor da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV CPDOC). 

Segundo o cientista político e professor do Insper Fernando Schüler, o governo Bolsonaro usou da figura de Olavo de Carvalho para se eleger, mas nunca foi ideologicamente conservador como defendia o escritor. "O que acontece recentemente é que esses segmentos ideológicos e conservadores vêm perdendo força no contexto do bolsonarismo. O governo tende a um pragmatismo, o simbolo disso é a aproximação com o Centrão. Bolsonarismo nunca se consolidou como uma ideologia, sinal disso foi a incapacidade de fundar um partido", afirma. 

Porém, o filósofo foi figura central para que Bolsonaro pudesse chegar ao poder. Desde a década de 1980, Olavo de Carvalho é conhecido e admirado entre o público conservador. "Ele teve um papel formativo na chamada nova direita brasileira, que vem bem antes da eleição de Bolsonaro. Ele foi importante para ajudar quadros que acabam sendo uma sustentação para o bolsonarismo", destaca Schüler. 





Sérgio Praça ainda relembra que, entre conservadores, fazer um curso de Olavo de Carvalho seria o equivalente a cursar ciências sociais na Universidade de São Paulo. "Eles se organizaram em torno dessa figura com sua ideias reacionárias e preconceituosas, como se ele fosse um farol. O Olavo de Carvalho foi um figura aversa a qualquer boa prática intelectual e cientifica. Ele era, sobretudo, um sujeito inseguro sem capacidade intelectual para debater com pessoas que pensavam diferente dele." 


Além disso, o professor destaca que as influências do olavismo dentro do governo estão principalmente em questões ideológicas, como a nota técnica assinada pelo secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto, que dizia que vacinas não funcionam contra a covid-19, e, sim, hidroxicloroquina. "Se você olhar o Linkedln dele, ele foi aluno do Olavo. Uma pessoa em um cargo alto negando os efeitos positivos da vacinação. É bizarro. E isso só é possível devido ao olavismo. Ainda teve a indicação do ministro da Educação, Ricardo Vélez, que durou muito pouco no cargo porque ele não tinha conhecimento nenhum", pontua. 

Figuras do alto escalão do governo, como o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e os ex-ministros da Educação Ricardo Vélez Rodrígues e Abraham Weintraub, foram indicações de Olavo para as pastas. 

Nos últimos tempos, o escritor tinha começado a fazer críticas a Bolsonaro. Em uma participação no programa Conserva Talk, em dezembro, ele disse que o presidente tinha poucas chances de ser reeleito. "É uma briga perdida." Disse ainda que só tinha conversado quatro vezes com Bolsonaro durante toda a vida e que duvidava que o presidente tinha lido um livro dele inteiro. 





Bolsonaristas lamentam morte 

Logo após o anúncio da morte de Olavo de Carvalho, o presidente Jair Bolsonaro usou as redes sociais para lamentar a morte do escritor a quem se referiu como "um dos maiores pensadores da história do nosso país". Filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) também lamentaram a morte do escritor. 

 
O próprio Palácio do Planalto emitiu uma nota de pesar pela morte do escritor: "Intransigente defensor da liberdade e escritor prolífico, o professor Olavo sempre defendeu que a liberdade deve ser vivida no íntimo da consciência individual e na inegociável honestidade do ser para consigo mesmo", destaca trecho da nota. 

Os ministros Tarcísio Freitas, da Infraestrutura; Gilson Machado, Turismo; Onyx Lorenzoni, do Trabalho; e Damares Alves, Mulher, Família e Direitos Humanos;Ricardo Salles, Meio Ambiente; também lamentaram a morte de Olavo de Carvalho.

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