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Estado de Minas

Na chegada ao Oriente, desdém à própria legenda

Na reta final da viagem ao exterior, Bolsonaro diz que pode ser um 'presidente sem partido'. Nos Emirados Árabes, Brasil fechou acordos na área da Defesa e produção de armamentos


postado em 27/10/2019 04:00

''Tudo pode acontecer. Nunca fui afeito à política, acredite se quiser. Posso ser um presidente sem partido. As votações na Câmara e no Senado estão sendo feitas por ideal. No PSL, dos 50 e poucos (deputados) lá, tem uns 30 que estão fechadinhos conosco'' - Jair Bolsonaro, presidente da República, que desembarcou ontem em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes (foto: Clauber Cleber Caetano/PR)
''Tudo pode acontecer. Nunca fui afeito à política, acredite se quiser. Posso ser um presidente sem partido. As votações na Câmara e no Senado estão sendo feitas por ideal. No PSL, dos 50 e poucos (deputados) lá, tem uns 30 que estão fechadinhos conosco'' - Jair Bolsonaro, presidente da República, que desembarcou ontem em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes (foto: Clauber Cleber Caetano/PR)

Brasília – O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou ontem pela manhã (horário local de Pequim) que pode ser um "presidente sem partido". O discurso ocorreu pouco antes do desembarque do voo da China para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. “Tudo pode acontecer. Nunca fui afeito à política, acredite se quiser. Posso ser um presidente sem partido. As votações na Câmara e no Senado estão sendo feitas por ideal. Senador, deputado, prefeito e governador podem ficar sem partido que não têm problema de perder mandato. Tanto faz eu estar sem partido ou com partido. No PSL, dos 50 e poucos (deputados) lá, tem uns 30 que estão fechadinhos conosco. Os outros 20, tem uma meia dúzia que foi para o radicalismo, e os demais votam conosco, não tem problema", completou, dizendo que não se preocupa com o racha na sigla pesselista.

O presidente disse ainda que pretende trabalhar para “eleger” ao menos 40 candidatos nas eleições municipais de 2020. “Pretendo ter 30 a 40 candidatos pelo Brasil, mas tenho que ter decisão sobre o partido. Não posso entrar e, quando chegar na convenção, eles me deixarem para trás porque têm maioria”, avaliou. O presidente ainda emendou: “E eles sabem que quem quer ser candidato a prefeito no ano que vem é melhor tirar uma foto comigo e não com outra pessoa”, concluiu.

Na reta final da visita de Bolsonaro à Ásia, o Oriente Médio é a última escala dele antes de voltar ao Brasil. O presidente visitará três países do Golfo Pérsico: Emirados Árabes Unidos, Catar e Arábia Saudita. O principal objetivo econômico do chefe do Palácio do Planalto será apresentar oportunidades para tentar atrair investimentos aos projetos de concessões e privatizações no âmbito do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI).

Segundo o Poder Executivo, hoje a carteira do programa conta com 118 projetos e está avaliada em R$ 1,3 trilhão em investimentos. Os países árabes são importantes para incrementar mais recursos, na avaliação do governo, pois o Brasil explora uma parcela mínima do valor dos fundos soberanos de cada um: dos cerca de US$ 2,15 trilhões de ativos que as três nações têm juntas, menos de US$ 15 bilhões são injetados aqui.

“Queremos levar ao conhecimento desses países as reformas macro e microeconômicas em curso no Brasil, que podem fazer com que a gente entre em uma fase de crescimento econômico sustentado. Existe um potencial frente à nossa carteira dos PPIs, razão pela qual muitos ministros acompanharão o presidente para conversar nos corredores com empresários e autoridades, e dar detalhes sobre o que está sendo levado a cabo no Brasil. Será um grande esforço de atração de investimentos”, detalha o secretário de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, Europa e África do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Kenneth Nóbrega.

Armamento


Ontem, em Abu Dhabi, o Brasil e os Emirados Árabes fecharam dois memorandos de entendimento na área da Defesa. Um deles trata da formação de um fundo de cooperação para a expansão da capacidade produtiva do setor e o outro de uma parceria estratégica relacionada ao desenvolvimento, produção e comercialização de armamentos.

A tendência é de que Bolsonaro também assine uma série de memorandos de entendimentos — acordo firmado entre duas ou mais partes para alinhar os termos e detalhes de um entendimento. Será a oportunidade para o Brasil intensificar as relações bilaterais com os países do Golfo Pérsico, visto que, atualmente, os três contribuem pouco para as exportações nacionais: apenas 2,13%, nos números do Ministério da Economia (veja Arte). De qualquer forma, eles aparecem como os principais compradores de proteína animal brasileira — o Brasil é o maior exportador mundial de carne halal, consumida principalmente por muçulmanos.

Na pauta, existem acordos voltados à agropecuária, aviação civil, transporte marítimo, biodiversidade, produção alimentar, cooperação esportiva, cooperação em defesa, cooperação em ciência, tecnologia e inovação, dentre outros. “São alguns atos que queremos firmar dentro da perspectiva de expansão dos negócios, começando com os Emirados Árabes Unidos, onde estamos mais avançados. Fechamos acordo de cooperação e facilitação de investimentos, e estamos fazendo força para que as revisões jurídicas fiquem prontas para o presidente assinar”, comenta Nóbrega.

“Mas o que consideramos como mais importante e com alta probabilidade de assinatura é o memorando de entendimento entre os Ministérios da Defesa para um fundo de cooperação estratégica. Há uma boa perspectiva para exportarmos produtos de defesa”, acrescenta o embaixador.

Tensão política


A aproximação, no entanto, depende de fatores políticos. Depois de ter sugerido a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, uma de suas promessas de campanha, Bolsonaro criou um constrangimento junto à comunidade árabe. Isso porque Jerusalém é uma cidade alvo de disputas religiosas entre israelenses e palestinos. Posteriormente, o presidente mudou de ideia e anunciou que será feito apenas um escritório comercial na Terra Santa – voltado à promoção de negócios, ciência, tecnologia e informação –, que deve iniciar as operações até o fim do ano.

"As notícias que foram veiculadas na época nos causaram grande preocupação. Por isso, organizamos missões a Israel, para conversar 'cara a cara' e explicar. Isso fez baixar um pouco a poeira e o resultado foram os convites para o presidente Bolsonaro visitar os países do Golfo", comenta Nóbrega, acrescentado que, em 2020, devem ser feitas mais excursões ao Oriente Médio. “Já existem conversas para irmos ao Kuwait e a outro grande país das arábias."

Ainda assim, serão necessários mais gestos para contornar a afronta que ele fez à reputação do mundo árabe. Não à toa, Bolsonaro terá compromissos importantes com chefes de Estado e outros representantes políticos. Na lista, estão encontros com o príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed Bin Zayed Al Nahya; o primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, xeque Mohamed bin Hashed Al Maktoum; com o emir do Catar, Tamim bin Hamad Al-Thanii; o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman; e o rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdel Aziz.

Resgate da imagem


Para o coordenador geral do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (Gacint-USP), Alberto Pfeifer, de modo geral, Bolsonaro visa exatamente estreitar laços e pontes de diálogo, melhorando, assim, a imagem sobre seu perfil político. “Não viajar significa não aprofundar parcerias e contatos. Dada a percepção externa sobre Bolsonaro,  principalmente nas democracias ocidentais quanto ao perfil dele, as viagens também visam eliminar essa percepção. O Brasil tem relação frutífera e amistosa com esses países. Se houve alguma frase não muito feliz em que o presidente possa ter dito algo que foi malvisto, isso tem a chance de ser corrigido agora, além de também estabelecer programas de trabalho”, observa.

Amenizar a relação pode abrir caminho para que o Brasil conquiste mais investimentos. "Esses países procuram investir em atividades rentáveis e buscam fluxo contínuo e estável. O Brasil está à beira de exposição de carteiras de infraestrutura. Eles se interessam, por exemplo,  em concessões de serviços públicos como energia, ferrovias, portos e aeroportos, projetos que têm rendimento constante com retorno e baixo risco. O Brasil é um grande mercado para isso. Comparado com outros países em desenvolvimento é um dos melhores para esse tipo de investimento e de maior economia, adicionado de baixa inflação", frisa Pfeifer.

Em setembro, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, já havia apresentado aos árabes obras de ferrovias prioritárias no Brasil, que ligam produtores a portos de exportação, o que seria uma renda fixa de investimento.


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