Jornal Estado de Minas

Eleições no Congresso

Quem é quem na disputa pelo comando do Senado e da Câmara

A disputa pela presidência da Câmara, em eleções marcadas para esta segunda-feira (1º/02) pode estar polarizada entre Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP), mas isso não quer dizer que não existam outros postulantes à cadeira.



Sem respaldo dos próprios partidos, Fábio Ramalho (MDB-MG), André Janones (Avante-MG), Alexandre Frota (PSDB-SP) e General Peternelli (PSL-SP) fazem campanha independente.

Já Luíza Erundina (Psol-SP) foi lançada para marcar posição como legítima esquerda. Marcel van Hattem (RS) foi colocado pelo Novo para cumprir o mesmo papel, só que à direita. Haveria mais um nessa briga, o deputado Capitão Augusto (PL-SP), que se colocou de forma avulsa na disputa. Mas, nesse sábado (30/01), ele desistiu do projeto.

No Senado, se Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Simone Tebet (MDB-MS) atraem os holofotes, não quer dizer que estejam sozinhos na pista. Major Olímpio (PSL-SP) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO) têm pretensões ao comando da Casa e do Congresso, embora com remotas chances. Veja o perfil dos principais candidatos na eleição de amanhã nas duas casas. 

NA CÂMARA

Política nos bastidores


Arthur Lira (PP-AL)

A disputa pela presidência da Câmara atraiu muitas atenções para o nome do deputado Arthur Lira (PP-AL), um político discreto, que sempre atuou nos bastidores e é um dos mais poderosos do Congresso. Exímio articulador político, o parlamentar lidera o chamado Centrão, bloco partidário conhecido por negociar cargos e ministérios em troca de apoio a governos. No momento, o grupo está ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que tem atuado pessoalmente para emplacar Lira no comando da Câmara, na sucessão do adversário Rodrigo Maia (DEM-RJ).





Arthur Lira (foto: Câmara dos Deputados )
Lira é um dos expoentes da chamada “velha política”, que Bolsonaro ameaçou de extinção durante a campanha de 2018. À frente do Centrão, o parlamentar esteve ao lado, também, dos governos dos presidentes Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT). Advogado, pecuarista e empresário, Arthur Lira, de 51 anos, é filho do ex-senador Benedito de Lira, que se elegeu, em novembro, prefeito de Barra de São Miguel (AL). Com uma carreira política iniciada em 1993, Lira foi vereador em Maceió e deputado estadual por Alagoas. Na Câmara, está no terceiro mandato consecutivo de deputado federal.

Segundo parlamentares ouvidos pelo Estado de Minas, chama muito a atenção o profundo conhecimento que o parlamentar tem do Regimento Interno da Câmara, possivelmente fruto da formação em direito. Ele é conhecido, também, como um rigoroso cumpridor de acordos. Essa é uma das principais qualidades apontadas pelos colegas. Além disso, tem boa interlocução tanto com a ala governista quanto com a oposição. Na disputa pela presidência da Câmara, o deputado, além de suas habilidades políticas, conta com o apoio do Palácio do Planalto.

Durante a campanha, Lira deixou claro, em diferentes ocasiões, que não deve encaminhar, para a análise da Câmara, pedidos de impeachment protocolados contra Bolsonaro. O deputado também deve colocar em votação projetos defendidos pelo Planalto e que não avançaram na gestão de Rodrigo Maia, como “escola sem partido” e flexibilização do Estatuto do Desarmamento.





Complicações

Ao mesmo tempo em que goza de grande prestígio na Câmara, o parlamentar não recebe o mesmo tratamento no Poder Judiciário, onde é acusado de corrupção e outros crimes. Em novembro de 2020, por exemplo, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou um recurso de Lira e decidiu mantê-lo como réu em um processo por corrupção. Ele é acusado de ter recebido, em 2012, propina de R$ 106 mil do então presidente da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU) Francisco Colombo.

Segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Colombo queria que Lira articulasse apoio político no PP para mantê-lo no comando da CBTU. Conforme as acusações dos procuradores, o dinheiro foi recebido no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, pelo assessor parlamentar Jaymerson José Gomes, que, segundo apontaram as investigações, foi enviado à capital paulista por Lira. (JV)

Militante antigo

Baleia Rossi (MDB-SP)

Há 20 anos ocupando cargos no Legislativo, Luiz Felipe Baleia Tenuto Rossi chegou na política em 1992, quando se elegeu vereador pela cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo. Militante do antigo PMDB, atual MDB, Rossi teve como seu principal padrinho político o então deputado Ulysses Guimarães, símbolo do partido e presidente da Assembleia Constituinte.





Baleia Rossi (foto: Câmara dos Deputados )
Além do líder do MDB, Rossi também conseguiu espaço dentro do partido por causa da influência de seu pai, o ex-deputado Wagner Rossi. Na Câmara Municipal de Ribeirão Preto, Baleia Rossi ficou por três mandatos seguidos, e em 2002, se elegeu deputado estadual pelo estado de São Paulo, sendo reeleito em 2006 e 2010. Ainda durante o seu primeiro mandato de deputado estadual, em 2004, o político concorreu ao cargo de prefeito de Ribeiro Preto, mas acabou sendo derrotado no segundo turno.

Entre 2010 e 2011, final do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e começo da gestão de Dilma Rousseff, Baleia Rossi comandou o Ministério da Agricultura. No entanto, após denúncias de irregularidades na pasta, acabou pedindo demissão.

Três anos depois, Baleia Rossi voltou a Brasília em 2014, depois de se eleger deputado federal pela primeira vez. Na Câmara dos Deputados, assumiu a liderança do partido e trabalhou pelo processo de impeachment de Dilma Rousseff.





Em 2019, já no seu segundo mandato como deputado federal, Rossi se aproximou de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados. Após articulação do democrata, apresentou a primeira proposta de emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária, que ainda tramita no Congresso. Naquele mesmo ano se consagrou presidente nacional do MDB, após influência do ex-presidente Michel Temer dentro da sigla.

Agora, com apoio de Maia e dos partidos da oposição, Baleia Rossi chega na reta final da disputa pela presidência da Câmara com intuito de derrotar o candidato apoiado pelo governo de Jair Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL). Apesar de seu adversário apresentar certo favoritismo, o emedebista aposta que poderá vencer o deputado alagoano caso consiga levar a disputa para o segundo turno.

Complicações

Até o momento, o bloco partidário de sustentação da candidatura de Rossi envolve o MDB, DEM, PT, PSDB, PSB, PDT, Solidariedade, Cidadania, PCdoB, PV e Rede, cujas bancadas atuais totalizam 236 parlamentares. Com as investidas do Palácio do Planalto nas eleições na Câmara, Rossi foi alvo de intensas especulações nos últimos dias e teve que correr para desmentir a informação de que abriria mão de sua candidatura.





Outro ponto que exigiu explicação do candidato do bloco do presidente da Câmara foi o fato de o ex-presidente da Casa Eduardo Cunha citar em seu livro que Rossi foi um dos articuladores do processo contra a presidente Dilma Rousseff, o que o levou a assumir compromissos com os partidos de esquerda, que se sentiram pressionados a abandoná-lo por causa de sua ligação com o que consideram “golpe” dado pelo vice-presidente Michel Temer (MDB-SP) na petista.


Quem são os outros candidatos


Alexandre Frota
Ex-aliado de Jair Bolsonaro e candidato de primeira legislatura, o ex-ator Alexandre Frota foi o primeiro a lançar candidatura usando os pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonar, como plataforma. Também comprometeu-se a pautar o fim do foro privilegiado, a proposta de emenda à Constituição (PEC) da prisão após julgamento em segunda instância e as PECs da reforma administrativa e da tributária. Frota se posiciona em uma postura de claro embate a Bolsonaro e descreve sua candidatura como sendo “de protesto”.

Fábio Ramalho
O emedebista Fábio Ramalho (MG) está na quarta legislatura como deputado federal. Do mesmo partido de Baleia Rossi, aposta nas defecções e no discurso de igualdade entre os parlamentares, e o fim da classificação de parte da Câmara como “baixo clero”. Sem apoio do Executivo federal ou de governadores, Ramalho fez campanha no tête-a-tête, mas afirma que a estratégia é mais eficiente que as negociações por atacado. Afirma que, atualmente, os parlamentares se apresentam em um sistema desigual, onde “poucos mandam”.





Luiza Erundina
Com 86 anos, Erundina está no sexto mandato como deputada federal por São Paulo. Começou a carreira política no PT e, em 1988, foi eleita a primeira prefeita da cidade de São Paulo. Deixou o ninho petista em 1997 e filiou-se ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Em 2014, foi Coordenadora-Geral da coligação Unidos pelo Brasil, que lançou Marina Silva como candidata à Presidência da República. Chegou ao Psol em 2016, partido pelo qual concorreu como candidata a vice-prefeita na chapa de Guilherme Boulos a prefeitura de São Paulo.  A parlamentar é a única mulher entre os nove candidatos na disputa.

Marcel Van Hattem
Em seu primeiro mandato como deputado, Marcel Van Hattem participa da corrida eleitoral para a presidência da Câmara pela segunda vez. No primeiro pleito, em fevereiro de 2019, teve 23 votos, 15 a mais do que o total de deputados que compõem a bancada do Novo. No lançamento da candidatura, os parlamentares do partido afirmaram que a legenda não se identifica com os demais proponentes. Apresentaram, também, um manifesto com sugestões de reformas no regimento interno.

General Peternelli
O deputado General Peternelli integra um partido rachado entre o apoio dos favoritos, o líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), que tem a maioria dos deputados da legenda, e Baleia Rossi (MDB-SP), candidato sucessor de Rodrigo Maia, que possui, ao seu lado, as lideranças e a presidência da agremiação inimiga de Jair Bolsonaro. Como Vam Hattem (Novo-RS), o social-liberal se candidata pela segunda vez ao cargo de presidente da Câmara. Em 2019, porém, teve apenas dois votos. Peternelli propõe uma gestão com maior participação da população e dos deputados para definição da pauta.





André Janones
Outro novato e o segundo da bancada mineira a engrossar o coro dos candidatos à presidência da Câmara, André Janones está na primeira corrida eleitoral pela chefia da Casa. A principal plataforma eleitoral do parlamentar é afeita à esquerda. Janones prometeu que prorrogará o auxílio emergencial para informais como seu primeiro ato. Entre os avulsos que se apresentam como uma terceira via para fugir da polarização Arthur Lira-Baleia Rossi, o deputado disse marcar posição ao submeter seu nome ao pleito. “Essa é uma candidatura para marcar posição, que medirá o nível de descolamento do parlamento brasileiro com o povo do país. Medirá até quando essa casa continuará de costas para o interesse do povo brasileiro”, disse.


NO SENADO

Defensor da República

Rodrigo Pacheco (DEM-MG)

O senador de primeira viagem Rodrigo Pacheco (DEM-MG) tem fortes chances de se apresentar como o único sucessor eleito no Congresso. Pacheco, apadrinhado por Davi Alcolumbre (DEM-AP), goza do apoio tanto do presidente Jair Bolsonaro quanto do PT, e conseguiu atrair, inclusive, o MDB, principal partido adversário e maior bancada da Casa. Com isso, ganhou distância de outros pares na corrida, se firmando na dianteira.

Rodrigo Pacheco (foto: Agência Senado)
Petistas elogiam o discurso do atual líder do DEM sobre minorias e direitos humanos, por exemplo, enquanto Alcolumbre soube manejar, com antecipação, para que o colega de legenda se tornasse palatável ao presidente da República. No primeiro mandato como senador, Pacheco se apresenta como um pacificador, e apoia-se em temas como a vacina contra o coronavírus, as reformas econômicas e a geração de emprego como pautas capazes de unir o Senado. Avesso a falar sobre o impeachment de Bolsonaro, assunto que ganhou destaque devido à crise da vacina e o colapso do sistema de saúde de Manaus (AM), o senador destaca que o posto que ocupará, caso vença a eleição, não é ideológico.





A tônica que o candidato vem trabalhando na campanha é optar por uma agenda convergente para lidar com opositores e apoiadores. E, em relação aos grupos de extrema-direita que provocaram uma série de protestos antidemocráticos em 2020, alguns, inclusive, com a participação do chefe do Executivo, o candidato defende que se trata de um grupo minoritário. Para Pacheco, é preciso “defender a República”, e “não é possível agradar a todos”. O parlamentar diz que Bolsonaro tem consigo “erros e acertos”, conforme afirmou em entrevista ao Estado de Minas.

Antes de ir para o Senado, o mineiro foi deputado na legislatura 2014-2018, também pelo DEM, e presidiu a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. À frente do colegiado, que pela primeira vez era chefiada por um presidente em primeiro mandato na Casa, o então deputado aprovou 300 propostas em caráter conclusivo. Desse total, 154 projetos de lei foram remetidos ao Senado Federal e 19 foram encaminhados a sanção. À frente da comissão, teve que lidar, também, com temas espinhosos, como as duas denúncias contra então presidente da República Michel Temer.

O candidato à presidência do Senado também disputou, em 2016, a corrida eleitoral pela prefeitura de Belo Horizonte. O fato ganha destaque, pois, para se firmar como sucessor de Alcolumbre, o senador abriu mão de se candidatar ao governo do estado em 2022. A decisão fez parte da negociação para fechar acordo com o primeiro bloco de apoiadores, a bancada do PSD, segunda maior da Casa.




Candidata independente

Simone Tebet (MDB-MS)

Filha do ex-governador do Mato Grosso do Sul Ramez Tebet, Simone Tebet começou sua vida política em 2002, quando se elegeu deputada estadual, já pelo MDB, com pouco mais de 25 mil votos. Na metade do mandato, em 2004, concorreu à Prefeitura de Três Lagoas, sua cidade natal, e venceu.

Simone Tebet (foto: Agência Senado)
Reeleita em 2008, Tebet renunciou à Prefeitura de Três Lagoas no início de 2010 para ser candidata a vice-governadora na chapa de André Puccinelli (MDB). A dupla acabou eleita ao derrotar Zeca do PT no segundo turno. Nas eleições de 2014, Tebet decidiu lançar candidatura como senadora, quando se elegeu com mais de 640 mil votos.

Com o rompimento do MDB com o PT no governo federal, Tebet votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Com o seu correligionário Michel Temer no Palácio do Planalto, Tebet votou com o governo nas pautas da reforma trabalhista e na proposta de emenda à Constituição do Teto de Gastos. Mostrando lealdade partidária.





Favorável a Operação Lava-Jato, a parlamentar travou um embate com o seu colega de partido, o senador Renan Calheiros (AL), quando votou contra o projeto de Lei de Abuso e Autoridade. Em 2019, voltou a enfrentar Calheiros na disputa pela presidência do Senado. No entanto, abriu mão para apoiar Davi Alcolumbre (DEM-AP), que saiu vitorioso contra o senador alagoano. Naquele mesmo ano, a emedebista assumiu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), considerado o principal colegiado da Casa.

Agora, em 2021, o MDB acabou escolhendo Tebet para disputar novamente a cadeira da presidência do Senado. A senadora conseguiu a chancela do partido depois que demais nomes da sigla não conseguiram avançar nas negociações com outras bancadas. No entanto, já na reta final da campanha, a emedebista acabou sendo abandonada pelo próprio partido na disputa.

Nesta semana, o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), passou a negociar cargos na Mesa Diretora com o principal adversário de Tebet na disputa, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O senador mineiro conta com o apoio do atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre, e do governo Jair Bolsonaro. Com isso, Pacheco transformou em avulsa a candidatura da segunda favorita na corrida.

Mesmo assim, Simone Tebet resolveu manter sua candidatura de forma independente. Na última quinta-feira (28/1), a senadora afirmou que a “independência” da Casa está comprometida. De acordo ela, há um “jogo” para transformar o Senado em “apêndice” do Executivo.

Quem são os outros candidatos: Major Olímpio e Jorge Kajuru







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