Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

CPI da COVID: Renan Calheiros cita holocausto: 'Semelhança tenebrosa'

O início da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID nesta terça-feira (25/5) foi quente com discussão entre os senadores. Isso porque o relator Renan Calheiros (MDB-AL), começou sua fala fazendo um resgate histórico do nazismo, o Tribunal de Nuremberg.





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Após a fala inicial da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como Capitã Cloroquina, foi a vez de Renan Calheiros dar início às perguntasna CPI da pandemia. No entanto, ele começou ressaltando o genocídio de judeus sob comando de Adolf Hitler na época do Holocausto.
 
 

“Nós estamos, aqui, participando de um colegiado com características jurídicas, mas também com natureza política e até policial. Nosso maior desafio nessa CPI, diria mesmo, nosso principal dever e nossa principal missão é fazer um julgamento justo, equilibrado e o mais técnico possível. Claro, ao fazermos isso, nossas conclusões terão uma consequência política inevitável. Mas, a política deve ser resultante e não motivação de nosso trabalho, seja qual for o nosso veredito final”, iniciou Renan Calheiros.

Em seguida, ele relembrou personagens do holocausto. “Faço questão de trazer à memória de todos, nesse momento, talvez o julgamento mais conhecido de todos os tempos - o Tribunal Nuremberg, é um dos julgamentos mais famosos da história. Foi ali que o mundo procurou encontrar respostas para um crime até hoje inconcebível, o genocídio de seis milhões de judeus nos campos de concentração do regime nazista”, disse.





 

“Eu quero lembrar um dos mais importantes personagens entre os réus de Nuremberg - Hermann Goering. Durante algum tempo, o número dois do Hitler. Leio abaixo, rapidamente, um trecho da Biblioteca Mundial sobre o comportamento de um dos mais altos oficiais nazistas durante o julgamento de Nuremberg. Lembrando que ele acabou se suicidando e não foi executado na cela, como estava previsto. Em várias ocasiões no decurso do julgamento, o acusado exibiu filmes dos campos de concentração nazista e de outras atrocidades. Todos os presentes acharam as imagens chocantes, incluindo Goering. Ele afirmou que os filmes deviam ser falsos, mas ninguém acreditou. Testemunhas como Paul Kerne e Hera Niuk tentaram descrever a personalidade de Goering como pacífica e moderada. Niuk referiu que era impossível opor-se a Hitler ou desobedecer às suas ordens e se fizesse seria executado alguém da sua família. Quando testemunhou a seu favor, Goering expressou a sua lealdade para com Hitler e insistiu que não sabia nada sobre o que tinha acontecido."

Renan Calheiros foi interrompido por senadores governistas, entre eles Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O senador Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo no Senado, ficou indignado com a comparação da ação no Senado com o genocídio que aconteceu na Alemanha. “Isso é uma coisa odienta. Não existe. Isso vai ficar registrado nos anais do Senado Federal. Qualquer paralelismo é um absurdo”, revoltou. “Respeite os judeus”, complementou Flávio Bolsonaro.

O presidente da CPI da COVID, senador Omar Aziz (PSD-AM), interrompeu a discussão para pedir que o relator fizesse perguntas. “Vou deixar muito claro que o que o senhor está lendo aí, não pode ser utilizado como referência nenhuma. O que eu pedi ao relator foi para ele começar as perguntas. Vossa excelência está falando uma das maiores atrocidades que houve na história”, disse.





Renan Calheiros respondeu: “Não vou ser censurado”, afirmou, pedindo ao presidente para garantir sua palavra na CPI da pandemia sem ser interrompido por colegas parlamentares. Em seguida, ele continua com a história.

Em resposta ao senadores que se manifestaram contra sua fala, ele afirmou: “Não podemos comparar uma barbárie como o holocausto com uma tragédia como a pandemia no Brasil, que já matou mais de 450 mil pessoas. Não podemos dizer, e por isso não há um pré-julgamento, que aqui houve um genocídio”, disse. 

O relator afirma que há uma semelhança entre as histórias: “Mas podemos dizer que há uma semelhança assustadora, uma semelhança terrível, uma semelhança tenebrosa, uma semelhança perturbadora no comportamento de algumas altas autoridades que testemunharam aqui na CPI e o relato que acabei de ler sobre um dos marechais do nazismo no Tribunal de Nuremberg negando tudo. Enaltecendo Hitler, apresentando como salvadores da pátria, enquanto a história provou que faziam parte de uma máquina da morte”, acrescentou.





Ele ainda ressaltou que é um alerta aos próximos depoentes da CPI. “Trago essa reflexão para a CPI no momento em que colhemos um depoimento muito importante e deixo registrado nos anais dessa comissão, inclusive como alerta para os futuros depoentes. Não importa o quanto possam tergiversar aqui, o julgamento da história é implacável”, concluiu a história para dar início às perguntas.

A depoente desta terça-feira (25/5) na CPI é a Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como Capitã Cloroquina. Defensora da cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada cientificamente contra o coronavírus, a servidora é a nona depoente na CPI da COVID e, assim como os demais, fala na condição de testemunha.

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A secretária do Ministério da Saúde é conhecida por defender o tratamento precoce contra a COVID-19 a partir do uso de cloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada contra o vírus. Mayra Pinheiro também chegou a propor o lançamento de um programa, chamado TrateCov, recomendando o uso da cloroquina no tratamento ao coronavírus.





Segundo o ex-ministro Eduardo Pazuello, o TrateCov só não teria sido lançado porque teria sido hackeado enquanto estava em fase de testes. Muito por conta dessa defesa ao medicamento considerado ineficaz contra a COVID-19, a secretária ganhou a alcunha de Capitã Cloroquina.

A convocação da Capitã Cloroquina para depor na CPI da pandemia atende a um pedido comum entre cinco senadores: Alessandro Vieira (Cidadania-RS), Humberto Costa (PT-PE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Rogério Carvalho (PT-SE) e Renan Calheiros (MDB-AL). Apesar de depor na condição de testemunha, Mayra Pinheiro terá direito ao silêncio durante a reunião, mas somente quando questionada em alguns pontos específicos.

A secretária recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ter o direito caso seja questionada sobre fatos ocorridos entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, período que coincide com a crise de falta de oxigênio nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de Manaus, capital amazonense. Segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), 3.536 pacientes morreram de COVID-19 em janeiro de 2021, contra 460 no mês anterior e 2.077 nos 30 dias seguintes.





A CPI da COVID, instalada no Senado em 27 de abril deste ano, apura possíveis ações e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia do coronavírus e repasses de verbas a estados e municípios. Os depoimentos tiveram início em 4 de maio, com Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde.

No dia seguinte, Nelson Teich, sucessor de Mandetta no cargo, depôs. No dia 6 de maio, foi a vez de Marcelo Queiroga, atual ministro da Saúde, prestar depoimento. Em 11 de maio, o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, depôs.

Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo federal, foi ouvidopelos senadores em 12 de maio, seguido de Carlos Murillo, ex-presidente da Pfizer no Brasil e atual presidente regional da empresa na América Latina. O boliviano prestou depoimento à CPI na quinta-feira (13/5) da semana retrasada.





Na última semana, a CPI deu início às oitivas com o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, na terça-feira (18/5) passada. Nos dois dias seguintes, depois de suspensão por conta de reunião em plenário e de um mal-estar sentido pelo depoente, Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, depôs.

Nesta quarta-feira (26/5), será realizada sessão exclusiva para votação de requerimentos, vários deles dizem respeito a novas convocações e reconvocações. Na quinta-feira (27/5), espera-se que alguma testemunha deponha à CPI.

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