Jornal Estado de Minas

Entrevista

Deputada Joice Hasselmann diz que desafeto tem acesso ao prédio onde mora


Após acordar ferida em seu apartamento funcional na Asa Norte e identificar seis lesões na face e nas costelas, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) pediu abertura de investigação.



A parlamentar suspeita que uma terceira pessoa tenha entrado no apartamento, onde ela estava com o marido e feito as agressões a ela. As diligências, de acordo com a congressista, estão sendo conduzidas pela Polícia Legislativa e pelo Ministério Público.

Em entrevista ao Correio Braziliense/Estado de Minas, Joice revela ser alvo de ameaças pelas redes sociais, de insinuações indiretas sobre sua segurança e que um desafeto tem acesso fácil ao prédio onde ela mora.

“Dei dois nomes à polícia”, conta. No entanto, na noite em que ocorreram as lesões, nem ela nem o marido relatam sinais de invasão no apartamento em que vivem. Ela não descarta que as fraturas tenha sido causadas por uma queda.




 
A senhora ainda sente dores relacionadas às lesões?
Eu ainda sinto algumas dores. Mas já estou bem melhor.

A senhora estava assistindo a uma série e adormeceu?
Eu tomo um remédio. É o mesmo remédio há 20 anos, para adormecer. Ele leva mais ou menos uns 20 minutos para fazer efeito. A série tem mais ou menos 40 minutos. Então, na metade do capítulo, tomei para conseguir terminar. Na hora em que terminou, desliguei a televisão e fui dormir. Coloquei meu tampão de ouvido, uso por ter o sono muito leve. Adormeci por volta da 1h de sábado para domingo. Depois, às 7h03, acordei no chão, de bruços, em volta de uma poça de sangue, com dente quebrado. Eu achei que tinha caído, que teria tido um mal súbito, batido a boca e saído sangue do nariz. A conclusão óbvia, né. Fui buscar socorro. Me arrastei até o criado-mudo, peguei o celular para ligar para o meu marido. A gente dorme em quartos separados, desde sempre, porque ele ronca muito. Ele me atendeu na segunda ligação e saiu correndo, óbvio, eu ligando pra ele de manhã. Saiu correndo, foi lá me atender e prestou os primeiros socorros. A gente se preocupou se eu estava com as faculdades neurais plenas. Ele fez os exames todos, ele é neurocirurgião. Eu estava entendendo, falando, enxergando, com dor pela queda, óbvio. Mas, inicialmente, a gente achou que fosse um tombo.


A senhora acordou no mesmo ambiente em que dormiu?
Meu quarto tem três ambientes. Tem o quarto onde fica a cama e tem um corredor longo, em frente, que dá acesso ao banheiro. Foi nesse corredor que eu acordei.

A senhora acredita que uma terceira pessoa entrou no apartamento?
É uma das hipóteses mais prováveis pelo volume de traumas e pelo fato de estar desacordada. Mas eu também não descarto a possibilidade de ter caído várias vezes. Mas o que é estranho, falando com especialistas, com os médicos, com o meu marido mesmo… Quando eu acordei estava de bruços, com o rosto no chão. Depois eu descobri que estava com um galo na nuca. Para eu estar desacordada, teria que ter tomado uma pancada ou caído e batido a parte da nuca, a parte de trás da cabeça. Então, como eu estava de frente? Se eu estava desacordada, não teria como estar de frente. É uma conta que não fecha. Mas, assim, não é impossível que eventualmente tenha acontecido isso (acidente). Mas como é pouco provável, decidimos pedir a investigação para saber se alguém entrou aqui. Até porque, não é de hoje que sofro ameaças de morte. Minha lista de desafetos políticos dá para fazer de ordem alfabética os nomes.





O medicamento que a senhora toma seria suficiente para manter o sono durante as agressões ou seria necessária outra droga para dopá-la?
Como alguém iria me dopar comigo dormindo? Só se fosse com uma agulhada, e eu iria acordar. Não tem lógica isso.

A senhora não tomou nada além do remédio antes de dormir?
Se eu fui desacordada por uma terceira pessoa foi com uma pancada, não com remédio. Não tem sentido. Como alguém vai abrir minha boca e enfiar um remédio na marra? Eu iria me lembrar. Posso não me lembrar depois de ingerir o remédio, mas na hora eu iria me lembrar. Então, a única possibilidade é se alguém bateu na minha cabeça e obviamente eu falei isso para a Depol. Se alguém entrou aqui foi coisa de profissional, não de amador. Qualquer karateca, qualquer profissional, agressor, sabe onde bater em uma cabeça para que você desacorde. Nessa hipótese, “ah, não sei o quê”, alguém teria que ter me dopado antes. Aí, eu não teria assistido à série, não teria tomado o remédio.

Então a senhora não tomou nada antes de adormecer, como um chá, além do remédio?
Não tomei nada. Jantei normalmente, tomei minha taça de vinho, que tomo todo dia. Fui dormir cinco horas depois do jantar e tomei meu remedinho, que tomo todo dia. Para mim, já é água com açúcar, pois faz 20 anos que tomo. Tenho insistido bastante para trocar o remédio, ampliar a dose, mas o meu marido não deixa. Ele me faz dormir profundamente por três horas. Passou essas três horas, passou o efeito e qualquer coisa me acorda.





A senhora descartou a possibilidade de violência doméstica…
Isso é a coisa mais canalha que existe. Isso é babaquice de louco bolsonarista, violência doméstica. É a coisa mais ridícula. Isso não é uma ofensa contra o meu marido, é uma ofensa contra mim. O quê que é? O povo está achando que sou mulher de malandro, que vou apanhar e ficar quieta? Se houvesse pelo menos uma ameaça de violência doméstica eu iria denunciar na polícia. Meu marido é um príncipe comigo, um lorde.

Se alguém invadisse o apartamento e a agredisse, pela distância entre os quartos seu marido não iria ouvir?
Mas aí eu teria que gritar, né. Para ele ouvir alguma coisa eu teria que gritar. Como eu iria gritar desacordada? As pessoas me fazem perguntas que eu não tenho muita resposta. Do meu quarto até o quarto do meu marido são três cômodos. Apartamento funcional antigo é grande. Até o quarto do meu marido tem um corredor supercomprido, que é o corredor do closet. Aí, tem outro corredor, tem um banheiro grande, tem o quarto do meu marido, que é grande. Todas as portas ficam fechadas, porque a gente tem gatinhos. Se deixa aberta, os gatinhos não deixam a gente dormir.

Tem alguma entrada no prédio que é possível acessar sem passar pela guarita, para quem tem a chave?
Tem a garagem, que não passa pela guarita. Mas aí teria que ter ajuda de um parlamentar ou motorista de parlamentar. Todos os parlamentares e motoristas já têm os carros cadastrados e entram direto.





É uma pessoa que abre o portão da garagem?
Não. Todos temos o controle. Mas se a gente está sem o controle, dá uma buzinadinha e eles abrem. Eu até pensei na possibilidade de alguém entrar por outro apartamento de andar mais baixo e ter acessado a escada, porque daí não passa pela câmera de segurança.

A senhora teve acesso às câmeras de segurança do prédio?
Não, pedi para a polícia pegar isso. Assim que suspeitamos que alguém pode ter entrado aqui, estou tratando como suspeita, com muita responsabilidade. Assim que suspeitei, pedi à Depol para fazer o levantamento das câmeras, mas não só de agora, do fim de semana, mas sim de um mês, pois quem fez isso é profissional, não amador.

Quem está investigando?
A Polícia Legislativa, o Conselho Nacional do Ministério Público, a Ouvidoria Nacional das Mulheres do Ministério Público, para quem dei toda autonomia para pedir material de outras investigações. Pedi para eles compartilharem todas as informações com a polícia de São Paulo, que já investiga outras ameaças contra mim, polícia que não tem interferência do governo.





Foi realizada alguma perícia no apartamento ou no prédio?
Não, não foi feita porque a gente só suspeitou disso na quarta de manhã, e aconteceu na madrugada de domingo. Não tem muito sentido. Vamos raciocinar, uma pessoa normal que raciocina. A pessoa caiu, bateu a cabeça, saiu sangue do nariz, o quarto está sujo de sangue. O que você faz? Você deixa lá o sangue ou você limpa tudo e vai cuidar do ferimento. Tem até umas pessoas bem burrinhas, bem limitadas na internet, que ficam perguntando por que não chamou a perícia. Não passou pela minha cabeça a possibilidade de um atentado. Achei que tivesse sido um mal súbito. Fui internada há um ano e meio com um problema grave de saúde, que achei que era até um princípio de infarto. Não era, depois descobri que era outra coisa. Me passou tudo pela cabeça, como princípio de infarto, AVC. Minha mãe teve um AVC na minha idade, que até deixou ela com um lado do corpo paralisado, e depois voltou. Então, tinha que ser muita teoria da conspiração eu estar caída ali e achar que alguém tinha entrado. Eu só pensei depois de receber os resultados dos exames com os traumas de coluna, no rosto.

Inicialmente, a senhora pensou que seriam lesões graves e foi imediatamente ao hospital?
Não. De jeito nenhum. Eu estava com dor. Pensei que estava com dor porque dei com a cara no chão, e claro que vai doer. Meu dente foi moído. E o dente é um lugar muito sensível, e doía muito. Meu marido me deu o primeiro banho, na banheira, pois ele estava com medo de que eu caísse. Ele me tirou da banheira, me enxugou, me colocou na cama. Depois que eu já estava alimentada, ele me deu água de coco para me hidratar, me deu comida doce. Depois que ele cuidou de mim, mais tarde, quando eu fui tomar banho de chuveiro, e ele estava me olhando, com medo de eu levar outra queda, eu passei a mão na cabeça, eu dei um grito. Ele perguntou o que foi e eu disse que estava com um galo na cabeça.

Nesse momento a senhora procurou o hospital?
Não. Primeiro, procurei o grupo para ver meus dentes. Porque até aí a gente desconfiava de uma queda. Eu até perguntei como eu teria batido a parte de trás da cabeça e a frente. Mas a minha preocupação era com os dentes. Fui atrás de uma indicação de dentista, pois não conheço ninguém aqui. Todos são de São Paulo. Fui em uma clínica para fazer todos os exames. Aí a tomografia dentária é diferente da tomografia de crânio e meu marido estava insistindo para que eu fizesse a tomografia de crânio e eu não queria porque estava cansada, feia. Não queria aparecer desse jeito. O dentista viu a tomografia e falou: “Tem coisa aí, é melhor fazer os outros exames”. Eu liguei para o doutor Kalil e ele disse que meu marido tinha razão, que era melhor eu ir ao hospital fazer a tomografia de crânio. A preocupação inicial era intracraniana, para saber se não tinha nenhum AVC, nada que pudesse ter causado desmaio. Ele até usou a expressão: aqui, casa de ferreiro não vai ter espeto de pau. Ele pediu cinco tomografias, dos joelhos, crânio, da face, da cervical. O laudo saiu na quarta de manhã e a partir do laudo é que a gente começou a fazer a segunda suspeita.





A senhora desconfia de alguém que possa ter feito isso?
Dei dois nomes à polícia, que são desconfianças, mas não vou acusar, pois são casos recentes. Mas eu passei para a polícia e eles vão investigar.

Mas são pessoas que já ameaçaram a senhora?
Uma delas não diretamente, mas mandou recados indiretos, mas tem acesso muito fácil aqui ao prédio. E a outra é o óbvio ululante. São pessoas que estão me ameaçando sempre e nem têm vergonha. Me ameaçam publicamente nas redes sociais.

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