Jornal Estado de Minas

POLÍTICA

Condenações de Gentili na Justiça abrem debate sobre liberdade de expressão

As condenações do humorista Danilo Gentili após mensagens publicadas na internet críticas aos deputados Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Maria do Rosário (PT-RS) suscitaram um debate sobre liberdade de expressão.

Gentili foi condenado pela Justiça do Rio a indenizar Freixo em R$ 20 mil por postagens sugerindo que o parlamentar agride mulheres, o chama de "farsa" e o relaciona com black blocs. "E seus black blocks? Mataram mais alguém esses dias?", escreveu.

Na quarta-feira, 10, foi condenado a seis meses e 28 dias de detenção, em regime inicial semiaberto, por crime de injúria contra a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) - mas pode recorrer da sentença em liberdade. O motivo da condenação foi mensagens de 2016 chamando-a de "falsa", "cínica" e "nojenta".

Humoristas como Fabio Porchat, Marcelo Tas e Tom Cavalcante se solidarizaram com o colega. Porchat diz que achou as sentenças autoritárias, arbitrárias e perigosas. Marcelo Tas afirmou que "quem perde é a liberdade de expressão" e Cavalcante disse que o "mal entendido" deveria ser corrigido.

O presidente Jair Bolsonaro usou as redes sociais para comentar a decisão. "Me solidarizo com Danilo Gentili ao exercer seu direito de livre expressão e sua profissão, da qual, por vezes, eu mesmo sou alvo, mas compreendo que são piadas e faz parte do jogo, algo que infelizmente vale para uns e não para outros".

Em entrevista à rádio Jovem Pan, Gentili disse não acreditar que será preso. "Se você me perguntar: 'você vai ser preso mesmo?' É praticamente impossível que eu seja preso. Cabe recurso e tudo mais, mas se me perguntasse uma semana atrás: 'Você acha que vai ser condenado à prisão? (...) E fui...

Vai saber", disse. Ele destacou o fato de mais gente estar discutindo o tema agora. "Pessoas que durante todo esse tempo ficaram quietas começaram a manifestar apoio e tudo mais, vamos ver o que vai dar".

O advogado criminalista Daniel Gerber ressalta que não propaga a "liberdade irrestrita" e defende que deve haver indenizações em alguns casos, mas avalia que condenações criminais podem abrir precedentes. "Uma condenação indenizatória é cabível, por dano material ou moral, mas não uma condenação criminal", questiona.

"O cidadão brasileiro se acostumou a um discurso de ódio nas redes sociais difícil de ser equiparado, mas, ao aplaudir uma condenação como essa, ele volta contra si o mesmo canhão que condenou o humorista", afirmou. "O que se aplica para um, se aplica para os outros 200 milhões de brasileiros".

Segundo Gerber, a Constituição Federal, que é posterior às normas do Código Penal, prevê os direitos de liberdade de expressão e estipula as penas para casos de ofensas. "A Constituição não recepciona normas inferiores que estejam contradizendo a pauta.
É ela quem manda. Então, entendo que ela fixa um teto de sanção". Ele acredita, inclusive, que trata-se de um caso em que o Supremo Tribunal Federal (STF) deveria se manifestar. "A decisão na Suprema Corte pode levar a um divisor de águas na história dos crimes contra a honra no Brasil".

'Liberdade é não ferir os demais'

Na avaliação do filósofo e professor Roberto Romano, da Unicamp, a maneira como Danilo Gentili se expressou em relação aos dois parlamentares configura afronta à liberdade de expressão. Segundo ele, a premissa da liberdade é não ferir os demais nem prejudicar suas existências.

"Se você é nazista e prega a morte de judeus, de negros, de homossexuais, não está exercitando sua liberdade: está agredindo e pregando a destruição da existência alheia", diz.

Para Romano, a liberdade de expressão encontra limites quando há práticas como calúnia, injúria e difamação. "É preciso ter prudência e pensar se as posições exprimem uma discordância ou se são tentativas de diminuir a dignidade ética, moral e social do outro. Atacar a integridade moral é crime", afirmou..