Jornal Estado de Minas

Corrupção

Alvo de investigações da PF, ministro Ricardo Salles sai de cena


Brasília –  Revogação de medidas que proibiam a exportação ilegal de madeira, exoneração de servidores do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que queriam evitar a flexibilização das regras de envio de produtos florestais ao exterior, nomeação de pessoas de confiança para estabelecer atos oficiais que facilitaram o contrabando e movimentações financeiras suspeitas de pelo menos R$ 1,7 milhão desde que participa do governo federal.



Essas são algumas das provas que Polícia Federal (PF) diz ter recolhido para a abertura de investigação contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusado pela corporação de integrar um esquema criminoso de tráfico de madeira.

Desde a revelação das informações, há quase duas semanas, o ministro pouco foi visto. Após uma entrevista à imprensa no dia da operação da PF que recolheu celulares, tablets e outros aparelhos eletrônicos de Salles para a busca por mais indícios da sua participação no esquema, quando classificou a ação policial como “exagerada e desnecessária” e garantiu não haver “substância em nenhuma das acusações”, ele sumiu das redes sociais.

Ricardo Salles também deixou de informar os compromissos diários da sua agenda oficial. Chegou, inclusive, a se ausentar de reunião do governo do Conselho da Amazônia Legal, que busca auxiliar as ações do Meio Ambiente para a preservação do bioma. Além disso, teve pouco ou quase nenhum apoio público do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seu maior defensor dentro do governo. A única manifestação do chefe do Executivo foi de que Salles é um “excepcional ministro” e de que ele luta contra os “xiitas ambientais” do Ministério Público.





Contudo, internamente, Bolsonaro tem sido aconselhado a afastar o ministro do cargo para preservar a sua gestão. A avaliação de pessoas próximas do presidente é de que ele balança no cargo a cada dia que passa, visto que a Polícia Federal já revelou ter “fortes indícios de uma série bastante complexa de condutas empreendidas” por Salles para favorecer o contrabando de madeira.

A apuração conduzida pelo delegado Franco Perazzoni, chefe da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros, afirma que Salles agiu em favor de empresas madeireiras com sede no Pará, na região amazônica. Elas teriam pedido a suspensão de uma instrução normativa do Ibama que entrou em vigor em 2011 para permitir a exportação de produtos e subprodutos madeireiros de origem nativa de florestas naturais ou plantadas apenas mediante autorização do instituto.

Para cancelar os efeitos desse ato, o ministro do Meio Ambiente e o presidente afastado do Ibama, Eduardo Bim, também investigado, desconsideram recomendações técnicas de servidores de carreira e, “em total descompasso com a legalidade”, anularam a instrução normativa. Com isso, legalizaram retroativamente milhares de cargas que haviam sido remetidas ao exterior sem a respectiva autorização. Segundo a PF, é “evidente que o interesse privado de alguns poucos empresários foi colocado à frente do interesse público”.





Transnacional 


“A situação que se apresenta é de grave esquema criminoso de caráter transnacional. Esta empreitada criminosa não apenas realiza o patrocínio do interesse privado de madeireiros e exportadores em prejuízo do interesse público mas, também, tem criado sérios obstáculos à ação fiscalizatória do Poder Público no trato das questões ambientais com inegáveis prejuízos a toda a sociedade”, afirma a Polícia Federal. A reportagem tentou contato com Salles e a defesa do ministro, mas não obteve retorno.

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