Parlamentares do Centrão passaram a defender, em conversas reservadas, a recondução da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao cargo. O motivo é o temor de que o presidente Jair Bolsonaro escolha um nome mais "linha-dura" para a sua sucessão.
Desde que assumiu a Procuradoria-Geral da República, em setembro de 2017, indicada pelo ex-presidente Michel Temer, Raquel desacelerou a homologação de acordos de delação premiada e pediu a rescisão do que foi feito com executivos da J&F. O grupo também vê a "discrição" como "atributo" da procuradora-geral.
Com uma base de apoio de 230 deputados na Câmara, o Centrão tem emparedado o governo sucessivamente. A lógica seria pressionar o Executivo até que comece a atender aos pleitos dos parlamentares.
A escolha da chefia do Ministério Público Federal é um tema sensível ao grupo, pois parlamentares de siglas que compõem o bloco, como PP e PSD, são alvo da Lava Jato e outros inquéritos no Supremo Tribunal Federal. O nome indicado por Bolsonaro precisará ser aprovado pelo Senado.
O mandato de Raquel vai até setembro. Embora não tenha submetido seu nome para compor a lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), ela continua no páreo, pois o presidente já indicou que não pretende seguir a sugestão da entidade.
Denúncia
Pesa contra Raquel, porém, o fato de ter denunciado Bolsonaro por racismo. O motivo foi uma declaração do presidente de que "quilombolas não servem nem para procriar".
A reportagem ouviu dois ministros que acompanham as discussões e têm aconselhado Bolsonaro. Um deles diz que Raquel é um nome a ser considerado. Outro vai além e afirma que a atual PGR é uma candidata forte e natural à recondução.
Para o advogado-geral da União, André Mendonça, a discussão sobre a sucessão da procuradora-geral da República é prematura. "No momento oportuno, certamente isso vai ser discutido e o presidente Bolsonaro vai tomar uma decisão que considere os interesses do País", disse.
Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro afirmou que seu único critério para a escolha seria o de um nome sem "viés ideológico de esquerda".
"O critério é a isenção.
Nessa linha, corre por fora da lista da ANPR o subprocurador-geral Augusto Aras, que fez acenos a Bolsonaro em entrevistas recentes. Em outra frente, também está na lista o nome do procurador regional Vladimir Aras, que atuou como coordenador de cooperação internacional na gestão de Janot.
A eleição da lista tríplice da ANPR está marcada para 18 de junho. Os candidatos farão o primeiro debate público na sede da Procuradoria Regional da República no Pará, em Belém, na próxima segunda-feira.
Regra
Desde 2003, primeiro ano da era Lula, o nome mais votado da lista tríplice é escolhido para comandar o Ministério Público. A regra, que não está prevista em lei, só foi quebrada em 2017, pelo ex-presidente Michel Temer, ao indicar Raquel, a segunda colocada na lista da associação.
Também estão no páreo neste ano, o ex-presidente da ANPR José Robalinho, os procuradores regionais Lauro Cardoso e Blau Dalloul, além dos subprocuradores Mário Bonsaglia, Paulo Bueno, Antonio Carlos Fonseca e Nívio de Freitas. As informações são do jornal O Estado de S.