Jornal Estado de Minas

GOVERNO

Longe da crise, perto de parceiros de peso

 
Brasília – Em meio à grave crise em seu partido, o PSL, do qual avalia se desfiliar, o presidente Jair Bolsonaro iniciou viagem de 12 dias para reforçar laços comerciais com parceiros de peso do país no Oriente Médio e na Ásia. Ele terá compromissos no Japão, na China, nos Emirados Árabes Unidos, no Catar e na Arábia Saudita até o dia 30. Segundo integrantes do governo, o presidente quer sinalizar para o mundo que o Brasil está comprometido com a abertura econômica, o ambiente de negócios e o programa de reformas. Bolsonaro viaja acompanhado pelos ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; da Casa Civil, Onyx Lorenzoni; da Agricultura, Tereza Cristina; da Cidadania, Osmar Terra; de Minas e Energia, Bento Albuquerque; e o do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno. Além dos ministros, acompanham o presidente o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e os deputados federais David Soares (DEM-SP), Fausto Pinato (PP-SP), Hélio Lopes (PSL-RJ) e Marco Feliciano (Pode/SP).
 
Na manhã de ontem, Bolsonaro reuniu a família no Palácio da Alvorada para comemorar o aniversário de 9 anos da filha, Laura. Além da família, compareceram apenas crianças amigas da menina. No Facebook, ele postou a seguinte mensagem com um vídeo da comemoração: “Foi ontem (sexta-feira), mas comemoramos hoje o 9º aniversário da Laura. Logo mais decolo para o Japão.
Um abraço a todos.”
 
Bolsonaro saiu da Base Aérea de Brasília às 22h. Depois de escalas em Lisboa (Portugal) e Nursultan (Cazaquistão), ele chegará a Tóquio às 13h de amanhã (horário local). A programação do presidente brasileiro inclui o evento de entronização do imperador Naruhito, na terça-feira. Na quarta-feira, Bolsonaro participará de banquete oferecido a todos os presidentes pelo primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. No mesmo dia, haverá reunião de Bolsonaro com os membros do grupo de notáveis, formado pelos dirigentes das principais empresas do Japão (Mitsui, Toyota, Honda e Mitsubishi, entre outras).
 
A viagem é importante pelo poder econômico das regiões vi- sitadas. Bolsonaro busca reafirmar laços comerciais e ampliar parcerias. O chefe do Executivo tem demonstrado entusiasmo com a turnê ao exterior.
“A expectativa é a melhor possível. Vários contatos foram feitos. Muitos acordos serão assinados. Há interesse da parte deles, não é nossa apenas. O Brasil está aberto para o mundo, não temos mais o viés ideológico para fazer negócios. E a gente espera que seja uma viagem proveitosa”, disse o presidente, recentemente, em frente ao Palácio da Alvorada.
 
Não há, entretanto, grandes expectativas de que novos acordos comerciais sejam firmados no momento. Fontes próximas a empresários que participam de alguns trechos da viagem consideram que as incertezas no mercado externo devem dificultar avanços nos negócios. A expectativa é de que os encontros internacionais sirvam para aproximar culturas e economias.
Para isso, acreditam as fontes, o presidente terá de agir com muita diplomacia e traquejo, uma vez que visitará países culturalmente muito diferentes do Brasil

PIB ALTO
 
Quando desembarcar em Tóquio, na segunda-feira, Bolsonaro e a comitiva vão cumprir uma série de compromissos oficiais do roteiro presidencial que termina na Arábia Saudita, passando por China, Emirados Árabes e Catar, sede da Copa do Mundo de futebol em 2020. Os cinco países do roteiro presidencial, juntos, têm Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 19,6 bilhões, a valores de 2018, sendo que a China responde por US$ 13,4 bilhões. Por causa disso, a Ásia está com destaque no cronograma.
 
Mas, no entender de analistas, Bolsonaro precisará dar atenção especial também aos países árabes. Precisará aparar arestas e melhorar as relações, depois da saia justa diplomática com o anúncio da mudança da embaixada brasileira em Israel de Telavive para Jerusalém, cidade alvo de disputas religiosas entre israelenses e palestinos. A transferência, entretanto, não ocorreu. Foi aberta apenas uma representação comercial na Terra Santa, a partir da ameaça de palestinos e árabes de suspenderem importações de carnes brasileiras.
 
A promessa do presidente em atrair investimentos sem viés ideológico é elogiada por analistas. Eles esperam pragmatismo de Bolsonaro para fazer negócios. “O país precisa de investimento, mas o sucesso vai depender de como essa missão foi preparada. Não poderá ser uma coisa improvisada para dar uma boa impressão aos investidores”, diz a economista e especialista em comércio internacional Lia Valls Pereira, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). “Primeiro, o presidente precisa tentar reverter a imagem do Brasil na região árabe, a fim de colaborar com o trabalho que a diplomacia tem se esforçado para reverter o estrago do início do ano”, aconselha.
 
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