Jornal Estado de Minas

Eleições 2022

Corrida ao Palácio do Planalto marca o tom da sucessão em Minas Gerais


Políticos mineiros apostam na filiação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) ao PSD. Cortejado por Gilberto Kassab, presidente nacional do partido – e eleito para a presidência da Casa com apoios ecléticos –, Pacheco não apenas tornou-se uma espécie de curinga, considerado à esquerda e à direita para composições, como pode se transformar em aposta de terceira via nas eleições de 2022, acionada pelo PSD em caso de aceleração da deterioração dos indicadores de avaliação popular do presidente da República.



“Temos um monte de nomes no PSD e o próprio, que não é do partido, mas seria uma terceira via ótima, que é o presidente do Senado. Por que não?”, declarou o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, ao Estado de Minas.

Kalil prega, nesse momento, a neutralidade em relação à polarização entre Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como candidatos às eleições do ano que vem. Assim como Kassab – que já sabe que não irá com Bolsonaro, mas ao mesmo tempo em que tenta construir uma terceira via, conversa reservadamente possibilidades com Lula, focado que está na formação de uma bancada federal forte na Câmara dos Deputados – Alexandre Kalil defende opção ao cenário polarizado que se conforma no plano nacional.

Apoiador de Bolsonaro, o governador Romeu Zema busca a reeleição em distanciamento recente do presidente, que vê cair a popularidade (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

“Eu me dou ao direito, inclusive, de ficar neutro. Pelo que eu disse. Quem veio me ajudar aqui na minha campanha, na minha reeleição? Vocês tiveram notícia do Bolsonaro aqui ou do Lula? Por que sou obrigado a não cruzar os braços e dizer: ‘Vota em quem quiser, gente’. Por quê? Ninguém me ajudou, ninguém me empurrou”, afirma Kalil.



Tal estratégia, por paradoxal que pareça, também beneficia o principal adversário do prefeito de BH na disputa ao governo de Minas Gerais, o governador Romeu Zema (Novo). É uma zona de conforto interessante a Zema, aliado de primeira hora de Bolsonaro. O governador tem procurado intensificar o ritmo de afastamento político estratégico do Planalto, à medida em que o mandatário decai nas pesquisas de intenção de voto.

Mas, se Rodrigo Pacheco se filiar ao PSD, como esperado pelo meio político mineiro, a possibilidade da “neutralidade” dos dois principais candidatos em relação à disputa nacional, uma hipótese que nunca frequentou a pauta mineira, se desmancha no ar. O desgaste de Bolsonaro tende a empurrar para a disputa nacional a candidatura do PSD da terceira via. Haveria, nesse caso, um alinhamento natural entre as candidaturas de Kalil ao governo de Minas e de Pacheco, ao Planalto.

Entretanto, caso a terceira via nacional não se viabilize para Pacheco, e o PSD de Kassab articule com Lula um apoio formal ou “branco” em torno da manutenção da presidência do Senado Federal, nos dois cenários, Zema – que por sua trajetória não consegue flexibilizar o diálogo com Lula – seria empurrado para o colo de Bolsonaro. Trata-se de um espaço que o governador frequentou com naturalidade já em sua campanha ao comando de Minas, mas que o mineiro passou a evitar nos últimos meses.





Pronto para desembarcar do PSD, o senador Carlos Viana procura legenda para se candidatar em Minas, na esteira de Bolsonaro (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 5/2/21)

“O Novo é oposição a Jair Bolsonaro”, assinala o deputado estadual Guilherme Cunha, considerando que embora João Amoêdo tenha anunciado a desistência de ser pré-candidato do partido à Presidência, há ainda expectativa de reversão desse posicionamento. Contudo, em que pese o Novo ter se declarado, em 8 de março, oposição ao governo de Jair Bolsonaro, Zema resistiu em imprimir a sua marca a esse posicionamento, inclusive deixando de assinar em 26 daquele mês, carta crítica dirigida ao presidente da República, que teve o apoio de 25 governadores. Na ocasião, eles foram atacados por Bolsonaro porque adotaram medidas restritivas de enfrentamento à escalada da COVID-19 nos estados.

De lá para cá, o governador mineiro vem se distanciando da retórica negacionista, tomando as medidas necessárias, as mesmas que antes criticava ao ser implementadas pelo prefeito da capital, seu principal adversário político na disputa de 2022 ao Palácio Tiradentes.

Conversas 


Com o senador Carlos Viana, ainda no PSD e vice-líder do governo Bolsonaro no Senado Federal, está o gongo que poderá resgatar Zema do desconforto de se antecipar a um palanque bolsonarista em Minas. Viana está de malas prontas para deixar o PSD, à procura de uma legenda amiga em Minas Gerais, pela qual possa lançar-se ao Palácio Tiradentes. Seria ele a proporcionar o palanque a Bolsonaro no segundo maior colégio eleitoral do Brasil.





Embora tenha sido eleito com o apoio de Alexandre Kalil, Carlos Viana teria uma candidatura com potencial para, em alguma medida, tirar votos do prefeito na Região Metropolitana de BH. Mas, na medida em que carregará o estandarte do bolsonarismo, também tem potencial para carrear de Zema esse eleitor da extrema direita, que até aqui identificou nele o nome mais próximo ideologicamente de Jair Bolsonaro.

Sentado sobre números favoráveis da disputa nacional, que dão a Lula, nesse momento, vantagem sobre Bolsonaro na corrida que se desenha polarizada, o deputado federal Reginaldo Lopes (PT) poderá ser, a pedido de Lula, o pré- candidato da legenda ao governo de Minas. O PT sinaliza assim, a Kalil, potencial aliado, que não está à mercê dos interesses do PSD.

“Vamos dar início em julho a uma série de conversas no estado para a construção do movimento nacional da candidatura Lula em Minas. Vamos abrir interlocução com todos os partidos e lideranças que têm clareza do que está em jogo no Brasil. Se Kalil estiver entre eles, será um prazer debater questões fundamentais para o país”, afirma o parlamentar, que tem na lista de simpatizantes um conjunto de partidos – como o PSB – que já estão no espectro de interlocução de Kalil.




 

MDB, PSDB e Cidadania aguardam as alianças 

 
O prefeito de BH, Alexandre Kalil, articula sua candidatura com o apoio de 14 partidos, entre os quais, o PV do presidente da Assembleia Legislativa, Agostinho Patrus, que deverá estar na chapa majoritária como vice-governador ou como candidato ao Senado. O MDB, embora dividido entre o presidente Newton Cardoso Junior, zemista, e o tesoureiro Adalclever Lopes, articulador político de Kalil, tenderá a ficar com o prefeito. “O MDB vem com Kalil”, afirma Adalclever Lopes, que sonda frequentemente as bases da legenda. Romeu Zema divide-se entre uma chapa “puro sangue” – que poderá ter como vice Mateus Simões, ex-vereador e atual secretário geral do governo do estado, e para o Senado, algum dos empresários que dão sustentação ao seu governo – e a possibilidade de composição com o PSDB e o PP.

“Estamos aguardando a composição nacional para definir nosso rumo no estado”, afirma o presidente estadual do PSDB, o deputado federal Paulo Abi-Ackel. Tucanos estão na órbita de Zema, e, na Assembleia, têm a liderança do governo. “Se por acaso o PSDB tiver um candidato forte, ao centro, para presidente da República, que aglutine as forças em torno de um nome, suponho que será exigido de nós a formação de uma candidatura própria para sustentar a campanha nacional”, diz ele.

Atrás de candidatos do Centro em Brasília e em MG


O PSDB trabalha com nomes como Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, Tasso Jereissatti, senador pelo Ceará, e João Doria, governador de São Paulo. Dividido internamente, o tucanato mineiro não se alinha com João Doria. “Se no plano nacional, surgir um outro nome de centro de outro partido, que em Minas, eventualmente, exija a nossa convergência em apoio a uma candidatura, não teremos problema em apoiá-la”, afirma Abi-Ackel. “Mas entre Kalil e Zema, a tendência do PSDB é ficar com Zema”, sustenta.





Pelo momento, Rodrigo Pacheco está em compasso de espera. Evita falar sobre sucessão de 2022. O deputado estadual João Vítor Xavier, presidente do Cidadania e um dos políticos próximos a Pacheco no estado, quando questionado sobre a filiação do senador ao PSD, diz que “creio que há possibilidade de ir, por movimentações políticas que enxergamos, mas nunca ouvi da boca dele”. Segundo João Vítor, se a possibilidade de uma terceira via no plano nacional for encabeçada por Pacheco, o seu partido estará com ele. “Não estamos na base de Bolsonaro e, no plano nacional, a legenda trabalha para isso. Torço para que a terceira via se construa em torno de Rodrigo Pacheco”.
  




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