Jornal Estado de Minas

COVID-19

Municípios rebatem governo de MG: 'Faltou remédio para intubação de COVID'

O balanço de gestão do ano de 2020 apresentado na manhã desta terça-feira (15/12) pelo governo de Minas elenca um fato notável: Minas teria sido o único estado da federação a não registrar falta de medicamentos do kit de entubação por COVID-19, como sedativos e neurobloqueadores. A afirmação foi feita pelo Secretário de Estado de Planejamento e Gestão Otto Levy. 





O Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems-MG), no entanto, contesta a informação. Segundo o presidente da entidade, Eduardo Luiz da Silva, houve desabastecimento das drogas em questão em diversas instituições de saúde ao longo da pandemia.  

"Eu vou falar um fato: o fato é que, em Minas Gerais, tivemos sim falta dos medicamentos do kit de intubação", afirmou o dirigente. 

Procurada pelo Estado de Minas, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) informou que atendeu todas as demandas apresentadas ao órgão. 

Silva explica que o Cosems realiza um monitoramento semanal do suprimento dos fármacos do kit nas instituições de saúde mineiras. Um dos registros do mês de agosto, período que ele classifica como mais crítico da virose, mostra que 13 das 14 macrorregiões do estado acusavam estoques zerados dos produtos. 

A situação mais preocupante na ocasião era a macrorregião Triângulo, que abrange 35 municípios, incluindo Uberaba e Uberlândia. O estoque de nove, entre 22 fármacos monitorados pelo Cosems, chegou a ficar zerado ou praticamente zerado nos hospitais da região. 





Tabela: Pontos vermelhos indicam macrorregiões em que houve falta de medicamentos para intubação. Registro é de agosto deste ano, auge da pandemia.
É o caso, por exemplo, do Cisatracúrio Besilato, bloqueador neuromuscular de administração endovenosa, e do rucurônio brometo, um relaxante muscular. O campeão de desabastecimento é o anestésico Propofol, que chegou a faltar em 6 macrorregiões simultaneamente. 

As drogas são utilizadas na chamada intubação orotraqueal, procedimento por meio do qual profissionais de saúde induzem a ventilação pulmonar em pacientes com capacidade respiratória comprometida pelo novo coronavírus.


Troca solidária

O presidente do Cosems diz que foi justamente a situação de desabastecimento que levou à criação de um sistema de troca solidária entre instituições de saúde públicas e privadas, uma das iniciativas que teriam evitado um colapso hospitalar em Minas. 





"Por uma articulação do Cosems, nós estruturamos uma troca solidária, que foi mediada pelo Ministério Público, na figura do CAO-Saúde (Centro de Apoio Operacional de Defesa da Saúde). Isso começou com o Hospital Santa Rosália de Teófilo Otoni e a Feluma (Fundação responsável pela gestão do Hospital Universitário Ciências Médicas de Minas Gerais), que é uma instituição particular", relata o gestor. 

"Aderimos também às atas de monitoramento de registro de preços do Ministério da Saúde. Foi então que começou essa articulação para não deixar faltar (remédios) para o paciente na beira do leito", completa Eduardo.

Ele afirma que a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) apoiou o programa, por meio dos comitês macrorregionais de enfrentamento à COVID-19. "Considero que a estratégia adotada pelo governo para prover os medicamentos foi assertiva. Houve investimento, o estado adquiriu medicamentos do kit de intubação para distribuição aos hospitais - e o investimento necessário. Mas dizer que não faltou medicamente, a gente não pode dizer", pondera Eduardo Luiz. 





De acordo com o dirigente, no momento, o suprimento de fármacos nos estoques dos hospitais mineiros é satisfatório e não há risco de desabastecimento. "Não temos, até este momento, nenhuma instituição com falta de itens do kit", tranquiliza o presidente.

Resposta da Seplag

Em nota enviada à reportagem, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) informou que, "como responsável pelo processo de compras", não registrou falta dos medicamentos e que houve atendimento  de todas as demandas apresentadas. 

A pasta ressaltou ainda que o governo participou ativamente da rede solidária instituída para garantir o fornecimento dos fármacos onde houvesse necessidade. 

"Foram várias ações, desde a permuta solidária ao financiamento de R$ 70 milhões aos hospitais no início da pandemia para aquisição de insumos, estruturação para o enfrentamento da pandemia e aquisição de medicamentos para assegurar um estoque regulador do Estado.", finalizou o texto. 

audima