O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes do MBL (Movimento Brasil Livre), está alinhado com a autocrítica feita pelo grupo em relação à atuação que teve no passado. Segundo ele "o principal erro do MBL foi ter misturado pessoas de esquerda que haviam cometido crime e estavam mal-intencionadas com quem simplesmente era de esquerda e discordava da gente".
Sobre o presidente Jair Bolsonaro, diz que o MBL não vai "passar pano" quando ele errar, mas elogiará quando for o caso. Confira os principais trechos da entrevista de Kataguiri ao jornal O Estado de S. Paulo.
Recentemente, o MBL fez uma autocrítica, reavaliando a sua postura até agora e a relação com o presidente Jair Bolsonaro. Qual a sua posição nesta questão?
Para mim, na época do impeachment e do governo Temer, o principal erro do MBL foi ter misturado as pessoas de esquerda que tinham contato com o poder, haviam cometido crime e estavam mal-intencionadas com quem simplesmente era de esquerda e discordava da gente. Isso apequenou o debate público, muito catalisado por essa lógica de visibilidade, do espetáculo. Ainda hoje, mas mais ainda na época do impeachment, a briga chama mais a atenção do que a construção.
O senhor quer dizer que tem esquerda do bem?
Exatamente. Tem gente de esquerda que discorda diametralmente do que eu penso, mas é bem-intencionada, acredita realmente naquilo. Não está roubando nem sendo financiada com dinheiro de corrupção. Isso ajuda a fazer a construção política. Se você tiver um bom relacionamento e pensar em pautas que não vão gerar tanta controvérsia, é mais fácil aprovar os projetos. É um trabalho virtuoso, mas os parlamentares não têm incentivo para fazer isso, porque o eleitorado quer ver briga.
Como essa autocrítica afeta a postura do MBL em relação ao governo Bolsonaro?
A gente sempre teve uma postura crítica em relação ao Bolsonaro.
Que tipo de coisa o MBL deixou escapar do Bolsonaro?
No voto do impeachment, o Bolsonaro elogiou o (coronel Carlos Alberto Brilhante) Ustra (ex-chefe do DOI-CODI do II Exército). Aí, o (Fernando) Holiday (vereador em São Paulo, também ligado ao MBL) fez um vídeo, no qual criticava tanto o Bolsonaro quanto o deputado que havia citado o (Carlos) Marighella (guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional). Lembro que, entre nós mesmos, houve dúvida se a gente havia feito a coisa certa, porque provocou uma onda de ataques muito forte. Hoje, vendo em retrospectiva, acho que agora é consenso que deveríamos ter criticado mesmo e até ter criticado mais coisas. Agora, a gente pode compensar isso, se posicionando de forma clara em todas as pautas, em todos os erros do governo Bolsonaro, sem deixar de elogiar os acertos.
Na semana passada, o senhor foi atacado nas redes sociais por causa da derrubada do veto do presidente no projeto que criminaliza a divulgação de denúncias falsas nas eleições. Como o senhor vê esse tipo de ação?
O que estão divulgando é falso e expõe a canalhice de quem espalha esse boato.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..