Jornal Estado de Minas

POLÍTICA

Bolsonaro estimula apoiador a hostilizar imprensa durante coletiva na saída do Palácio da Alvorada

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estimulou apoiadores a hostilizarem jornalistas que o entrevistavam durante coletiva na saída do Palácio da Alvorada na manhã desta terça-feira (31). 



Bolsonaro foi questionado sobre o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que defende medidas contrárias às do presidente como o isolamento no combate ao coronavírus. Ele então aproveitou para citar a entrevista concedida ontem (30) pelo diretor-presidente da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Ghebreyesus, e afirmou que o órgão está em alinhamento com o governo.

“Eu não sei o que ele falou . Eu parto do princípio de que eu tenho que ver porque acreditar no que está escrito não. Ninguém se esqueça que o presidente sou eu. Não se esqueça que eu sou o presidente. Vamos seguir a orientação da OMS. O que que o diretor presidente da OMS falou? Que este povo humilde fica o dia todo na rua para levar um prato de comida a noite em casa e ele falou isso porque ele é africano e sabe o que é passar dificuldade. A fome mata mais do que o vírus. Eu não estou desrespeitando ninguém”, apontou.

Após a fala do presidente, um dos apoiadores presentes na claque de Bolsonaro começou a gritar e atacar a imprensa, dizendo que a mídia “fica o tempo todo jogando os ministros contra o presidente. O presidente contra os ministros”. Outros gritaram: “Criam picuinha que não existe, vocês ficam criando coisa que não existe. Jogando Mandetta contra o governo”. 



Bolsonaro então validou a fala do apoiador, permitindo que ele continuasse e mandando a imprensa ficar calada. “Pode falar. É ele que vai falar, não é vocês não", disse o chefe do Executivo. 

Em meio ao desrespeito e xingamentos, os jornalistas se afastaram do local da entrevista, ficando ao fundo. "Mas vão embora? Vão abandonar o povo, pô? A imprensa que não gosta do povo", disse Bolsonaro, ironizando. 

OMS

Bolsonaro citou a entrevista concedida ontem (30) pelo diretor-presidente da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Ghebreyesus. “Vocês viram o que o diretor presidente da OMS falou? Que tal eu ocupar a rede nacional de rádio e tevê para falar sobre isso. É uma boa ou não?”

E emendou: “O que ele disse praticamente, em especial, os informais, têm que trabalhar. O que acontece, nós temos dois problemas:o vírus e o desemprego que não podem ser dissociados. Temos que atacar juntos. Quando comecei a falar isso, entraram até com um processo no Tribunal Penal Internacional contra mim me chamando até de genocida. Eu sou um genocida porque defendendo o direito de você levar um prato de comida para casa. Ele estava um pouco constrangido parece mas falou a verdade, a gente conhece ele com maior profundidade do passado, mas achei excepcional a palavras dele e meus parabéns: OMS se associa ao presidente Bolsonaro”, afirmou.



O chefe do Executivo disse ainda que quem tem abaixo de 40 anos, segundo dizem os médicos, a chance de óbito é ‘quase zero então não tem porque não deixar esse pessoal aí trabalhar. Afinal de conta se o vírus mata para alguns casos, a fome também mata’. 

No entanto, em sua fala, Ghebreyesus afirmou que é preciso levar em conta as necessidades dos trabalhadores, mas voltou a reforçar sobre a importância do isolamento social. 

"Cada indivíduo é importante, cada indivíduo é afetado pelas nossas ações. Qualquer país pode ter trabalhadores que precisam trabalhar para ter o pão de cada dia. Isso precisa ser levado em conta.". Em outro trecho, ele ressaltou:

"É vital respeitar a dignidade do próximo. É vital que os governos se mantenham informados e apoiem o isolamento.", concluiu.