Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES

Bolsonaro retoma discurso mais radical para agradar eleitor fiel

O presidente Jair Bolsonaro (PL) abandonou a aparente pacificação e retomou a sua roupagem radical costumeira. Durante a semana, o presidente voltou ao discurso radical em aceno ao eleitorado fiel na tentativa de garantir um lugar no segundo turno no pleito eleitoral ao Palácio do Planalto. O grupo varia entre 15% e 20% do total de votos e, segundo especialistas, podem levá-lo ao objetivo. Ao mesmo tempo, dá munição à oposição, aumentando ainda a rejeição na população em geral.



Na última sexta, o presidente iniciou o périplo de viagens pelo país. No Amapá, o chefe do Executivo subiu o tom ao voltar a acusar, sem provas, fraude nas eleições presidenciais de 2018. Em julho do ano passado, Bolsonaro promoveu uma live na qual prometeu apresentar as provas de que as eleições de 2018 foram fraudadas. Contudo, durante o evento, ele comentou que “não tinha como se comprovar”.

A fala coincide com os ataques feitos no começo da semana aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes em relação a decisões relacionadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Quem os dois pensam que são?”, questionou. Barroso é o atual presidente da Corte eleitoral e Moraes assumirá o órgão nas eleições deste ano. “Os dois, nós sabemos, são defensores do Lula, pô. Querem o Lula presidente”, alegou.

No ano passado, o presidente criticou reiteradas vezes o sistema de urnas eletrônicas e o ápice da crise com o Supremo ocorreu no dia 7 de setembro, quando ameaçou não cumprir decisões de Moraes. Bolsonaro divulgou uma nota dizendo que as declarações ocorreram "no calor do momento".



O líder do Planalto também tem investido em uma nova leva de entrevistas a rádios e emissoras menores em uma nova empreitada contra a vacinação de crianças de 5 a 11 anos e embates públicos com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mesmo diante da terceira onda da COVID no país.  Na quarta-feira, sugeriu que a variante ômicron é até ‘bem-vinda’. Com letalidade menor, mas com capacidade de disseminação maior, o vírus pode sobrecarregar o sistema de saúde. O presidente ainda enfrenta a possibilidade de instauração de uma nova CPI da COVID-19.

“Sempre tive uma bandeira muito forte em defesa da família, dos costumes, das crianças em sala de aula, contra a ideologia de gênero, favorável ao armamento. Essas questões todas me levaram a ser conhecido perante o eleitor”, emendou em declaração a um site de direita.

CHANCES


O cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, ressalta que apesar de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparecer como favorito nas pesquisas, Bolsonaro tem chance. Ele aponta medidas populistas como o pagamento do Auxílio Brasil e o perdão de dívidas do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) de até 92% como ações que podem ajudar a reverter, ao menos momentaneamente, a baixa popularidade.



“A partir do dia 18 começa a ser pago o Auxílio Brasil no valor de R$ 400, por exemplo. E isso pode ter impacto na popularidade e aumentar os índices de intenção de votos. Apesar de ter um ambiente hostil com inflação alta, crescimento pequeno da economia, desemprego elevado, ele mantém eleitorado fiel em torno de 25% das intenções de voto”, observa.

“Havendo melhora no quadro geral da economia e esses tipos de ações específicas incluindo ainda que o governo pode acabar com a bandeira de escassez hídrica em abril, o que pode reduzir o preço da energia elétrica, existem fatores que tendem a ajudar o presidente nessa disputa”. Ao mesmo tempo, lembra, o ex-presidente Lula surfa em um ambiente favorável enquanto o governo sofre de problemas incluindo a nova onda de pandemia. “Ainda tem muita água para rolar, mas Bolsonaro tem chances. Tem muito chão até outubro”, acrescentou.

Paulo Baía, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avalia que as últimas pesquisas de intenções de voto vão confirmando um retrato ainda prévio das eleições, embora o ex-presidente Lula lidere as preferências. Isso porque, conforme Baía, o petista está bem protegido e não há ataques contra ele, o que o coloca, portanto, em um nível de aceitação elevado.



O especialista destaca que as falas à sua bolha interna podem levá-lo ao segundo turno. “Bolsonaro, apesar de todo o desgaste, da impopularidade e do aumento da rejeição, mantém uma fidelidade do seu eleitor na faixa de 15% a 20% dos votos válidos, o que assegura uma posição do mandatário no segundo turno das eleições”, avaliou.

Nesse sentido, diz, o discurso político radical e negacionista de Bolsonaro, sobretudo em relação à pandemia, é uma estratégia muito inteligente de fidelizar os seus eleitores. “Embora seja considerado absurdo, o movimento antivacina é grande, e até muito maior do que as pessoas pensam, pois existem milhões de brasileiros não adeptos a Bolsonaro e que são contra a vacinação. Portanto, esse eleitor pode se fidelizar ao presidente”, afirmou.

De acordo com Baía, o discurso do chefe do Executivo é voltado para manter a preferência de um eleitor fiel, “que não deixará de votar nele em hipótese alguma”. “Então, Bolsonaro quer assegurar uma fatia do eleitorado que representa de 15% a 20% das intenções dos votos. E é nesse público que o discurso bolsonarista encontra eco”, frisou.


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