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Estado de Minas

MPF denuncia jornalista por envolvimento com hackers

Ministério Público acusa Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, de orientar grupo que vazou mensagens da Lava-Jato, mas provoca reação do STF e do Congresso


postado em 22/01/2020 04:00 / atualizado em 22/01/2020 07:30

''É um ataque contra a imprensa livre, obviamente, mas também contra a PF e o STF, que disse que eu não posso ser investigado, muito menos denunciado pela minha reportagem'' - Glenn Greewald, editor do site The Intercept(foto: VINICIUS LOURES/CÂMARA DOS DEPUTADOS)
''É um ataque contra a imprensa livre, obviamente, mas também contra a PF e o STF, que disse que eu não posso ser investigado, muito menos denunciado pela minha reportagem'' - Glenn Greewald, editor do site The Intercept (foto: VINICIUS LOURES/CÂMARA DOS DEPUTADOS)

Brasília – O Ministério Público Federal (MPF) apresentou denúncia contra o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, por suposta ligação com hackers que invadiram o celulares de diversas autoridades, entre elas o ministro da Justiça, Sergio Moro. Além do profissional de imprensa, outras seis pessoas foram denunciadas na Operação Spoofing, da Polícia Federal, que investiga o caso. Glenn foi denunciado mesmo sem ser investigado. Ele também não foi indiciado pela PF no inquérito enviado ao Ministério Público. O MPF, no entanto, alega que "ficou comprovado que ele auxiliou, incentivou e orientou o grupo durante o período das invasões".

O Ministério Público também denunciou o grupo que já vinha sendo investigado no caso: Walter Delgatti Netto, Thiago Eliezer Martins Santos, Danilo Cristiano Marques, Gustavo Henrique Elias Santos, Luiz Henrique Molição e Suelen Oliveira. A apresentação da denúncia não significa que as pessoas apontadas pelo MPF sejam culpadas. A Justiça ainda tem que analisar a denúncia e, se entender que há indícios de crimes cometidos, determina abertura do processo. Só então os investigados viram réus e, ao final do processo judicial, são absolvidos ou condenados.

Gleen e outros jornalistas são autores de reportagens que lançam suspeitas sobre a conduta de Sergio Moro e de procuradores da Operação Lava-Jato, entre eles o chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, durante os casos investigados pela operação. As reportagens colocam em xeque a imparcialidade de Moro e de integrantes do Ministério Público durante a condução de processos, como o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, também teve suas mensagens divulgadas (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A. PRESS)
O procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, também teve suas mensagens divulgadas (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A. PRESS)

A denúncia é assinada pelo procurador da República Wellington Divino de Oliveira, o mesmo que apresentou denúncia contra o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, por críticas que ele fez a Sérgio Moro. A denúncia contra Santa Cruz foi rejeitada pela Justiça posteriormente. Wellington alega que "a organização criminosa" responsável pela invasão dos celulares "executava crimes cibernéticos por meio de três frentes: fraudes bancárias, invasão de dispositivos informáticos (como, por exemplo, celulares) e lavagem de dinheiro".

Liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), proibiu que Gleen fosse investigado, em decorrência do sigilo da fonte jornalistíca, previsto no artigo 220 da Constituição Federal. No entanto, de acordo com o MPF, em um MacBook apreendido – com autorização da Justiça – na casa de Walter Delgatti foi encontrado um áudio de um diálogo entre Luiz Molição e Glenn.

"A conversa foi realizada logo após a divulgação, pela imprensa, da invasão sofrida pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Nesse momento, Molição deixa claro que as invasões e o monitoramento das comunicações telefônicas ainda eram realizadas e pede orientações ao jornalista sobre a possibilidade de 'baixar' o conteúdo de contas do Telegram de outras pessoas antes da publicação das matérias pelo site The Intercept", afirma o procurador.

"Greenwald, então, indica que o grupo criminoso deve apagar as mensagens que já foram repassadas para o jornalista de forma a não ligá-lo ao material ilícito, caracterizando clara conduta de participação auxiliar no delito, buscando subverter a ideia de proteção à fonte jornalística em uma imunidade para orientação de criminosos", descreveu o MPF.

Glenn Greenwald publicou vídeo em sua conta no Twitter no qual comenta a denúncia contra ele. Diz que a denúncia é uma resposta do governo Jair Bolsonaro (sem partido) contra ele, que coordenou as reportagens da série "Vaza Jato", do site The Intercept, além de configurar também ataques à liberdade de imprensa, à Polícia Federal (PF) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).

"A própria PF, sob o comando do ministro Sergio Moro, ministro da Justiça, fez uma investigação completa e concluiu com clareza que eu não cometi nenhum crime, muito pelo contrário. Sempre fiz meu trabalho como jornalista com muita cautela, responsabilidade e profissionalismo", argumentou o jornalista, acusado pelo procurador Wellington Divino Marques de Oliveira de ser "orientador de criminosos".

No vídeo, Greenwald também cita a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) da qual foi beneficiário, que proíbe autoridades de investigarem o jornalista."É um ataque contra a imprensa livre, obviamente, mas também contra PF e o STF, que disse que eu não posso ser investigado, muito menos denunciado pela minha reportagem. ... Isso é obviamente uma retaliação do governo Bolsonaro", defendeu-se.

O advogado Rafael Borges, que defende Glenn Greenwald, classificou de "expediente tosco" a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF). "Recebemos com perplexidade a informação de que há uma denúncia contra o jornalista Glenn Greenwald. Trata-se de expediente tosco que visa desrespeitar a autoridade da medida cautelar concedida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 601, do Supremo Tribunal Federal, para além de ferir a liberdade de imprensa e servir como instrumento de disputa política", diz a nota. A defesa do jornalista interpreta a denúncia do MPF como uma tentativa de "depreciar o trabalho jornalístico" feito pela equipe do site The Intercept Brasil. 
 





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