Jornal Estado de Minas

Militares e trabalhadores rurais devem entrar na reforma da Previdência, defende auditora

A economista, contadora e auditora federal de Finanças e Controle da Secretaria de Tesouro Nacional Selene Peres Nunes afirmou que, sem a reforma da Previdência, o país não tem futuro. A técnica colocou a inclusão dos estados nas mudanças como essencial para o sucesso da reforma proposta. Em painel sobre empregos no seminário sobre a reforma promovido pelos jornais Estado de Minas e Correio Braziliense, ela defendeu que os trabalhadores rurais e os militares sejam incluídos na reforma. “Tá ruim para todo mundo mas pelo menos vai ser ruim por igual”, disse.

Segundo ela, o corte de gastos não seria suficiente para resolver o rombo nas contas públicas do Brasil.“Se a gente não equacionar as contas públicas os empresários não vão investir porque não estão enxergando estabilidade neste modelo.” Selene Peres fez referência ao contingenciamento de verba para a educação e ao “auê” que ele causou.

De acordo com ela, a Previdência começou a ser deficitária em 1995 e reformas começaram a ser feitas, mas foram “modestas” e “insuficientes”. Com o deficit crescente, segundo ela, o estado foi perdendo sua capacidade financeira, e esse é um quadro também dos estados. “Sei que a gente vive um período de obscuridade, que tem pessoas que dizem que a terra é plana e vacina vai matar, mas também tem gente que olha para os números e não enxerga o deficit”, afirmou.

A técnica afirmou ainda que para haver capitalização, é preciso ter uma blindagem dos fundos garantidores. Selene Perez também disse que é preciso haver correção na folha do serviço público para evitar mais gastos no futuro.

O diretor técnico do Sebrae Bruno Quick abriu painel sobre crescimento e emprego afirmou que a falta de vagas é uma trava para o desenvolvimento do país. Ele falou do programa Simples Nacional, que permitiu a criação de 11,8 milhões de postos de trabalho e que o Brasil é um país de pequenas empresas.
Para ele, a reforma da Previdência é “absolutamente necessária para os pequenos negócios e para gerar renda no Brasil”.

O mestre em economia pela UFRJ e economista do BNDES Fábio Giambiani disse que o Brasil está cometendo um suicídio em slow motion e disse que o Brasil vive um momento de exaustão do estado. Para ele, o Brasil foi invadido pela falta de otimismo. “Todos conhecemos amigos e parentes que dizem: 'O Brasil não vai dar mais certo, vou cuidar da vida, migar pra Miami. O dia a dia se torna mais sombrio, triste e difícil para todos'”, afirmou. Giambini disse que a reforma é necessária para dar uma sensação de segurança e previsibilidade para o empresariado que permita trazer de volta investimentos ao país.

O consultor legislativo do Senado Pedro Nery falou da despesa da Previdência como um impeditivo para o crescimento do país e disse que o país tem um grande desequilíbrio a ser sanado. “Desde que este seminário começou, às 9h30, a Previdência gastou R$ 4 milhões. Essa é a magnitude da despesa que estamos falando”, afirmou.
Para ele existe ceticismo em relação ao efeito da reforma e se um governo eleito com grande apoio popular não conseguir concluir a mudança o pessimismo só vai aumentar.

Último a falar no painel, o presidente do Fundo Paraná de Previdência Multipatrocinadora Renato Follador disse que não existe hipótese de sucesso sem planejamento e defendeu a ampliação do projeto do governo, com a definição de mudanças estruturais. Criador de fundos de pensão no país, ele disse que desde 1998 participa das reformas e considera que o país é pobre de visão estratégica. “O destino do país vai ser péssimo se não aprovar a reforma da Previdência”, disse.

Entre as fragilidades da atual reforma, ele colocou o problema da comunicação. Segundo ele, não basta ser uma boa proposta, ela precisa ser bem comunicada. Follador disse que a alíquota progressiva é elogiável, mas não se pode passar a alíquota do servidor público de 11% para 22%. Para ele é "surreal" querer enfrentar as corporações com mudanças desta magnitude. Outra crítica feita por ele foi às regras de transição, que deixariam a população sem saber com que critérios vai se aposentar.
"Estou falando como crítica construtiva, no sentido de que pode ser modificada ainda no Congresso", disse. 

 

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