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Estado de Minas ECONOMIA, PANDEMIA E NATUREZA

Especialistas comentam trechos polêmicos do discurso de Bolsonaro na ONU

Na abertura da Assembleia das Nações Unidas, presidente atacou Venezuela, enalteceu trabalho ante pandemia e minimizou queimadas


22/09/2020 18:50 - atualizado 22/09/2020 19:22

Por conta da pandemia, Bolsonaro participou remotamente da Assembleia da ONU.(foto: Marcos Corrêa/PR)
Por conta da pandemia, Bolsonaro participou remotamente da Assembleia da ONU. (foto: Marcos Corrêa/PR)
Já é tradição: o Brasil é o primeiro país a discursar nas edições anuais da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Desde o ano passado, contudo, uma outra “tradição” passou a ser tônica nas falas do país: as declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Nesta terça-feira, durante os trabalhos da conferência, Bolsonaro alegou que a maior parte das queimadas ocorridas na Amazônia acontecem em áreas já desmatadas, utilizadas por caboclos e índios. Depois, disse que os incêndios no Pantanal são consequência, sobretudo, das altas temperaturas e garantiu ter “tolerância zero” para crimes ambientais.

O Estado de Minas dissecou o discurso de Bolsonaro e ouviu especialistas de diversas áreas sobre os mais polêmicos pontos da declaração, exibida em vídeo por conta da pandemia do novo coronavírus. A COVID-19, aliás, gerou duas falas bastante criticadas por especialistas: ao comentar a postura do governo federal no combate à pandemia, o presidente assegurou, aos demais chefes de estado, que “hão faltaram, nos hospitais, os meios para atender aos pacientes”. Ele disse, ainda, que o auxílio de R$ 600 movimentou “aproximadamente 1000 dólares para 65 milhões de pessoas”.

E, como tem sido praxe durante a pandemia, Bolsonaro “cutucou” ações tomadas por presidentes e governadores. Houve nova menção à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que deu autonomia aos entes federados para conter a disseminação da virose. O presidente ainda fez um apelo para a luta contra o que chamou de “cristofobia”.

A Venezuela merece um capítulo à parte: além de acusar o país pelo derramamento de óleo que atingiu praias do Nordeste no ano passado, comentou sobre o papel brasileiro no acolhimento aos cidadãos que fogem do país vizinho por motivos políticos e humanitários. 


Confira os pontos analisados por especialistas:

1. Queimadas: 

  • Bolsonaro: “Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”. ”O nosso Pantanal, com área maior que muitos países europeus, assim como a Califórnia, sofre dos mesmos problemas. As grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição.”

  • Hiram Firmino, ambientalista: “É uma visão totalmente antiecológica. É uma coisa ridícula, o que ele está falando. O Pantanal está sendo destruído como um prato de mingau, e já perdeu 20% de suas beiradas. A devastação da Amazônia é a mesma coisa. Bolsonaro incentiva, inclusive, pecuária e garimpo predatórios”.

2. Auxílio emergencial: 

  • Bolsonaro: "Nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior: concedeu auxílio emergencial em parcelas que somam aproximadamente US$ 1 mil para 65 milhões de pessoas, o maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores do mundo."
  • Leandro Ferreira, mestre em políticas públicas e presidente da Rede Brasileira de Renda Básica: “Deu a impressão que chegaram US$ 1 mil às mãos das pessoas. Isso não é verdadeiro nem na conta mais generosa possível. Certamente (o auxílio) é um dos maiores programas de assistência por conta da quantidade de pessoas pobres no Brasil. Isso não é um número que deve nos orgulhar. Deveríamos ficar preocupados de a população brasileira, em situação normal, estar necessitada de um benefício como esse."

3. Combate ao coronavírus

  • Bolsonaro: "Não faltaram, nos hospitais, os meios para atender aos pacientes de COVID."
  • Unaí Tupinambás, médico infectologista: “Faltaram EPIs, kits de diagnóstico e, inclusive, chegou a faltar, em um momento crítico da pandemia, o relaxante muscular para entubar os pacientes. Houve risco de desabastecimento. Houve total despreparo do Ministério da Saúde no enfrentamento à pandemia. Os números estão aí para mostrar que não estamos enfrentando a pandemia de forma necessária.”

4. Decisão do STF

  • Bolsonaro: “Por decisão judicial, todas as medidas de isolamento e restrições de liberdade foram delegadas a cada um dos 27 governadores das unidades da Federação. Ao Presidente, coube o envio de recursos e meios a todo o país.”
  • Acacio Miranda, especialista em direito constitucional: “A competência de Bolsonaro, depois da decisão do STF, era de criar mecanismos complementares aos governos dos estados. Então, aqueles que não tivessem o SUS constituído, o governo federal deveria suprir essas carências, deveria encaminhar recursos — que na maioria dos casos não chegaram — e estabelecer uma política geral de combate à COVID-19.”

5. Óleo derramado no Nordeste

  • Bolsonaro: “Em 2019, o Brasil foi vítima de um criminoso derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando severos danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e turismo.”
  • Hiram Firmino, ambientalista: “Ou foi um acidente ou lançamento criminoso, que não conseguiu ser comprovado pois não há interesse do governo em descobrir isso. Há muitos tipos de acidentes pequenos lá (na Venezuela). O teor do óleo é igualzinho ao da Venezuela. Pode ter ligação, sim, mas não foi comprovado, pois não há vontade política.”

6. 'Cristofobia'

  • Bolsonaro: “Faço um apelo a toda a comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia.”

  • Rafaela Marques, mestre em Estudos Culturais: “Há, sem dúvida alguma, um preconceito direcionado aos evangélicos no Brasil. Mas esse preconceito não é, de maneira alguma, algo que venha tolhendo a participação política dos evangélicos, a participação na vida pública brasileira, a implementação e a expansão de valores e bens culturais próprios dos evangélicos.”

*Estagiária sob supervisão da editora Liliane Corrêa


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