Jornal Estado de Minas

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'Cala a boca': Bolsonaro repete fala de general da ditadura

Ao ser questionado por jornalistas, nesta terça-feira, sobre a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se descontrolou, chamou de “patifaria” uma reportagem da Folha de S. Paulo que atribuía a substituição ao presidente e, por duas vezes, mandou os profissionais de imprensa “calarem a boca”. Uma cena semelhante foi vista em 1983, durante a ditadura militar, quando o general Newton Cruz classificou como “falsidades” as matérias que detalhavam o estado de emergência decretado pelo governo brasileiro à época. Visivelmente alterado, o militar ordenou que um repórter calasse a boca, deu um empurrão no jornalista e exigiu um pedido de desculpas.




Irritado, Newton Cruz negava que o estado de sítio fosse um retrocesso. A medida foi declarada pelo presidente João Figueiredo pouco antes da votação da Emenda Dante de Oliveira, que visava retomar o processo de eleição direta ao Palácio do Planalto. As imagens estão presentes no documentário Céu Aberto, do cineasta João Batista de Andrade.

Quando o jornalista Honório Dantas, da Rádio Planalto, indaga sobre o estado de emergência, o general responde de modo furtivo, dizendo que o profissional não sofreu nenhum tipo de agressão enquanto vigorava a situação de exceção. Dantas, então, tenta fazer um novo questionamento, mas Cruz se altera.

Ao pedir para continuar respondendo, Newton Cruz recebe o consentimento de Dantas. “Então cale a boca”, diz, de modo grosseiro, o general. Em protesto, o jornalista desliga o microfone. “Desliga essa droga, então”, continua, furiosamente, o militar, dando um empurrão no repórter.


“Como repórter da Rádio Planalto, me sinto honrado em levar um empurrão do general”, comenta o profissional, enquanto deixa o local da entrevista. A partir, daí, outros militares vão ao encontro de Dantas, que é obrigado se dirigir ao general e pedir desculpas pelo ato.

‘Patifaria’

Nessa segunda-feira, o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza, mexeu no comando da corporação no Rio de Janeiro. Bolsonaro, no entanto, negou ter pedido a troca e, mais uma vez, voltou a disparar contra a Folha.

"É uma manchete canalha e mentirosa e vocês da mídia, tenham vergonha cara. A grande parte publica patifaria”, acusou.

Repórteres d’O Estado de S. Paulo seguiram questionando o presidente sobre uma possível interferência do chefe do Executivo no comando da Polícia Federal no Rio. "Cala a boca, não perguntei nada", gritou, em resposta.

Segundo o presidente, Carlos Henrique Oliveira, ex-superintendente, passará a ocupar a diretoria-executiva da Polícia Federal. "O atual superintendente do Rio de Janeiro, que o Moro disse que eu quero trocar por questões familiares... Não tem nenhum parente meu investigado pela PF, nem eu, nem meus filhos. Zero. É uma mentira que a imprensa replica o tempo todo, dizer que meus filhos querem trocar o superintendente", alegou.