Jornal Estado de Minas

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'Chapéu de otário é marreta': deputado usa bordão de Aziz na CPI da Cemig

Com a célebre frase "chapéu de otário é marreta", do senador Omar Aziz (PSD-AM), o deputado estadual mineiro Professor Cleiton (PSB) reagiu, nesta quinta-feira (19/8), às alegações de um depoente que prestou informações à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).





Os parlamentares estão debruçados sobre o contrato firmado entre a estatal e a Exec, empresa responsável por recrutar Reynaldo Passanezi Filho para a presidência da energética.

Os deputados já confirmaram que o contrato com a Exec, feito sem licitação, foi assinado depois que o serviço de escolha do novo comando da companhia já havia sido concluído. É o chamado processo de convalidação, em que atos retroativos com erros são tornados oficiais. Nesta quinta, o uso do mecanismo foi confirmado à CPI por Rômulo Provetti, gerente de Provimento e Desenvolvimento de Pessoal da estatal, e Hudson Felix Almeida, gerente-adjunto de Gestão de Pessoas. O serviço custou R$ 170 mil.

Na visão de Professor Cleiton, a manobra desrespeita os princípios da administração pública. Por isso, o socialista fez uso da expressão cunhada pelo senador amazonense.

"Parafraseei o Aziz porque descobrimos que essas convalidações tentam justificar contratações verbais feitas pela Cemig. Usei 'chapéu de otário é marreta' pois estão querendo convencer a gente de que isso é normal", disse, ao Estado de Minas. Omar Aziz é presidente da CPI da COVID no Senado.


Hudson Felix afirmou ter ouvido de Cledorvino Belini, antigo presidente da Cemig, que a escolha da Exec para intermediar o processo de definição do sucessor partiu do governo estadual. Mesmo sem ter participado das tratativas com a headhunter - companhia responsável por recrutar executivos no mercado -, o diretor assinou a convalidação do contrato.



"O processo de convalidação me deu segurança. Dentro desse processo, a gente verifica se é uma empresa qualificada para tal, e verificamos que sim. A Exec é uma das grandes do mercado, com vários clientes semelhantes à Cemig - ou até maiores. Verificamos, também, o valor contratado, que é abaixo daquilo que usualmente se paga no mercado", sustentou.

O relator da CPI, Sávio Souza Cruz (MDB) cobrou, então, a existência de um relatório entregue pela Exec à Cemig detalhando as análises, entrevistas e dinâmicas seletivas feitas para a escolha do novo presidente. Hudson, no entanto, garantiu não ter acesso a um documento do tipo.

A resposta gerou protestos do presidente da comissão de inquérito, Cássio Soares (PSD). "Foi contratada empresa por inexigibilidade (de licitação) para proceder recrutamento da maior autoridade da empresa e o diretor de Gestão de Pessoas não sabe onde está esse processo, mas sabe que foi pago. É inadmissível tamanha ineficiência, para dizer o mínimo".



O depoimento de Hudson Félix foi o segundo desta quinta. Mais cedo, Rômulo Provetti falou aos parlamentares.

Relação com o Novo em xeque 

Passanezi assumiu a Cemig em 13 de janeiro de 2020. Em novembro do ano anterior, quando a empresa procurava headhunters para auxiliar no processo de escolha do presidente, a Exec enviou a primeira proposta. O documento, no entanto, foi encaminhado a um diretor do partido Novo em Minas Gerais, que não trabalha na energética.

"Está claro que há uma pessoa estranha à Cemig operando dentro da companhia para favorecer uma empresa que, claramente, tem ligações com o partido Novo", reclamou Professor Cleiton.

Em maio de 2019, a Exec anunciou acordo com o partido Novo para buscar candidatos a prefeito na eleição do ano passado. À reportagem, a headhunter afirmou não comentar processos de seus clientes a fim de manter o sigilo.

O Novo foi procurado para prestar esclarecimentos acerca de suas relações com a empresa. Nesta sexta (20/8), o diretório estadual da legenda afirmou que irá se posicionar oficialmente ao longo dos trabalhos da CPI.

CEMIG

Em nota, a Cemig informou que "a contratação da empresa Exec, responsável pelo recrutamento e seleção do presidente da Companhia, foi feita dentro da legalidade e em conformidade com as normas internas da empresa".





 

Disse ainda que a formalização do contrato com a Exec foi realizada após o serviço prestado devido ao sigilo que envolve a substituição do cargo de presidente da empresa, que deve ser comunicada ao mercado por meio de Fato Relevante, o que foi feito em 13/01/20, data da eleição e posse do presidente.

 

"A contratação de serviços especializados neste valor não é matéria de deliberação do Conselho de Administração. A convalidação da prestação dos serviços foi aprovada pela Diretoria Executiva, tendo o Diretor-Presidente se abstido de participar da discussão e votação da matéria, conforme registro na ata da Reunião da Diretoria Executiva", conclui.

audima