Jornal Estado de Minas

''O PSDB não está morto'', diz novo presidente do partido em MG

Menos de um ano depois de sofrer uma derrota inesperada da disputa pelo governo de Minas para o estreante na Romeu Zema (Novo), o PSDB busca se reerguer, sob novo comando e quer recuperar o protagonismo político no estado.

Para isso, a legenda iniciou nesta semana as articulações para lançar candidatura à Prefeitura de Belo Horizonte. Em entrevista ao Estado de Minas, o novo presidente do partido, deputado federal Paulo Abi Ackel não quis antecipar nomes, mas disse ter opções “interessantíssimas” que podem surpreender. “A gente não está morto”, disse.


Nos bastidores, tucanos já apontam o nome da técnica Luísa Barreto e do deputado federal Eduardo Barbosa como possibilidades. Mais cotada, ela coordenou o plano de governo na campanha do senador Antonio Anastasia ao governo e é atual secretária-adjunta de Planejamento e Gestão no governo Zema.

Apesar de ela e outros tucanos ocuparem cargos na administração do Novo, Abi Ackel nega que o partido integre a base e afirmou não esperar qualquer apoio nas eleições. O parlamentar também falou sobre a situação do deputado federal Aécio Neves e a relação do PSDB de Minas com o de São Paulo.

 

O PSDB perdeu espaço nas últimas eleições, não tem mais o comando do governo de Minas e da Prefeitura de BH. É possível se reerguer?
É possível e estamos nos reerguendo.O partido tem muitas prefeituras fortes, mais de 15% dos vereadores do estado, mais de uma centena de prefeitos, duas centenas de vice-prefeitos, é a maior bancada de deputados federais, proporcionalmente falando, do Brasil e do estado. Temos cinco deputados de um total de 53 e São Paulo tem 6 em um total de 74.

O PSDB de Minas está mais vivo do que nunca. Claro, já fomos mais fortes, mas isso não quer dizer que não estejamos em condições de ter protagonismo nas próximas eleições. Não estamos mortos.



O partido ficou muito queimado com a Lava-Jato e com o envolvimento do senador Aécio Neves. O que precisa para se recuperar?
Todos os partidos sofreram com esses últimos tempos da política, essas revelações das operações, não teve nenhum que não tenha sentido os efeitos e isso aconteceu com o PSDB também. Mas basta ver a história recente da nossa vida político-partidária para saber que todos tiveram momentos de diminuição e aumento, isso é cíclico. Vamos voltar a ser fortes como já fomos. Trabalhamos para isso e não somos pequenos hoje, mesmo com todos os problemas.

Qual a estratégia para a próxima eleição à Prefeitura de BH?
Vamos ter candidatura própria.
Não temos nome ainda definido. Estamos fazendo algumas avaliações e tendo conversas, mas há nomes interessantíssimos e com vontade de serem candidatos pelo PSDB. Vamos surpreender.



O partido perdeu um nome, o do deputado estadual João Vítor Xavier, que foi para o Cidadania. Que outros nomes teria?

Não posso lançar uma candidatura agora, tenho que esperar o partido centrifugar um pouco essas ideias. Seria prematuro falar em nomes. Temos alguns políticos conhecidos que têm vontade e algumas lideranças novas despontando e que podem se transformar em figuras de expressão.

A ideia é ter candidatura própria em todo o estado?
Estou trabalhando muito nisso. Onde já temos prefeito com certeza (teremos), mas estamos focando muito em outras cidades onde não temos, como Ipatinga, Timóteo, Três corações, e tentando fortalecer o partido. Mas não podemos esquecer da nossa força no interior, estamos tentando fazer candidatura em quase todos os municípios.

Quando o sr.
assumiu o partido, houve críticas de parte dos tucanos à participação do PSDB no governo Romeu Zema. Como está essa divisão?

Os deputados estaduais estão liberados para votar com o Zema, isso não significa que o partido faça parte da base, o partido é independente e tem reafirmado essa condição. Não houve nenhuma conversa institucional do Zema ou de quem quer que seja ligado a ele com o PSDB, não temos uma indicação de cargo feita oficialmente pelo partido ao governo. A gente reconhece que o governo foi buscar no PSDB alguns nomes que aceitaram servir ao estado em caráter pessoal. Porque também vamos olhar o lado do governador, ele ia buscar no PT? Veio buscar no PSDB, o que é natural. Os membros do PSDB que estão emprestando sua experiência ao governo estão fazendo em caráter pessoal, assim como lá em Brasília, não sendo base temos também o Rogério Marinho, secretário nacional da Previdência, o relator da reforma é do PSDB, e eu vou votar pela reforma, mas não sou base do Bolsonaro.



Esperam algum apoio do governador na eleição?
Não. Nem está no planejamento do PSDB.

Como o senhor avalia a nova postura política de Zema e Bolsonaro?

Eles fazem a mesmas políticas que todos fizeram, com algumas modificações que podem até ser aproveitadas daqui pra frente. Vejo que Bolsonaro conseguiu algo novo da política recente, que é o fim do presidencialismo de coalizão, mas isso é algo de 20 e poucos anos para cá, é uma fase que terminou com ele. Não existe isso de nova política. Existe a boa política e a política malfeita, feita sem ética, de maneira incorreta.

Os tucanos tiveram um grande embate com o prefeito Alexandre Kalil na última eleição.
Acredita que vá se repetir ou pode ter alguma conversa com ele?

Acho improvável. Acredito que o PSDB vá ter candidatura própria e, portanto, é improvável que se alinhe a qualquer outro projeto.

Como está a relação do PSDB de Minas com o de São Paulo? O governador João Doria chegou a interferir aqui por uma aliança com o Zema quando se falou em rompimento...

Ele próprio reconheceu que não foi muito feliz em sua declaração e que os mineiros é que têm de decidir. É um fato vencido. A relação do PSDB de Minas com o Doria é excelente, estamos torcendo para que ele seja o candidato a presidente, mas ele não admite nem sequer falar nisso ainda. Terá de ter um bom desempenho em Minas, sem o qual é difícil vencer, e vamos contribuir no momento certo. Se vier a ser candidato, vamos apoiar e tentar dar maior votação.

Qual vai ser o papel de Aécio e Anastasia no trabalho de levantar o PSDB no estado?
Primeiro, a gente precisa enxergar o partido como uma agremiação muito mais ampla do que a ideia que se faz quando se analisa os dois últimos governadores. Temos uma militância muito bem consolidada, deputados prefeitos e vereadores no estado inteiro. É preciso relativizar os efeitos de problemas e soluções relacionados a Anastasia e Aécio. São membros do partido, assim como temos outros e temos a pretensão de continuar a ser muito fortes com ambos. O papel do Aécio enquanto deputado federal será igual ao dos outros deputados federais.
Com a experiência que tem é bom que seja sempre ouvido, igual ao Anastasia. Temos a expectativa de ter o Anastasia cada vez mais participativo em relação aos temas do PSDB.

O Anastasia pode sair do PSDB?

Tenho que lidar com a realidade. Ele lida com os projetos do partido na rotina, foi à convenção, fez um belo discurso, está muito atuante, vejo o Anastasia muito participativo no partido.

O PSDB perdeu o espaço de contraponto à esquerda para a extrema-direita, com a eleição de Bolsonaro e Zema. Como recuperar?
Perdemos a capacidade de ser a alternativa ao PT. Tivemos alguns erros talvez, mas tenho a impressão de que o PSDB vai protagonizar essa volta ao equilíbrio e ao centro, que é a média do pensamento do brasileiro. O brasileiro não é de radicalismos políticos, conviveu bem com uma inclinação à esquerda na época do governo Lula, mas rechaçou quando começou a ficar muito inclinado. Temos o pensamento político no centro. E também não é à direita, tem uma parcela, mas não é a maioria. Acho que a população brasileira consegue voltar a convergir para o pensamento de centro.

O senhor define o PSDB hoje como um partido de centro-direita ou centro-esquerda?
No auge da popularidade do Lula talvez tenhamos feito algum discurso mais inclinado para o centro-direita, mas uma coisa muito pequena. Temos sempre nos posicionado como um partido de centro e a gente não tem incoerência: a gente vem defendendo a reforma da Previdência, a tributária, a do pacto federativo desde depois do Plano Real. O PSDB pode ter defeitos mas nunca se afastou do seu ideal que é inclusive um estado mais leve, tanto que privatizamos tudo que foi possível no governo Fernando Henrique.

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