Jornal Estado de Minas

Eduardo Bolsonaro faz convite para evento sem autorização

Cartaz informa data, hora e local de exibição do longa-metragem 1964: o Brasil entre armas e livros - Foto: Reprodução/WhatsAppUm convite que circula no WhatsApp tem provocado polêmica nas mídias sociais e gerado críticas por parte de parlamentares da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). O material mostra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), convidando a população a assistir ao filme 1964: o Brasil entre armas e livros, na Vila Planalto, bairro localizado entre os palácios do Planalto, da Alvorada e do Jaburu.

 

Durante a gravação, o deputado diz que a produção audiovisual "conta a história do Brasil" e "desagrada seu professor de história, que tenta te enviesar ideologicamente para que você acredite apenas no que ele diz". Em grupos de WhatsApp circulam, ainda, um texto com informações sobre o evento e uma imagem com o cartaz do filme. 

 

 

Nota de repúdio assinada pelos deputados distritais Fábio Felix (PSol) e Leandro Grass (Rede) - Foto: ReproduçãoNa foto, a exibição está marcada para esta quinta-feira (7/11), às 19h, na área atrás da Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompéia. No rodapé, há uma logo com o nome de Eduardo Bolsonaro e, na mensagem de texto, os espectadores são incentivados a levar cadeiras para assistir ao longa-metragem. O comunicado também fala de um projeto intitulado Cine Brasil, cujo objetivo é propagar, em praças públicas, a "verdade sobre os acontecimentos mais importantes" do país.

Apesar do agendamento, o Correio Braziliense apurou que o evento não tem autorização para ser realizado. No DF, conforme estabelece a Lei Distrital nº 5.281/2013, atividades de caráter eventual — sejam elas públicas ou privadas e que produzam reflexos no sistema viário ou na segurança pública — precisam de autorização das administrações das respectivas regiões administrativas, com requerimento apresentado até 30 dias antes. Por meio de nota, a Administração Regional do Plano Piloto informou que "não há, no dia 7 de novembro, evento com licença para ocupação de área pública no local mencionado".
 

Indignação

 
Nota de repúdio publicada pela deputada distrital Arlete Sampaio (PT) - Foto: ReproduçãoA ideia também não agradou a grupos de moradores da Vila Planalto. Para a jornalista e escritora Leiliane Rebouças, 44 anos, a exibição do filme representa um "desrespeito à história da população da Vila Planalto".
"Somos vizinhos dos três palácios e somos testemunhas oculares de vários momentos da história do país. Não vejo de forma boa o filho do presidente da República trazer, para um local que sofreu com a ditadura no Brasil, um filme que deturpa a história", criticou.

Leiliane acrescenta que a ideia entre os que se indignaram não é impedir a exibição, mas repudiar a iniciativa. "Como alguém eleito democraticamente fala, em uma semana, sobre a implantação de um ato institucional inconstitucional e começa a querer apresentar filmes que mostram esse regime autoritário como algo bom? Nenhum regime autoritário é bom", completou a jornalista.

Uma professora e moradora da Vila Planalto que preferiu não se identificar afirmou que a comunidade da região não entendeu o motivo da escolha do local, principalmente por se tratar de um deputado eleito pelo estado de São Paulo. "Não queremos censura de forma alguma. Sabemos que o espaço é público. Mas não houve nenhum tipo de acordo e fomos surpreendidos com esse evento. Além de desrespeitar as regras administrativas, ele tem um viés político muito estabelecido", comentou. 

Notas de repúdio

 
- Foto: Os deputados distritais Fábio Felix (PSol), Leandro Grass (Rede) e Arlete Sampaio (PT) emitiram notas de repúdio à ideia.
Nos documentos, eles criticam o fato de agentes públicos e grupos políticos terem a intenção de "reescrever a história do Brasil". 

"É inadmissível que qualquer pessoa defenda o Golpe Militar de 1964. Tratando-se de um deputado federal, eleito pelo povo, que tomou posse jurando defender a Constituição Federal, além de filho do presidente da República, é ainda mais grave", afirma o texto assinado por Arlete Sampaio.

Integrantes da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da CLDF, Fábio Felix, que preside o comitê, e Leandro Grass consideraram o convite uma "afronta à democracia".
 
"Nós, deputados distritais, repudiamos qualquer ato que reafirme ou defenda a ditadura no Brasil. Enquanto defensores da Constituição Federal, os parlamentares, sejam distritais, estaduais ou federais, devem prezar pela democracia. Qualquer atitude diferente desta deve ser repudiada", ressaltaram. 

A assessoria do deputado Eduardo Bolsonaro afirmou que dará um retorno sobre o caso nesta quinta-feira (7/11).
 

Assista ao trailer do filme:  

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